Messias Pontes – Tortura nunca mais!

O líder estudantil cearense Bergson Gurjão Farias, morto sob tortura por militares do Exército em 1972, no Sul do Pará, teve seus restos mortais identificados no mês passado através de exame de DNA. Quando de sua primeira prisão durante uma passeata em 19

Comandante de um destacamento da Guerrilha do Araguaia dirigida pelo Partido Comunista do Brasil, Bergson foi preso e barbaramente torturado até a morte, tendo seus algozes decepado a sua mão direita e o dependurado em uma árvore, de cabeça para baixo. Para amedrontar os moradores da região, os militares chutaram sua cabeça como se fosse uma bola, numa prova inequívoca de bestialidade.



Trata-se de um crime de guerra e também um crime de lesa humanidade de acordo com todas as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. Há 37 anos sua família luta pelo direito de enterrar o seu ente querido com a dignidade a que todos temos direito.



Segundo o ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o herói cearense e do povo brasileiro será enterrado com honras de Estado na segunda quinzena do próximo mês de setembro, quando aqui estará a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça para julgar processos de cearenses que requereram a anistia política. Seus restos mortais (faltando uma mão) serão trazidos para Fortaleza em um avião da FAB, e levado do Aeroporto Pinto Martins até à Reitoria num carro do Corpo de Bombeiros. O velório acontecerá na Concha Acústica da UFC e o sepultamento será no Cemitério Parque da Paz.



Em sua homenagem, uma praça no Campus do Pici leva o seu nome, e no local ou na frente do prédio do antigo IBUC (Institutos Básicos da Universidade Federal do Ceará– Química, Física, Biologia e Matemática), na Avenida da Universidade, no Benfica, deverá ser erguido um monumento com a sua estátua. Sem dúvida uma mais que justa homenagem.



Porém a homenagem só será  completa, como desejam os seus camaradas do PCdoB e todos os democratas cearenses, com a exoneração do atual Corregedor Geral dos Órgãos Policiais do Estado do Ceará, ex-delegado da Polícia Federal em Fortaleza, durante a ditadura militar, José Armando Costa, conivente com as torturas a muitos militantes políticos, sendo seis do PCdoB, entre eles Vicente Walmick Vieira, do Curso de Química; José Auri Pinheiro, do Curso de Física; e o engenheiro Lavoisier Alves Cavalcante, companheiros de Bergson naquela época.



O nome do ex-delegado da PF consta no dossiê do projeto “Brasil Nunca Mais”, da Arquidiocese de São Paulo, trabalho coordenado pelo pastor evangélico James Wright, indicado pelo então arcebispo dom Paulo Evaristo Arns. Em depoimento à Justiça Militar, os presos torturados afirmaram que Costa não participava diretamente das torturas, mas os interrogava logo após os suplícios, ameaçando-os mandá-los de volta caso não assinassem o que ele mandava, afirmando que “você pode entrar numa faixa pesada”.



Na última quarta-feira, a Associação 64/68 Anistia Ceará, presidida pelo ex-preso político Mário Albuquerque, encaminhou ofício ao governador Cid Gomes narrando os fatos levantados pelo Campus, jornal laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB -Universidade de Brasília, e pedindo a sua exoneração. Na matéria comemorativa aos 30 anos da Lei da Anistia, José Armando Costa é apontado como recordista em acusações de tortura durante a ditadura militar.



As Comissões de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, da Câmara Municipal de Fortaleza, da Arquidiocese de Fortaleza, da OAB-Ceará e a do Pirambu, entre outras, estarão reunidas na próxima semana com a direção da Associação 64/68 Anistia Ceará para tratar do assunto. Todos acreditam que o governador Cid Gomes – que tem mantido uma postura transparente e democrática, sem transigir com desvio de conduta de quem quer que seja -,  não hesitará em exonerar o ex-delegado da PF.



Bom seria que o Dr. José Armando Costa (assíduo freqüentador das colunas sociais), em consideração a quem o indicou, entregasse logo o cargo que ocupa. Isto para evitar que Cid Gomes passe pelo constrangimento de ter de exonerá-lo.



É o mínimo que recomenda o bom senso.



Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE