Revista 'Antítese' põe atualidade do marxismo em debate
Acaba de ser lançado o sexto número da revista teórica Antítese — Marxismo e Cultura Socialista. Ela é o resultado do trabalho profícuo do pessoal do Centro Popular de Estudos Contemporâneos (Cepec), com sede no estado de Goiás. A entidade existe
Publicado 23/06/2009 19:26
A finalidade do (Cepec) é contribuir para uma reflexão coletiva em torno da experiência de luta e organização dos trabalhadores e a construção de um pensamento avançado. Desde sua criação, ela optou pelo pluralismo e o debate franco e aberto entre intelectuais e militantes de várias tendências socialistas.
Veja abaixo o texto de apresentação.
Apresentação
Neste número da Revista Antítese publicamos a segunda e última parte do dossiê comemorativo dos 190 anos do nascimento de Karl Marx. A segunda parte do “Dossiê Marx” é dedicada aos temas, problemas e conceitos abordados por Marx, bem como ao debate por eles suscitados na política e nas ciências. Abrimos o dossiê com uma entrevista concedida pelo célebre historiador Eric J. Hobsbawm ao professor Marcello Musto, que gentilmente nos autorizou sua publicação. Celebrando os 150 anos de redação dos famosos Grundrisse (Elementos Fundamentais da Crítica da Economia Política), elaborados por Marx como material preparatório para O Capital e jamais publicados durante sua vida, Hobsbawm relembra sua importância na formulação marxiana e a riqueza de temas e problemas ali abordados. Analisa ainda o “renascimento” do interesse por Marx, não apenas pela profundidade de explicação do funcionamento e da dinâmica do capitalismo, particularmente ressaltada pela eclosão da crise econômica mundial, mas pela perspectiva de transformação e superação do atual estado de coisas, que anima ativistas políticos e sociais pelo mundo afora.
Em seguida Jair Pinheiro aborda a crítica do individualismo burguês efetuada por Marx e recupera a defesa do indivíduo concreto como aspecto da emancipação humana por ele defendida. Augusto Buonicore retoma o debate, ainda não esgotado, sobre a relação entre modernidade e capitalismo em Marx e no marxismo, recuperando a dimensão fundamentalmente crítica do entendimento de nosso autor sobre a questão. Em confronto aberto com o pensamento dominante na esquerda, particularmente aquela de matiz reformista, Gilson Dantas propõe a atualidade do conceito de ditadura do proletariado, conforme elaborado por Marx e Engels, para qualquer perspectiva política que se pretenda socialista e revolucionária. Na sequência, Fábio Queiroz avalia criticamente as formulações de Habermas sobre esfera pública e ação comunicativa, a partir da própria crítica do liberalismo e das formas políticas burguesas efetuada por Marx e pela tradição marxista posterior. José de Lima Soares atualiza a discussão sobre a alienação no trabalho e a necessária redução da jornada de trabalho em Marx e em outros teóricos, tema de grande relevância para a luta dos trabalhadores na atual conjuntura de crise econômica. Fechando o dossiê publicamos mais um trabalho de recenseamento crítico da obra de Marx e Engels desenvolvido por Marcello Musto, desta vez tratando das edições e da recepção do Manifesto do Partido Comunista na Itália entre os anos de 1889 e 1945. Trabalho esclarecedor acerca dos descaminhos e incompreensões de que foi vítima o mais conhecido texto de Marx e Engels no país que viria a se tornar um dos centros mais importantes de elaboração marxista no século XX.
A seção de artigos abre-se com o instigante trabalho de Fábio Vilela sobre as relações entre o processo de reestruturação produtiva, os modos de socialização e de estranhamento no trabalho a ele relacionados, particularmente no setor de construção civil, e a dinâmica da reestruturação urbana atual, com influência direta na organização espacial das cidades contemporâneas. Tratando de um dos temas candentes da questão ambiental hoje, publicamos o artigo de Isidoro Revers (Galego), militante da luta pela terra no Brasil, que analisa de um ponto de vista critico o apoio de setores do movimento ecológico internacional ao programa brasileiro dos agrocombustíveis, baseado no agronegócio, como uma das soluções para os problemas ambientais mundiais. Alexandre Nardini analisa o surgimento histórico do poder político relacionando-o ao patriarcalismo e à dominação de classe nas primeiras sociedades humanas. Contribuindo para o debate sobre o marxismo e suas diversas interpretações, Fábio Vieira Peixoto encerra este número recuperando a personalidade histórica de José Carlos Mariátegui, teórico e revolucionário peruano. Considerado por muitos o fundador do marxismo latino-americano sua obra deve ser estudada e discutida como uma referência inspiradora para a reflexão atual sobre os destinos de nosso continente.