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Projeto cultural IR movimenta Zona Leste de SP

Os moradores do Jardim Romano, no Itaim Paulista, em São Paulo, foram surpreendidos no domingo (26/07), pela caravana cultural promovida pelos artistas do Projeto IR – Integração e Rupturas. Durante uma hora, o grupo Porto de Luanda passeou pelas estreitas ruas do bairro, levando à comunidade um ritmo muito conhecido dos nordestinos, mas bastante incomum na paulicéia: o maracatu. A apresentação atraiu a atenção do público que aplaudiu, fotografou e até filmou artistas em ação.

Conforme os organizadores, quem melhor entendeu a proposta foram as crianças que, animadas, seguiram o cortejo até o teatro do CEU Três Pontes, onde fizeram fila para desfrutar da adaptação de ''Cisnes Selvagens'', obra de Hans Christian Andersen, produzida pela Cia. Padedê de Teatro. Para o estudante Elivelton Nascimento, de 13 anos, que foi à sessão acompanhado pela prima e outros três amigos, um evento deste tipo ''é muito bom e educativo também''.

Os 184 lugares do teatro foram totalmente ocupados por crianças, jovens e adultos, já que a vasta programação contemplou a todos os gostos e idades. O instituto União Kerakux, parceiro no projeto, aproveitou para levar as crianças de sua comunidade às mostras infantis, que incluiu contação de história e o espetáculo teatral. O projeto, que deve ter continuidade em 2010, prevê outros eventos em CEUs da zona leste.

''O objetivo é levar uma trupe de atores, músicos, cantores, artistas plásticos, contadores de histórias, fotógrafos, poetas para a realização de eventos de integração com a comunidade e ruptura com as barreiras dos preconceitos e conceitos deteriorados'', afirmam os integrantes do espetáculo Pé no Cotidiano: Akira Yamazaki, Cleston Teixeira, Gilberto Braz e Raberuan, que também são idealizadores do Projeto IR.

Além das apresentações musicais intermediadas por poemas recitados pelo quarteto idealizador do projeto, o público teve à sua disposição um criativo varal de poesia, composto por obras de Gilberto Braz e Akira Yamazaki, Cleston Teizeira e Raberuan.

O varal ficará exposto por mais 15 dias no saguão do CEU, dividindo o espaço com a exposição fotográfica de Robson Martins e das pinturas do artista plástico Edson Leôncio, que, por meio de suas telas, propõe levar o público a uma viagem por geleiras, desertos, florestas, mares, construções e figuras humanas.

Outros pontos altos do evento ficaram por conta dos shows das bandas Integração e Ruptura e Cerebrow; da intervenção ''Chorinho e Chorões'', feita pelo Conjunto Lider´s do chorinho; pelo carismático show de Osnofa, cantor e compositor de São Miguel Paulista, integrante do histórico MPA – Movimento Popular de Arte, surgido no final dos anos 70 com o propósito de abrir espaços para abrigar a produção artística local e ter um centro aglutinador e irradiador da cultura produzida na região.

Outro momento emocionante foi a apresentação do repentista Cabral, morador do Jardim Romano. ''Cheguei em São Paulo em 1977, quando a arte ainda não era valorizada pelo povo local'', relata o artista que ganhou a vida trabalhando em uma indústria química. ''Já me apresentei várias vezes no CEU'', comemora.

Na platéia, importantes figuras do cenário artístico local, como Zulu de Arrebata, 51, cantor, compositor, produtor e coordenador de projetos como o Sexta Básica e Encontro das Artes em São Miguel. A próxima apresentação do Projeto IR acontece no dia 23 de agosto, no CEU Parque São Carlos, sito à rua Clarear, nº 141. Os organizadores prometem melhorar ainda mais a produção dos shows que farão parte do próximo evento.

O projeto IR – Integração e Rupturas, foi idealizado por artistas da Zona Leste da capital paulista, especialmente do bairro de São Miguel Paulista e adjacências. Dele, desdobram-se uma série de ações culturais que vão da poesia à música, passando por outras formas de arte.

No desejo de realizar um trabalho conjunto e transferir para o palco sonhos, indignações, esperanças, virtudes e amores, três poetas populares, Raberuan, Gilberto Braz e Akira Yamasaki, juntamente com um parceiro de muitas batalhas, o também poeta Cléston Teixeira, agregado ao grupo algum tempo depois, se debruçaram sobre suas canções e poemas para criar o espetáculo Um pé no cotidiano, que abriu as portas para o projeto IR.

Com um formato bem diferenciado, que liberta a poesia do papel, o projeto utiliza-se de linguagens vocais e corporais, de recursos teatrais e musicais numa seqüência de quadros que retratam os assuntos da rotina do povo.

De acordo com os organizadores, tratam-se de ''produções incômodas'' e ''reflexões indesejadas'' que serão expostas ao público dentro e fora dos espaços convencionais. Os artistas além de se apresentarem nos CEUS da cidade, decidiram caminhar pelas ruas levando arte para perto da população.

Por Alice Cardoso