PCdoB vai a seminário sobre atuação da esquerda em governos
Afinal, é proveitosa a participação da esquerda no poder ainda que em governos não-revolucionários? A pergunta não é nova e segue sendo polêmica, mas o seminário “A esquerda no governo”, realizado em maio pela Fundação Rosa Luxemburgo em Bruxelas, na Bélg
Publicado 29/05/2009 18:52
Ainda que as opiniões tenham se dividido basicamente em duas matrizes – a que defende a participação da esquerda em governos democráticos e populares e a que acredita que a esquerda deve apenas estar em experiências revolucionárias – o debate “apresentou um mosaico de posições que serviram para o intercâmbio sobre experiências passadas e atuais”, colocou José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais do PCdoB, um dos partidos convidados para o evento.
Pelo Brasil, também participaram Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, e Iole Ilíada, diretora da Fundação Perseu Abramo. O seminário contou ainda com forças políticas, fundações e intelectuais de várias partes do mundo, como Equador, Paraguai, Bolívia, El Salvador, Uruguai, Venezuela, Chile, Argentina, Cuba, Alemanha, Bélgica, Noruega, Itália, França, Chipre e Suécia.
Debate diante da crise
A discussão ganha relevo especial na atual conjuntura em que a crise explicitou, de maneira inequívoca, as debilidades estruturais do capitalismo, abrindo caminho para a construção de alternativas diferenciadas, notadamente a socialista. Em sua apresentação, José Reinaldo disse que devido a peculiaridades nacionais, a administração de Luiz Inácio Lula da Silva, iniciada em 2003, “não conseguiu avanços que resultassem numa ruptura ou em mudanças estruturais na sociedade”.
Mas, ressaltou, “o Brasil tem conseguido avançar na ampliação e elevação da democracia, na defesa da soberania nacional, numa política externa independente, na defesa da integração latino-americana e no exercício de uma política social de luta contra a pobreza”. Por essa razão, o PCdoB tem defendido a gestão Lula e a continuidade desse ciclo. “Os comunistas estão levando adiante uma política de unidade e de luta com o governo. Ao mesmo tempo, impulsionam a luta por mudanças estruturais apontando as rupturas necessárias para levar o país a seguir a trilha do socialismo”.
Ele explicou ainda que “conscientes de que não existe linha reta para o socialismo, os comunistas brasileiros propõem um programa de luta política e social contemplando dois níveis: uma plataforma de resistência com o objetivo de defender os direitos dos trabalhadores, as massas populares e a soberania nacional e um programa político que guie o trabalho na construção do socialismo e que implique numa acumulação revolucionária de forças”.
Valter Pomar, por sua vez, fez um histórico das lutas na América Latina e destacou: “nos anos 1980 e 1990, a maior parte da esquerda latinoamericana faz uma autocrítica da estratégia da guerra de guerrilhas. Simultaneamente, de maneira consciente ou não, começa a se forjar outra estratégia baseada na combinação entre a luta social e a luta eleitoral”. Pomar lembrou que “esta estratégia produz, a partir de 1998 e até 2009, uma conjuntura totalmente nova na América Latina, cuja principal característica é a presença de partidos de esquerda em grande número de governos nacionais da região”.
O dirigente petista ainda criticou as correntes mais radicais ao dizer que “ao contrário do que dizem os esquerdistas, a luta eleitoral criou um ambiente estratégico novo na América Latina, dificultando as ingerências externas e criando um ambiente melhor para a radicalização social em cada país”.
Integração contra o capitalismo
Na avaliação de Dag Seierstad, membro do Partido Socialista de Esquerda da Noruega, “partidos políticos de esquerda de toda a Europa se levantaram contra a onda neoliberal. Mas, não fomos capazes de evitar que as políticas neoliberais estragassem a estrutura social de nossas sociedades”. Para ele, “enquanto estivermos distantes de ter a maioria nos parlamentos, nossos partidos não poderão decidir questões referentes ao conteúdo dos pressupostos nacionais nem fazer leis”.
Seierstad disse ainda que “sabemos como construir alianças com sindicatos e movimentos sociais. Mas, essas alianças raramente ganham maiorias parlamentares. E como não podemos esperar conseguir maiorias por nossa conta – como um partido de esquerda – nossa meta deve ser criar alianças de esquerdas com força suficiente para ganhar essas maiorias nos parlamentos”. Ele citou como exemplo a vitória conseguida em seu país nas eleições de 2005, quando uma aliança entre Partido Trabalhista, Partido Socialista de Esquerda e Partido de Centro conseguiu maioria no Parlamento e estabeleceu um governo de coalizão.
Graciela Garcia, dirigente da Frente Ampla do Uruguai, defendeu a união de forças de esquerda e progressistas para o desenvolvimento de seu país e ressaltou: “não haverá desenvolvimento nacional sem integração regional, nem impulso da inserção internacional, se não pela conformação de um bloco de nações latinoamericanas para melhorar o poder de negociação ante o mundo desenvolvido, um projeto que se mostra imperativo para o Uruguai e demais países”.
Pedro Paez, presidente da Comissão Técnica Presidencial Equatoriana para o Desenho da Nova Arquitetura Financeira, analisou a realidade atual focando nos atores do neoliberalismo, responsáveis pela atual crise econômica. “A forte presença de tendências reacionárias em todas as partes do mundo em uma rede de lealdade ideológica, política e pecuniária é encabeçada pelos principais beneficiados pela crise: uma estreita oligarquia anglo-saxônica ligada a interesses especulativos, militares e energéticos”. Paez colocou ainda que “paradoxalmente estes atores sociais, responsáveis fundamentais pela crise atual, aprenderam cuidadosamente as lições da história para utilizar a seu favor”.
Para ele, somente “transformações sistêmicas de grande profundidade podem oferecer saídas às tendências depressivas. É importante situar que o colossal processo de centralização de capital e de poder das últimas décadas, exacerbado nos últimos meses, define as prioridades de rentabilização muito diferentes. Frente à crise, a guerra é a solução mais fácil, mais barata e mais rentável para essas máfias. Por isso, deve se estudar não somente a crise do capitalismo, mas também o capitalismo da crise”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte