Wilson Simonal o Calabar da Direita
Por Juliano Roso*. O ultimo vestibular da UPF, realizado em 20 de Junho, teve uma questão na Prova de História bastante questionável. Para melhor entendimento reproduzo aqui a questão:
Publicado 28/06/2009 14:50 | Editado 04/03/2020 17:11
''Um documentário narra a polêmica trajetória de Wilson Simonal, o ídolo de massas que teve a carreira destruída depois que os patrulheiros lhe colocaram a pecha – injusta – de informante da Ditadura” Veja, edição 2113, ano 42, nº 20, 20 de maio 2009, p. 126 – 127.
“O cantor que a esquerda sepultou vivo” e evidencia uma das faces dos “ anos de Chumbo” da Ditadura Militar Brasileira. Assinale a alternativa que expressa melhor o período ao qual se refere o episódio:
a) O fator determinante para o “sepultamento” do cantor foi o fato de ele ser de origem pobre e afro-descendente e viver no auge do AI-5.
b) Os “anos de chumbo” da ditadura militar no Brasil (1968 – 1973) correspondem ao período em que o regime político endureceu, assim como a repressão à oposição.
c) A denominação “direita” referia-se aos defensores da ditadura militar e “ esquerda”, aos opositores do regime militar.
d) Por “patrulheiros” entendem-se organizações ou militantes com posicionamento de esquerda, os quais, considerando-se porta–vozes de resistência à ditadura militar, perseguiam os “colaboradores” do regime.
e) Por “informantes” da ditadura entendem-se as pessoas que delatavam aos órgãos repressores situações ou pessoas consideradas “subversivas”.
Tive a iniciativa, junto com o Professor Max Sanches Diretor da Escola Garra de articular a troca de gabarito da referida questão. A UPF informava que o correto era a alternativa A quando na realidade a única resposta plausível seria a alternativa B.
Para a nossa felicidade a instituição, muito respeitosamente, reconheceu nossa reclamação e providenciou a troca de gabarito. No entanto minha contrariedade a questão não termina com a correção. A questão em si está eivada de equívocos e deveria ter sido melhor formulada.
Tenho orgulho de ter sido aluno do curso de História da UPF, onde me graduei. Não podemos condenar a instituição por uma só questão, mas, não podemos, como professores, ficarmos omissos.
Em primeiro lugar, é estranho ver uma questão introduzida por um texto da “gabaritada” revista Veja que há pouco tempo dedicou uma capa de sua edição para desancar os professores “tendenciosos” de História.
Em segundo lugar a questão dá a entender, embora o gabarito corrigido não afirme isto, que Simonal foi injustiçado pelos “patrulheiros” que lhe tacharam de “Informante da Ditadura”. Ora: na época quem tinha condições de atuar como “patrulheiro de Esquerda”? Pergunto a Veja e ao formulador da referida questão se havia espaço Democrático durante o Regime Militar para patrulhamento ideológico por parte da Esquerda Brasileira? Tolice, ingenuidade ou má intensão pensar que isto seria possível.
Por fim a pergunta final da questão: “assinale a alternativa que expressa melhor o período ao qual se refere o episodio:” Que período seria este? Devia estar se perguntando o aluno que fez a prova: O do patrulhamento ideológico da esquerda, que em plena ditadura cometia injustiças? Ou o período dos “Anos de Chumbo”, em que o regime político endureceu, assim como a repressão à oposição? Qual das duas concepções deveria o vestibulando seguir?
Mesmo a alternativa que foi corrigida pela instituição, a B, carrega em si uma afirmação questionável: Qual é o conceito temporal de “anos de chumbo”? Segundo a questão: os anos de chumbo da Ditadura Militar no Brasil teriam sido (1968 – 1973). Teria acabado o auge da repressão em 73? E o Araguaia em 74? E a repressão ao PCB como reserva de caça em 74 – 75 – 76? E a Chacina da Lapa em 76? O rompimento com a ordem democrática, efetuado por uma ação militar, instalando a triste ditadura que durou de 1964 até 1985 não poderia se chamar de “anos de chumbo”? A maioria dos autores trabalham com o período dos “Anos de Chumbo” de 68 – 74. Mas para outros ele, teria se ampliado pelo menos até fins de 76. Isso com um sentido pedagógico para desconstituir Geisel como um “bom ditador”.
Finalmente um último fator a ser questionado: o debate histórico em torno do fato de que Wilson Simonal foi ou não um delator está encerrado? Podemos afirmar com certeza de que a acusação era injusta? Ou podemos afirmar o contrario; Que ele era informante?
Penso que este tema está ainda em desenvolvimento. Sugiro que na próxima oportunidade em que for tratar do tema ditadura militar no Brasil a prova da UPF faça como em outros vestibulares, que se inspire em questões bem elaboradas por ela mesma sobre o regime. O que não se pode é querer transformar Wilson Simonal no novo Calabar, ou melhor, um Calabar “As Avessas”. Um Calabar da direita e da mídia conservadora vide Veja e a “ditabranda” da Folha de São Paulo.
Juliano Roso
Professor de História da Escola Garra
Vereador PCdoB Passo Fundo RS