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La Jornada: Estados Unidos e a impunidade perpetuada

Numa votação dividida, cinco contra quatro, o Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos recusou julgar dois altos funcionários da administração de Geroge Bush, o ex-Procurador Geral daquele país, John Ashcroft, e o actual director Departamento Fed

O tribunal superior do país vizinho revogou assim a decisão de um tribunal federal de recurso de Nova Iorque que tinha decidido que Mueller e Ashcroft podiam ser responsabilizados pelos maltratos a que foram submetidos centenas de imigrantes muçulmanos – entre eles o denunciante Javaid Iqbal –, detidos depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, e, posteriormente, processados por violações às leis migratórias e outros delitos menores, sem que se tivesse podido provar qualquer vínculo com o terrorismo.



O próprio Iqbal, depois de ter estado vários meses numa prisão de Brooklyn, privado de cuidados médicos e submetido a situações humilhantes e tareias sistemáticas – segundo o seu depoimento –, foi declarado culpado de fraude e, finalmente, deportado para o Paquistão, seu país natal.



A decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos tem implicações escandalosas e inaceitáveis, porque proporciona uma cobertura à impunidade, apesar dos protestos de diferentes organizações humanitárias internacionais e de amplos setores da sociedade estadunidense, não obstante as sobejas evidências de uma inumerável quantidade de atropelos perpetrados por funcionários civis e militares estadunidenses, no contexto da “guerra contra o terrorismo”, abusos que, dificilmente, poderiam ter acontecido sem o conhecimento, e a anuência, de altos funcionários da administração Bush.



Ao que foi acima dito deve acrescentar-se as recentes declarações da presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, que acusou a Agência Central de Inteligência [CIA, na sua sigla em Inglês] de ocultar ao Congresso do país vizinho a aplicação de técnicas de tortura aos “combatentes inimigos” capturados depois das invasões do Afeganistão e do Iraque, e depois ter reconhecido que estava a par das ditas práticas desde 2003.



Estes fatos, no seu conjunto, mancham severamente a imagem do sistema de justiça dos Estados Unidos, já há muito denegrido; denunciam as instituições do poder Judicial e Legislativo daquele país como garantes da impunidade – quer por ação quer por omissão – e, ao fim e ao cabo, desgastam a credibilidade do projeto político de Barack Obama, que chegou à Casa Branca há já quase quatro meses, com a promessa de sanear a vida institucional dos Estados Unidos e tirar esse país da bancarrota política e moral em que se encontra, como saldo da desastrosa era Bush.



Quanto à sentença judicial, não pode passar-se um pano sobre a absolvição dos citados funcionários, pois, se no imediato e em termos políticos, ela pode ser conveniente para o próprio Obama por reduzir as pressões dos falcões de Washington, de que um dos representantes, o ex-vice-presidente Dick Cheney, adquiriu nos últimos dias notoriedade midiática como crítico virulento da atual administração.



Está no entanto claro que, se o presidente estadunidense não encontrar forma de reverter a sentença proferida pelo Supremo Tribunal, esta acabará rapidamente por deteriorar a confiança que nele depositaram os eleitores da nação vizinha e amplas faixas da população mundial.



Editorial do diário mexicano La Jornada de 29 de maio, tradução de José Paulo Gascão para o site O Diario.info