Lula critica programa que ajuda ricos a continuar poluindo
Ao comentar as discussões sobre questões climáticas na última reunião do G8, na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (13) que há “uma consciência coletiva de que o problema é grave”. Para Lula, houve avanço no
Publicado 13/07/2009 08:39
No programa semanal Café com o Presidente, ele destacou a importância de a Organização das Nações Unidas (ONU) elaborar um relatório que responsabilize cada país pela quantidade de emissão de gases de efeito estufa, por exemplo. Lula criticou ainda a criação de fundos para valorizar o sequestro de carbono.
“Os países ricos, que têm dinheiro, vão pagar para os países pobres plantarem mais florestas para fazer sequestro de carbono, enquanto eles vão continuar poluindo. Esse acordo tem que ser de dupla mão”, disse. De acordo com o presidente, o tema chegou a ser discutido durante a reunião, mas não houve conclusão por conta de divergências entre países membros do G5 e do G8.
Leia abaixo a íntegra do programa Café com o Presidente desta segunda-feira:
Lula defende que G20 concentre a discussão sobre a crise financeira mundial
Apresentador: Olá você em todo Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Olá presidente, como vai, tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente o senhor participou da última reunião conjunta do G8 e do G5 na Itália. Um dos pontos discutidos foi a questão do meio ambiente. Houve avanços, presidente?
Presidente: Luciano eu penso que está havendo avanço nesta discussão. Os países ricos já estão dispostos a discutir coisas que antes não discutiam.
Os Estados Unidos estão assumindo a responsabilidade de discutir esse tema, coisa que eles não fizeram desde que foi assinado o Protocolo de Quioto e eu penso que nós vamos chegar a um acordo para o encontro de Copenhague, em dezembro, onde nós vamos discutir a questão climática.
Veja, nós precisamos tomar cuidado para que as Nações Unidas tenham um relatório que possam responsabilizar com números cada país.
Tanto na quantidade de emissões de gases do efeito estufa, quanto na quantidade de seqüestro de carbono que esses países possam fazer.
Outra coisa que nós não aceitamos é que tem países que estão criando um fundo para valorizar o seqüestro de carbono e eu disse que não é possível discutir apenas o seqüestro de carbono sem discutir o controle de emissão de gases de efeito estufa.
Por que? Porque senão o que vai acontecer? Os países ricos, que tem dinheiro, vão pagar para os países pobres plantarem mais florestas para fazer seqüestro de carbono, enquanto eles vão continuar poluindo.
Ou seja, esse acordo tem que ser um acordo de dupla mão, ou seja, ao mesmo tempo que os países tem que assumir o compromisso de que vão diminuir a emissão de gases de efeito estufa, os outros países vão discutir a necessidade de aumentar, a possibilidade de seqüestro de carbono.
Isso avançou bastante, foi um tema discutido, mas não concluído porque a posição do G5 era diferente da posição do G8 e ao mesmo tempo tem que ver qual a responsabilidade de cada país.
Ou seja, um país que começou seu processo de industrialização há 150 anos atrás ele tem mais responsabilidade do que um país que começou ontem, por exemplo os Estados Unidos têm mais responsabilidade que a China, a Europa tem mais responsabilidade do que a América do Sul, que a África.
Portanto, é prudente que a gente faça a discussão com seriedade, cada um assuma a responsabilidade, é um tema que envolve todo mundo, do mais pobre ao mais rico e portanto todos têm que ter responsabilidade.
O que é importante é que há uma consciência coletiva de que o problema é grave e que todos nós temos que cuidar disso com muita responsabilidade.
Apresentador: Alguns líderes defenderam que não é possível discutir questões mundiais, como a crise financeira, apenas com a representatividade do G8. Com isso dá pra dizer que a posição brasileira sobre o assunto prevaleceu?
Presidente: Eu não diria a posição brasileira, eu diria que tem uma divergência que é fundamental, ou seja, primeiro nós não podemos questionar a existência do G8,o G8 pode existir e discutir o assunto que quiser.
Agora, nós estabelecemos a criação do G20 para discutir a crise financeira. Nós poderemos criar outros grupos pra discutir outros assuntos ou tentar levar para o G20 discussões importantes, como a questão do clima, como a questão da Rodada de Doha, ou seja, o acordo sobre o comércio internacional, a questão do controle do sistema financeiro, nós poderemos levar para o G20 isso que tem mais representatividade.
Só pra você ter idéia e os nossos ouvintes, Luciano, o G20 representa praticamente 80% da riqueza mundial, representa uma grande parcela da população mundial e portanto ele tem autoridade moral para fazer isso.
Mas é importante que a gente não se esqueça nunca que o mundo não é constituído apenas pelos países do G20, e nós achamos que em vários temas os países menores tem que participar.
Por isso que nós defendemos que a ONU (Organização das Nações Unidas) também seja referência para envolver os países pequenos, porque se um país de 1,3 bilhão de habitantes como a China tem responsabilidade, uma ilha de 300 mil habitantes também tem responsabilidade.
Portanto, ninguém pode querer ter a hegemonia de achar que determinados grupos de países são os que decidem, não.
Ou seja, para cada assunto você reúne quem você quiser, agora na questão econômica nós precisamos definir que o G20 é que tem que decidir as regras que vão controlar o sistema financeiro e vai reger a economia mundial daqui pra frente.
Apresentador: Você está ouvindo Café com Presidente, programa de rádio do presidente Lula. Depois desse encontro do G8 mais o G5 e das discussões que foram feitas, qual o cenário para a próxima reunião do G20 marcada para setembro, presidente?
Presidente: É um cenário de otimismo porque todo mundo sabe que até agora as decisões que nós tomamos, elas estão sendo implementadas e isso leva tempo.
Por exemplo, colocar dinheiro no FMI (Fundo Monetário Internacional), fazer com que o Banco Mundial tenha mais dinheiro para ajudar nos projetos de desenvolvimento dos países mais pobres, é importante; discutir a Rodada de Doha para ver se a gente conclui, ou pelo menos delega mais poderes aos nossos membros, aliás o G8 já determinou à comissão que negocia que até 2010 tem que decidir a Rodada de Doha.
Eu até falei para Pascal Lamy (diretor geral da Organização Mundial do Comércio), que é o homem que coordena as negociações, que 2010 não é dezembro, é janeiro de 2010 ou fevereiro pra que seja uma coisa feita com uma certa rapidez para que o acordo na Organização Mundial do Comércio possa trazer benefícios para os países que sofreram o problema da crise.
Apresentador: Muito obrigado presidente Lula e até a próxima segunda-feira.
Presidente: Obrigado você Luciano e até a próxima segunda-feira.
Apresentador: O Café com Presidente volta na próxima segunda, até lá.