Grupos rivais fazem manifestação em Teerã
Dezenas de milhares de pessoas, tanto da oposição quanto da situação, fizeram nesta terça-feira (16) novas manifestações na capital iraniana, Teerã, aumentando os temores de possíveis conflitos entre os dois grupos.
Publicado 16/06/2009 20:07
Milhares de pessoas se reuniram em um evento organizado pelo governo, na praça Vali Asr, no centro de Teerã, enquanto uma demonstração de tamanho semelhante era organizada por simpatizantes da oposição no norte da cidade.
A televisão pública do Irã mostrou uma multidão de milhares de manifestantes no evento programado pelo governo, enquanto o resto da mídia não estava permitido a filmar o protesto da oposição.
''Foram dois eventos completamente diferentes'', disse o correspondente da al-Jazira Teymoor Nabili, que esteve presente às duas manifestações.
''A manifestação pró-Ahmadinejad no sul da cidade foi uma coisa muito mais organizada. Eles puseram lá uma pequena plataforma e havia oradores por lá'', disse.
Ele disse que, ao contrário, a demonstração oposicionista foi bem menor e ocorreu a seis ou sete quilômetros dali, e aconteceu quase ''em completo silêncio''.
''Estavam planejando a cantar a partir das 22h destra noite'' afirmou.
Protestos rivais
Manifestantes pró-Ahmadinejad exigiram que o governo acabasse com a posição, enquanto seus rivais oposicionistas protestavam contra o que chamavam de ''roubo de votos'' na eleição presidencial, que resultou em uma estrondosa vitória do atual presidente e candidato da situação Mahmoud Ahmadinejad, sobre seu rival Mir Hossein Mussavi.
Sete pessoas foram mortas em conflitos durante a grande manifestação oposicionista realizada na última segunda-feira.
Mussavi pediu a seus apoiadores que não participassem das manifestações de terça-feira, em meio ao temor de novos conflitos com mortes.
Em uma mensagem divulgada por seu website, pediu que seus apoiadores ''exercitassem a paciência''.
Sadegh Zibakalam, analista político iraniano, disse que o governo fez o protesto desta terça-feira em resposta ao movimento de oposição.
''O governo não quer parecer tão suave, tão tolerante, é por isso que convocou essa manifestação e pediu que seus simpatizantes se reunissem na praça onde os apoiadores de Mousavi haviam decidido se encontrar'', disse ele à al-Jazira.
''Colocando nas ruas essa multidão, o governo tenta cumprir dois objetivos. Quer demonstrar que é firme no tratamento desta crise, e, por outro lado, que foi convocado pelos seus manifestantes a dissolver os protestos'', analiza.
''De certa forma, é uma justificativa que dá para a morte de sete pessoas na noite de segunda-feira''.
Possível recontagem
Os protestos aconteceram poucas horas depois que o poderoso Conselho dos Guardiões afirmar que poderia ordenar uma nova recontagem caso encontrasse irregularidades.
O parlamento votou negativamente à possibilidade de recontagem, mas a atitude do Conselho parece ser uma primeira concessão ao movimento pró-Musavi.
Um dos porta-vozes do Conselho, um organismo constitucional formado por 12 membros, composto por clérigos e especialistas na lei islâmica, afirmou que o organismo somente ''estava pronto para recontar os votos reclamados por alguns candidatos, na presença de seus representantes''.
''É possível que haja alguma mudança no total após a recontagem'', disse Abbasali Kadkhodai.
''Baseado na lei, a demanda dos candidatos a favor do cancelamento da eleição não pode ser considerada'', completou.
Mídia tolhida
Em Washington, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, afirmou que acreditava que as ''vozes das pessoas deveriam ser ouvidas e não suprimidas'', mas disse também que não quer ser visto como um ''intrometido'' em relação aos assuntos internos do Irã, devido ao histórico entre os dois países.
O Irã tem ficado cada vez mais sensível ao modo como o mundo vê as crescentes tensões políticas e, em seguida, restringiu o trabalho de jornalistas estrangeiros no país.
A televisão do Estado afirmou terça-feira cedo que os ''principais agentes'' do levante pós-eleitoral tinham sido presos, carregando explosivos e armas.
Gholamhossein Mohseni-Ejei, ministro da Inteligência do Irã, afirmou que seu ministério tinha apreendido dois elementos, que procuravam criar instabilidade no país, um dos quais apoiado por forças externas.
A despeito do levante no Irã, o presidente reeleito Mahmud Ahmadinejad viajou nesta terça-feira para a Rússia, para um encontro da Organização de Cooperação de Xangai, sua primeira viagem oficial desde que os resultados da apuração mostraram sua vitória, assegurando mais um mandato de quatro anos.