PT vai esperar Lula para decidir o que fazer em relação a Sarney
No mesmo dia em que o presidente Lula fez novas declarações em defesa do presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), a bancada petista no Senado decidiu adotar a cautela como conduta para tratar da crise no legislativo. Numa reunião ocorrida na noite
Publicado 01/07/2009 18:48
Das grandes bancadas do Senado, apenas o PT ainda não tomou posição sobre como proceder em relação a Sarney. DEM, PSDB e PDT pediram o afastamento. PMDB, PR e PTB reafirmaram apoio à permanência do peemedebista no comando da Casa. A tendência do PT é buscar um meio termo.
Lideranças petistas apresentaram hoje, pessoalmente, ao presidente do Senado uma proposta de profunda reestruturação da instituição e chegaram a externar a Sarney a sugestão de que ele se licenciasse durante 30 dias. Segundo a proposta da bancada petista, durante este período uma comissão de senadores e especialistas apresentaria soluções para a reforma administrativa a fim de resolver os problemas que a instituição enfrenta com as denúncias de irregularidades.
Mas segundo o líder do PT e do Bloco de Apoio ao Governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), “o presidente Sarney não mostrou disposição de pedir licença”. Por outro lado, mostrou-se receptivo a criar uma comissão no Senado para avaliar a crise, criar uma proposta administrativa e fiscal da casa, e também fortalecer o Conselho de líderes para tomada de decisões.
Os petistas consideram que a licença seria importante para garantir uma adequada investigação das denúncias, mas Mercadante explicou que não houve uma exigência de licenciamento do presidente do Senado porque a elucidação das denúncias não pode se restringir a um só senador. “Não fizemos nenhuma apresentação pública (do pedido de afastamento). Fizemos isso como uma sugestão reservada a ele, não estamos manifestando isso como uma exigência política”, ponderou Mercadante a jornalistas após reunião da bancada que teve a participação do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). Mas a ampla divulgação do assunto na mídia tratou de externar publicamente a disposição petista de rifar Sarney se a situação chegar a um ponto limite para o partido. O próprio presidente do PT, Ricardo Berzoini, teria considerado precipitada a divulgação do pedido de licença pelo partido, tendo em vista que a bancada não oficializou a decisão.
“Entre os senadores, alguns defendem uma licença curta que servisse como demonstração de que não há qualquer obstáculo a uma reforma profunda no Senado. A saída definitiva também não seria uma solução. Não há razão para isso”, disse Berzoini à Folha Online.
Contra a personalização da crise
Mercadante argumenta que é preciso fazer uma reestruturação profunda no Senado e que não é possível “construir um novo Senado simplesmente punindo apenas um senador”. “Diante da disposição do presidente Sarney estamos abrindo diálogo para construir uma solução para o Senado”, pontuou. “É preciso uma convergência suprapartidária para superar essa crise”.
Sarney disse ainda, segundo o líder, que vai definir o seu futuro político a partir de uma conversa com o presidente Lula, que deverá chegar de sua viagem ao exterior na madrugada de quinta-feira. “A bancada também vai conversar com o presidente Lula”, antecipou Mercadante. “Vamos dizer ao presidente que não achamos que a crise possa ser delimitada ao senador José Sarney”.
Ontem, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (PT-SC), também havia discordado da estratégia de responsabilizar senadores ou partidos, individualmente, pelas irregularidades cometidas na Casa nos últimos 15 anos. Segundo ela, as denúncias de corrupção e concessão de privilégios devem ser objeto de uma profunda investigação para que se descubra de quem foi a culpa. “Não é nada recente, não é nada novo. É tudo muito antigo e tudo a muitas mãos, porque nada chega ao ponto que está para produzir este tipo de manchete, cada uma mais cabeluda, pior do que a outra, se não tivesse tido a participação de muitos, de muitas, de muitas mãos. Por isso é que eu fico um pouco incomodada quando vejo a tendência a personalizar um problema que é da estrutura deste poder”, analisou Ideli.
O líder do PT disse ainda que o DEM no Senado tem uma “imensa responsabilidade” com a administração da Casa pois esteve presente na composição das Mesas Diretoras nos últimos anos e que por isso é preciso fazer uma ampla avaliação da situação.
Na reunião da bancada do PT, ontem à noite, o líder anunciou outras medidas que considera relevantes para o saneamento do Senado, como a extinção do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), o Interlegis e o Serviço Médico.
Governabilidade e 2010
Mercadante admitiu que os petistas estão preocupados com as perspectivas políticas em virtude da crise vivida pelo Senado e a discussão em torno de uma renúncia de Sarney. “Mas não podemos abdicar da necessidade de elucidar todas as denúncias que foram apresentadas”, salientou. “Vamos conversar com o presidente Lula e com todos os partidos para construir uma proposta que solucione a crise”.
A cautela adotada pelos petistas teria como objetivo preservar a aliança do partido com o PMDB, principalmente por causa das eleições presidenciais de 2010. O próprio líder do PT no Senado reconheceu esta condição. “Percebemos o quanto esta aliança é importante e percebemos a influência de Sarney junto ao PMDB”, disse Mercadante à imprensa. Segundo ele, a situação política do Governo sempre foi difícil no Senado e é importante preservar a governabilidade política e a aliança com o PMDB, que tem a maior bancada do Senado.
Também foi levado em conta que o eventual afastamento temporário de Sarney levaria o vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), à presidência daquela Casa. Com o Senado sob comando dos tucanos, a situação do governo no legislativo seria fortemente prejudicada.
Por outro lado, o fato de parte da bancada de senadores do PT ter se mostrado favorável ao afastamento temporário de Sarney, revela que os petistas ainda não digeriram completamente a derrota do senador Tião Viana (PT-AC), que perdeu para Sarney a disputa pela presidência do Senado. E mostra também que a pressão midiática sobre o assunto está realmente pertubando alguns senadores.
Da redação,
com informações da liderança do PT e agências