George Câmara: A região do Mato Grande e a Ironia do Destino
Sempre que posso, visito a Região do Mato Grande. Quando não consigo esticar até Parazinho, onde nasci, pelo menos chego a João Câmara, cidade pólo da região, onde tenho a oportunidade de rever familiares, amigos e ex-alunos. Sempre uma alegria renovada.
Publicado 29/07/2009 09:53 | Editado 04/03/2020 17:08
A Região do Mato Grande, para muitos, é formada por quatorze municípios: Bento Fernandes, Caiçara do Norte, Jandaíra, Jardim de Angicos, João Câmara, Parazinho, Pedra Grande, Pedra Preta, Poço Branco, Pureza, São Bento do Norte, São Miguel do Gostoso, Taipu e Touros. Para outros, há mais três: Galinhos, Maxaranguape e Rio do Fogo.
Quatorze ou dezessete, não faz muita diferença, porque nesse caso o essencial não está na matemática. Em se tratando do Mato Grande, o que há de mais extraordinário é o elevado potencial da região e sua diversidade. Dificilmente encontramos, nesse conjunto, dois municípios iguais, em matéria de vocação econômica.
Da pesca à pecuária, da agricultura ao comércio, da indústria ao extrativismo, da mineração ao turismo, entre outros. Nenhum desses municípios apresenta apenas uma única vocação. A diversidade de que falamos, tão presente no plano regional, também se manifesta nas potencialidades internas de cada um deles. O que nos falta, então?
Dizem alguns estudiosos que os países ou regiões que abrigam grandes riquezas em seu solo ou mesmo no subsolo parecem viver uma maldição: apresentam, em relação ao seu povo, indicadores sociais muito aquém do tesouro que escondem. Por ironia do destino, segundo esse raciocínio, confronta-se a riqueza natural com a pobreza social.
No Brasil e na América Latina, comparando os indicadores sociais e econômicos com o potencial de riqueza existente, temos a confirmação dessa tese. Obra do acaso? Não acredito. Resultado das desigualdades inerentes a um modelo de desenvolvimento absolutamente excludente, elitista e perverso. Completamente ultrapassado, que nega o próprio desenvolvimento. Contrariando o curso da História, esse modelo é um moribundo que insiste em se perpetuar.
Aquele que tiver a oportunidade de sobrevoar a Região do Mato Grande, sairá fascinado com pelo menos duas coisas: a beleza e a riqueza. A exuberante cobertura verde, mesmo em tempos de aridez, convivendo com o grande manancial de oportunidades de desenvolvimento econômico, que deveria trazer junto a inclusão social. Sem querer abusar da sorte, não custa torcer pela preservação ambiental, fechando assim o tripé da sustentabilidade.
Porém a dura realidade, até hoje, tem apontado exatamente para um caminho oposto a esse cenário tão desejado e merecido. Habitantes dessa região e desses municípios enfrentam hoje, mais do que nunca, um grande paradoxo: tanta riqueza potencial, tanta pobreza real. A realidade se choca com as potencialidades, numa guerra que só tem um perdedor, que é a própria região. E seu povo, naturalmente. O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH apresenta números vergonhosos: os piores indicadores sociais do Estado.
É coincidência que essa mesma região padeça vinte anos diante da falta de representação política? Da ausência absoluta de qualquer representação na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte?
Quando um lugar é considerado “terra de ninguém”, o seu povo paga um elevado preço. É preciso, pois, com o preço que o Mato Grande já pagou pelas últimas duas décadas de atraso, que o valoroso povo dessa região encontre o seu caminho de liberdade. Muitas vezes é através do grito que conquistamos respeito. Assim, contrariando a ironia, podemos redefinir o nosso próprio destino.
George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (29/07/09)