Sem categoria

Cultura nordestina se destaca no Cine Ceará

Com o tradicional e luxuoso Cine São Luiz lotado, o 19º Cine Ceará terminou em clima de celebração das artes do próprio Estado. Não se trata de um caso de bairrismo, mas é inegável a confluência de prêmios, senão para os diretores locais, pelo menos para filmes cuja temática nos são bastante familiares.

Celebração já anunciada com a escalação do longa-metragem “Siri-Ará”, do cearense Rosemberg Cariry, para fechar o festival. Um dos expoentes do cinema cearense, o diretor fez aniversário ontem, chegando aos 53 anos sob aplausos do público.

“De certa forma, ter um filme cearense no encerramento do festival mostra a resistência do cinema que nós produzimos no Estado. Vivemos um momento especial desta arte, com cursos sendo abertos em faculdades, melhorias nos editais. E o Cine Ceará cumpre um papel importante neste avanço”, avaliou Rosemberg Cariry.

O discurso do cineasta ecoou nas palavras do diretor do festival, Wolney Oliveira, que além de agradecer os patrocinadores e parceiros, comemorou o anúncio de recurso recorde para o edital de audiovisual do governo do Estado, que este ano deve chegar R$ 3 milhões.

Premiados

Os prêmios de Melhor Longa-Metragem, Melhor Direção e Melhor Montagem ficaram com o filme “Se nada mais der certo”, quarto longa do cineasta José Eduardo Belmonte. No entanto, a noite foi do documentário-musical “O homem que engarrafava nuvens”, de Lírio Ferreira, que conquistou Melhor Roteiro, Melhor Som, Melhor Longa-Metragem (na votação da crítica) e Melhor Produção com Temática Nordestina, concedida pelo Banco do Nordeste. O filme de Lírio refaz a trajetória do compositor cearense Humberto Teixeira (1915 – 1979), o Doutor do Baião, famoso por suas parcerias com Luis Gonzaga, caso da clássica “Asa Branca”.

Ainda na categoria audiovisual, Jorge Crespo recebeu o prêmio de Melhor Fotografia, por seu trabalho no documentário argentino “Haroldo Conti: Homo Viator”. Melhor Trilha Sonora ficou com Antônio Pinto, do filme “À Deriva”, de Heitor Dhalia. Melhor Direção de Arte foi para Erick Grass, do cubano “Os deuses quebrados”.

O galã global Cauã Raymond foi premiado na categoria Melhor Ator e a cubana Annia Bú ficou com Melhor Atriz. Na categoria curta-metragem, o grande vencedor da noite foi “Os sapatos de Aristeu”, do diretor Luiz René Guerra. O filme, que retrata o velório de uma travesti por suas amigas, ficou com os prêmios de Melhor Curta-Metragem, Melhor Montagem (Vinícius Calderoni) e Melhor Roteiro (do próprio Guerra). “Superbarroco”, filme onírico, marcado pelo mistério e pela narrativa não-linear, ficou em segundo lugar – com prêmios nas categorias Melhor Direção de Arte e Melhor Ator (Everaldo Pontes). Correndo por fora, o filme de Renata Pinheiro foi eleito o Melhor Curta Metragem, pela crítica especializada.

A melhor direção foi para Gilberto Scarpa, de “Os filmes que não fiz”. O curta é um falso documentário sobre o diretor que fala de seus projetos não-realizados. Melhor fotografia ficou o trabalho de Ivo Lopes por “A montanha mágica”; Melhor Som com Alessandro Laroca, de “Silêncio e sombra”. Melhor Atriz para a cearense Ceronha Pontes, em “A Mulher Biônica”, de Armando Praça, que também foi premiado na categoria Melhor Produção Cearense.

Cinema cearense em expansão

"O Cine Ceará desempenha um papel importante na cena do cinema cearense, que experimenta uma expansão. Tanto quanto a difusão, são importantes estas trocas entre o pessoal do cinema."
Rosemberg Cariry
Cineasta

"Um prêmio do Cine Ceará tem um significado especial para mim. Sou público do festival desde 1992 e, de certa forma, ele me ajudou a escolher este caminho. Aqui, eu me sinto em casa."
Armando Praça
Cineasta

"Fico feliz com os troféus, mas o maior prêmio eu já havia recebido no domingo. Foi quando o filme foi exibido aqui no São Luiz. Eu pude ver as pessoas saindo da sessão, e como o filme conseguiu tocá-las."
Lírio Ferreira
Cineasta

Entrevista – Wolney Oliveira (Cineasta e diretor do Cine Ceará)

Quais foram os pontos altos desta edição festival?

Eles foram vários. A mostra “Che – Olhares do tempos” (reunindo filmes que tem por tema o revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara) foi bem recebida pelo público e já tem gente querendo levá-la para outros países. O próprio festival foi aberto com “Che: Guerrilha”, segunda parte da cinebiografia dirigida pelo Steven Soderbergh (“Traffic”, “Onze homens e um segredo”). Não é qualquer festival que tem a oportunidade de abrir com um longa de um cineasta conhecido internacionalmente. O que demonstra a importância que na Europa Filmes, distribuidora do filme, dá ao Cine Ceará. O longa só estréia em circuito comercial em setembro. Há ainda essa troca que acontece entre o pessoal da área do cinema, possibilitando que sejam feitas parcerias de co-produção, distribuição etc. Destaco ainda o Edital Fortaleza Verde Imagem, feito em parceria com a Semam, que premiou produções com temática ambiental; e a parceria com a Uece, na Mostra da Acessibilidade. Ela acontece a partir do dia 10, na Casa Amarela, exibindo cinco longas e cinco curtas para deficientes visuais e auditivos.

Já é regra do Cine Ceará que o festival continue com programações mesmo depois do encerramento oficial. Que outras ações ainda acontecerão daqui pra frente?

Vamos continuar com a retrospectiva de cinema de animação, que foi um dos pontos fortes desta edição. A partir de setembro e outubro, vamos levar o festival para os bairros de Fortaleza e, possivelmente, para o Interior do Estado. Também em setembro, começamos o 3º Cine Coelce.

O que falta para o festival também passear pelo Interior?

O entrave é o de viabilizar recursos e parcerias que permitam essa itinerância. Temos que ver quais prefeituras têm interesse em trabalhar conosco. Para os bairros de Fortaleza, já temos recursos garantidos pelo Ministério da Cultura. Ainda falta definirmos os bairros em que vamos atuar. Esta fase do trabalho começa agora.

Que ações desta edição ganharão mais espaço em 2010?

O projeto da acessibilidade, com certeza, porque o retorno dessas ações sempre é o melhor possível. E o Edital Verde Imagem. Tivemos pouco tempo de divulgá-lo, mas ficamos encantados com a qualidade dos trabalhos inscritos.

Fonte: Diário do Nordeste