Ao menos 38 mortos em protesto de indígenas no Peru
Ao menos 38 pessoas morreram e 50 ficaram feridas entre indígenas e policiais nesta sexta-feira durantes fortes confrontos na província de Bagua, norte do Peru. A polícia atirou de um helicóptero contra um protesto de indígenas amazônicos. O movimento rec
Publicado 05/06/2009 21:55
Os indígenas awajún-wampis iniciaram seu protesto em abril para exigir a eliminação do Decreto Supremo 1090, de autoria do presidente Alan García. Este alega que o objetivo é elevar o investimento privado em zonas ricas em recursos naturais, como petróleo e gás. Os indígenas acusam o governo de cobiçar suas terras. O decreto faz parte de um pacote de medidas no âmbito do TLC (Tratado de Livre Comércio) assinado entre o Peru e os Estados Unidos.
Helicóptero disparou contra protesto
''Quero responsabilizar o governo do presidente Alan García por ordenar o genocídio. Eles estão atirando balas em nós como animais'', disse o líder dos nativos da região, Alberto Pizango, durante coletiva com a imprensa estrangeira. Pizango é presidente da Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana).
O confronto começou às 5 horas da manhã, na localidade conhecida como Curva del Diablo, Bagua Chica, na província de Bagua. Havia pelo menos 5 mil indígenas bloqueando a Rodovia Belaúnde Terry quando foram atacados. Pizango disse que a Polícia Nacional iniciou a violência. ''Estivemos tranquilos, até que a polícia começou a meter bala'', descreveu.
Com voz pausada e comovida, Pizango declarou: ''Quero dizer que estou com ordem de prisão. Quero dizer que meu direito está sendo violado. O governo violou a Constituição, portanto o governo deve responder por esse assassinato.''
O líder indígena afirmou ainda que seus companheiros foram mortos por disparos realizados pela polícia a partir de um helicóptero. O conflito se prolongou por toda a manhã, com os indígenas recuando para a cidade de Bagua, onde puseram fogo em sedes da Apra, o partido de García.
Oposição quer sessão extraordinária
A ministra do Interior, Mercedes Cabanillas, disse a jornalistas que há nove policiais mortos, enquanto fontes médicas da cidade de Chachapoyas elevaram para 25 as vítimas fatais entre os manifestantes, e ainda três jornalistas mortos.
Os protestos obrigaram a estatal Petroperu a suspender temporariamente o único oleoduto que transporta petróleo da selva norte até a costa do Pacífico. A argentina Pluspetrol parou após sua produção no norte do país devido à falta de capacidade de armazenamento.
No Parlamento, a oposição solicitou uma sessão extraordinária para debater a revogação do Decreto Legislativo 1090, que é o alvo do protesto camponês. Assinaram a solicitação deputados do Bloco Popular, União pelo Peru, Aliança Parlamentar e Unidade Nacional.
Para a ministra, ''nativos não são santos''
O presidente García disse mais cedo a jornalistas que responsabiliza ''qualquer evento lamentável'' na zona de conflitos aos dirigentes dos nativos, que ''instigam'' a violência apoiados por políticos opositores ao governo.
Mercedes Cabanillas culpou os indígenas pelo episódio. ''Estamos em um processo de manipulação política. Os nativos não são nenhuns santos, atiraram na polícia. O
Estado de Emergência tem que ser ampliado para outras zonas e as Forças Armadas devem participar'', disse Mercedes, antecipando uma escalada da violência repressiva.
O vice-ministro da Justiça, Erasmo Reyna, também tentou desqualificar o movimento. ''Isto não são atods de protesto, mas de destruição, porque houve mortos, entre eles policiais e civis inocentes'', comentou.
Entidades peruanas de direitos humanos contestaram a versão oficial. Afirmam que os indígenas não têm armas de fogo e que Alan García mandou ''desocupar a estrada como der''.
Da redação, com agências