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Aldo e Vaccarezza debatem 2010 em SP; na plateia, Protógenes

Em debate público onde participou o delegado Protógenes Queiroz, os deputados federais Cândidos Vaccarezza (PT) e Aldo Rebelo (PCdoB) coincidiram amplamente sobre a necessidade de uma da base do apoio do governo Lula para fazer frente à hegemonia do PSDB

A presença do delegado da Operação Satiagraha na platéia foi a surpresa do debate, que superlotou o Auditório Teotônio Vilela, da Assembleia Legislativa de São Paulo, e concluiu um ciclo de estudos do PCdoB-SP sobre a realidade estadual. Nádia Campeão, presidente estadual do partido, anunciou-o como ''o delegado Protógenes, com quem temos tido um contato muito interessante e positivo''. Destacou que ''a luta dele interessa a todos nós, faz parte do projeto por que todos nós lutamos, é uma luta a ser travada por todos nós''.

A posição de Vaccarezza e Dirceu

Vaccarezza fez uma saudação mais demorada a Aldo, recordando que os dois participaram da mesma diretoria da UNE, três décadas atrás. Deixou claro que, ''por se sentir em casa'' no debate, falaria as suas posições pessoais e não na condição de líder do PT na Câmara. Fez uma defesa entusiasmada do governo Lula e opinou que ''Dilma [Rousseff, hoje ministra-chefe da Casa Civil] é a candidata ao terceiro mandato desta política''

O petista partiu dessa premissa, e de um trecho de um poema – ''Quem sabe onde quer chegar procura o certo caminho e o jeito de caminhar'' – para expor o ponto de vista que tem defendido na acesa discussão que toma corpo no PT-SP: optar desde agora por um candidato petista ao governo estadual ou examinar a hipótese de um nome de um partido aliado, como o deputado Ciro Gomes (PSB-CE).

A posição de Vaccarezza é a segunda, defendida também pelo ex-ministro José Dirceu. Partindo do valor estratégico do ''terceiro mandato com Dilma'', Dirceu, segundo se comenta, chega a defender que o PT encare a possibilidade de apoiar candidatos de legendas aliadas em todos os estados exceto aqueles onde já está no governo (Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe). Julga que a vitória presidencial vale o preço de apoiar aliados não só em São Paulo mas também em outros estados-chave – Minas, Rio Grande do Sul –, voltando-se nestes casos para o reforço de suas bancadas no Senado e na Câmara.

O ''já ganhou'' e o ''já perdeu''

Vaccarezza fundamentou a posição sem meias-palavras. Disse que ''vamos entrar na eleição com a Dilma candidata e a força do Lula como cabo eleitoral'', mas o PSDB está no governo paulista há 16 anos e ''em uma força muito grande''. Sua conclusão: ''Não basta o peso do Lula. É preciso a força da coalizão que apoia o governo Lula.''

Rebateu também a tendência inversa, porém com a mesma resultante, de entrar na disputa em São Paulo apenas para marcar posição. ''Não tem eleição perdida assim como não tem eleição ganha. Em eleição, só há uma coisa pior do que o 'já ganhou'; é  o 'já perdeu''', sintetizou.

Aqui o líder do PT entrou nas questões em debate no seu partido. ''Nós, da esquerda, temos que mostrar a nossa grandeza. Não é porque o PT é o maior partido da esquerda que tem de ter sempre o candidato a governador'', concluiu, depois de recordar os ensinamentos da última meia dúzia de eleições paulistas.

Dentro desse esforço, Vaccarezza relatou que teve uma conversa – ''uma conversa boa'' – com o ex-governador Orestes Quércia, presidente estadual do PMDB, hoje engajado no campo tucano de José Serra-Geraldo Alckmin. ''Disse a ele que ele teria mais a ganhar se viesse conosco, se o que está posto para ele é a disputa do Senado''.

''Qual é a contribuição que vocês podem dar? Vocês podem ajudar a gente a construir uma alternativa mais ampla aqui em São Paulo. O mesmo arco do governo Lula nós queremos construir aqui em SP'', propôs Vaccarezza, olhando para Aldo.

Um elogio de Ciro Gomes

Vaccarezza relatou que vinha de uma reunião sobre este mesmo tema com os deputados federais, os estaduais e os membros da Executiva Estadual do PT-SP. ''Dissemos ali que o mais importante é a disputa federal O quevale na disputa nacional e no mundo é o governo Lula. Vai ser um resultado sem precedentes se nós conseguirmos elegera a Dilma presidente'', argumentou.

''É legítimo o PSB apresentar o nome de Ciro Gomes'', disse ainda o líder petista. E fez um elogio à coragem e capacidade de Ciro: ''Esteve do nosso lado nos momentos mais difíceis, andou para frente, tem contribuições a dar; por que nós vamos desprezar Ciro Gomes ou chamá-lo de 'estrangeiro'?'', questionou – polemizando com o argumento de que o deputado do PSB, mesmo tendo nascido em São Paulo, tem sua base política no Ceará.

''Uma imensa concordância''

A fala de Aldo reforçou a mesma linha. ''Eu anuncio previamente que tenho uma imensa concordância com a análise feita pelo companheiro Vacarezza. Não teria muito a acrescentar.''

O deputado comunista falou sobre a importância de São Paulo para o Brasil. Falou das bandeiras (''Foram aqueles mamelucos que desenharam o Brasil''), da Independência (''Bonifácio, o Patriarca, construiu o projeto de país mais avançado até hoje''), do republicanismo paulista e do papel do estado como ''berço do movimento operário moderno no Brasil'', com ''a grande greve de 17, que criou a mentalidade da existência de uma classe operária combativa e atuante''.

Não foi um panegírico acrítico. Aldo lembrou também que ''em 32 houve uma reação em que setores da oligarquia paulista tentaram impedir o desenvolvimenro do Brasil''. Assinalou que depois de sua derrota ''a ideia de nação passou a ser hostilizada por parte das eliteslocais''. Disse acreditar ''que foi em São Paulo que a ideologia neoliberal penetrou mais fundo, por sua influência na imprensa, nas universidades. Foi aqui que essas ideias criaram um maior nível de ilusão. Isso nós percebemos também nos resultados nas eleições.''

''A  mais importante trincheira''

''Por isso a nossa tarefa é travar a luta de ideias em São Paulo. Nos apoiarmos nesse amplo movimento operário, popular e social. Porque aqui também estão as maiores mazelas desse modelo. A responsabilidade de forças avançadas é construir aqui em São Paulo a mais importante trincheira dos direitos do povo e do país'', concluiu.

''Nós devemos ter como linha a busca da unidade de todas as forças, capaz de dar a vitória a essas forças. Não podemos nos dividir aqui. PCdoB, PSB, PDT, PT, PRB, devem fazer um esforço de atrair outras legendas. É correta essa iniciativa do deputado Vacarezza de procurar o Quércia. Se nós temos clareza do que queremos, devemos buscar os aliados necessários para cumprir estas tarefas'', enfatizou.

Protógenes quer saber das chances

Na parte reservada às intervenções do público, Protógenes foi o primeiro a fazer uma pergunta. Disse estar ''feliz em ser recebido fraternalmente neste ambiente, onde praticamente é a minha origem'' e, ''se no passado nós tínhamos aquelas divergências, com o PT, hoje a gente converge''. Elogiou ''a humildade dizer: a proposta não é a de um candidato do PT, a proposta é de prosseguir numa caminhada que deu certo''. Mas quis saber de Vaccarezza que chances tem essa proposta no PT.

O líder da bancada petista não se esquivou. ''Vocês já viram as dificuldades do que é uma discussão interna do PT, a começar pelo tempo de TV [na campanha eleitoral]. Essa posição, que eu sempre defendi, é de que nós devíamos ampliar as nossas alianças. Não é a conta pequena, de quantos votos trouxe. Hoje nós fizemos uma reunião. Qul é a posição oficial? O PT vai ter um candidato para oferecer à frente. E o PT vai construir, vamos discutir uma candidatura da frente. Eu acho, no entanto, que o PCdoB, o PSB e o PDT podem ter um mapel importante, em discutir e construir. Que o PCdoB tem um papel importante.''

Em síntese, algo se moveu: não houve uma simples reafirmação da posição tirada desde março, de que o partido lançaria um candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes. Mas por enquanto Vaccarezza, Dirceu e companhia  conseguiram apenas manter aberta frestra de discussão. Enquanto o deputado estadual Rui Falcão, outro petista influente no estado, declarou na imprensa neste domingo (21) que ''pretender que o PT não tenha candidato forte em São Paulo é uma espécie de atestado de decadência do PT de São Paulo''.

De São Paulo,
Bernardo joffily