Sem categoria

Eduardo Guimarães: como fortalecer a blogosfera

Estive, na noite de ontem (4), em reunião com um reduzido grupo de blogueiros. Não importa quem são, apesar de serem jornalistas de relevo. O que importa é o que discutimos e que pretendemos que seja o embrião de uma ação que dê maior visibilidade à bl

Mas de que blogosfera estivemos falando, afinal?


 


Primeiro, vamos definir um aspecto crucial desta questão: estamos falando do jogo do poder. Basicamente, portanto, o foco são os blogs políticos. Mesmo aqueles blogs que discutem política e outros assuntos, no fim das contas seus públicos estão mais interessados é em política mesmo.


 


Houve um consenso, nessa reunião de que falei, de que esses blogs todos decorreram da falta de espaço jornalístico à esquerda e à centro-esquerda na mídia corporativa. Gente que passou a vida tendo que ouvir a direita falar o que queria e pautar o debate público, com a internet ganhou meio de dizer o que a mídia nunca permitiu que fosse dito, ainda que podendo dizer para poucos.


 


Esse movimento de insatisfação gerou a blogosfera, um universo de páginas na Web de autoria de cidadãos de todas as partes do país que querem dizer o que nunca lhes foi permitido.


 


E é aí que está a questão: como dar visibilidade a tantos blogs? Ninguém nem sabe quantos são… Há blogs regionais e nacionais; há blogs de qualidade jornalística (sobretudo no que tange ao uso da linguagem escrita) e outros absolutamente amadorísticos; há blogs com milhares de leitores e outros que não agregam mais do que algumas dezenas; há blogs de acadêmicos, de jornalistas, de ativistas políticos e de cidadãos absolutamente desvinculados da política que apenas querem participar dos grandes debates.


 


Com tal diversidade e amplitude numérica de blogs, como falar em uma só blogosfera?


 


Primeiro, é preciso entender que essa blogosfera específica de que tratamos não inclui os blogs corporativos, ou seja, bancados por grandes grupos de mídia. E nem são blogs necessariamente alinhados com a opinião midiática, que é uníssona e que predomina nos grandes jornais e tevês.


 


O iG, por exemplo, oferece diversidade opinativa, o que não se encontra no UOL ou no G1. Há um Luis Nassif no iG, só para economizar nos exemplos. São blogs que já têm espaço e visibilidade garantidas, porque são anunciados por grandes portais e, claro, porque têm qualidade profissional, quase sempre.


 


Claro que, dos grandes portais, só iG e Terra oferecem maior diversidade opinativa. Mas esses blogs desses portais têm como ganhar maior visibilidade, pois são bancados financeira e logisticamente por grandes grupos de mídia.


 


A blogosfera como a defini acima, porém, tem uma característica: é de centro-esquerda. Ninguém conhece um blog não-corporativo de renome que seja de direita. Há uns dois ou três blogs de ultra-direita medianamente conhecidos, mas anônimos e, portanto, sem credibilidade. Além disso, limitam-se a imitar o blog de Reinaldo Azevedo.


 


Chega-se à segunda conclusão, portanto, de que a blogosfera é essencialmente de centro-esquerda — a esquerda mais extremada não é vista com tanta facilidade nesse universo de blogs.


 


Outra conclusão: parte expressiva da blogosfera é virtualmente invisível. O público ainda restrito dela consegue ler o quê, uns dez ou 15 blogs? E esse público transita de um para o outro.


 


Ano passado, o prêmio iBest mostrou tudo que estou dizendo: os blogs de direita ficaram para lá do 20º lugar. Por isso, desqualificaram o certame dizendo que foi uma fraude. E penso que, devido à supremacia esmagadora dos blogs de centro-esquerda no iBest, este ano não houve a premiação.


 


Este blog, por exemplo, foi alçado ao sexto lugar entre cerca de 60 blogs. Ganhou uma visibilidade enorme. Praticamente triplicou seu público. Ou seja: o iBest, do iG, um veículo corporativo, deu visibilidade a quem não interessava.


 


A blogosfera tem, pois, um potencial enorme para se transformar numa poderosa fonte de contra-informação contra a mídia corporativa. Por essa razão, ela trata de tentar esconder o fenômeno o mais que pode.


 


Minha opinião, portanto, é a de que há que difundir o hábito de ler blogs para esse público incomensuravelmente maior que não vai além dos grandes portais de internet. A expressiva maioria dessa massa de pessoas (um UOL chega a atingir o milhão de acessos únicos com facilidade) fica exposta apenas ao discurso midiático.


 


Para despertar o interesse do grande público da internet pelos blogs, há que aproveitar aqueles com maior evidência como exemplo de que a leitura de blogs deve ser incorporada ao hábito de quem busca se informar pela internet. E lembremo-nos de que estamos falando de um público que já supera o dos meios de comunicação tradicionais como os jornais e as revistas.


 


É preciso criar fatos de impacto que dariam uma dimensão do que pode ser encontrado na blogosfera, de maneira que os blogs com maior visibilidade assumiriam o compromisso de, paulatinamente, irem divulgando também blogs de menor expressão que têm inegável bom conteúdo. Claro que sob os critérios de cada blogueiro.


 


Mas difundir o hábito de confrontar a informação corporativa com a informação alternativa dependerá de se mostrar uma diversidade menor de blogs que serviriam de amostra e chamariz para o público, aí sim, começar a explorar mais profundamente a blogosfera.


 


Blogs que estão na casa das dezenas de milhares de leitores passariam a ter centenas. Os que estivessem na casa dos milhares passariam a ter dezenas de milhares, e os que têm centenas passariam ao milhar, sem falar no fato de que alguns blogs muito bons, com potencial para ter leitorados muito maiores, poderiam pular de centenas para dezenas e até centenas de milhares de leitores.


 


Há que combater a baixa qualidade, que desmoraliza a blogosfera. Um leitor que, pela primeira vez na blogosfera, caia num daqueles blogs que se limitam a reproduzir notícias que estão em toda parte ou que seja mal escrito, pode desistir de todos os blogs.


 


Como a criação de blogs é independente e prolifera de forma “anárquica”, fica difícil de impor “regras”. Em boa medida, é salutar que seja assim. Mas, em tão boa medida quanto, esse é um complicador da missão descomunal de fazer da blogosfera um hábito do consumidor de notícias e opiniões sobre o jogo do poder. E esse é um universo de leitores que, num país tão populoso, chega aos milhões.


 


Para dar visibilidade a essa “amostra” do que são os blogs, será preciso pensar em ações de impacto — e esta é a segunda parte dessa discussão que iniciei ontem. Há planos sobre como promover tais ações impactantes, planos que ainda se encontram em gestação. Contudo, estou convencido de que este caminho que sinalizei, é viável.


 


Daqui em diante, exponho esta discussão ao vosso crivo e às vossas contribuições. Obter tais contribuições, aliás, é o objetivo deste post.