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Sarney fala de repórter transgressor e volta a acusar mídia

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), surpreendeu em discurso de quase uma hora quando ponto a ponto rebateu todas as denúncias que motivaram as representações contra ele no Conselho de Ética da Casa. Voltou a afirmar que não vai renunciar e disse que sofre uma campanha da mídia para tirá-lo do cargo. O senador causou perplexidade ao revelar um método ilegal usado por um jornalista para conseguir denegri-lo.

José Sarney defende-se de acusações - Geraldo Magela -Agência Senado

Sarney fez referência à venda, em 2002, da Fazenda São José do Pericumã, no município de Luziânia (MA), sobre a qual os grandes jornais do país publicaram matérias recentes dizendo que Sarney vendeu a propriedade para não pagar impostos.

“Mas a campanha não fica só aí. Eu quero também dizer ao Senado uma coisa lamentável. Nessa busca foram atrás do sujeito, da pessoa a quem eu vendi minha fazenda em 2002, senhor Geovani. E um jornalista, credenciado aqui no Senado, chega no seu escritório agredindo, chamando: O Senhor é laranja do Sarney, confesse! E rouba os papéis que estavam em cima da mesa dele e sai correndo”, diz.

O presidente do Senado diz que tudo foi gravado porque o senhor Giovani tem circuito de TV em seu escritório. “São esses os métodos que se faz numa campanha dessa natureza. Este não é um método de deotonlogia (da profissão) e eu acredito que todos os jornalistas que estão ali jamais concordariam com isto.”

Ele diz que até pensou em divulgar o conteúdo da fita e o nome do jornalista, mas decidiu não rebaixar o nível do debate. “Não vou, portanto, publicar mas dizer que isto ocorreu e se alguém duvidar e se colocarem na minha palavra, eu colocarei à sua disposição em minha defesa mas não vou divulgar porque não quero ofender criatura humana nenhuma, colocando-a em dificuldade aqui.”. Disse que o episódio é da maior gravidade. “É uma demonstração em até que ponto foi levado essa guerra contra a minha pessoa.”.

Atos secretos

Para desqualificar as representações, o presidente do Senado diz que há diversas decisões da Justiça que não autorizam a abertura de processo por recortes de jornais. Lembrou que algumas delas afirmam que ele estaria sendo investigado pela Procuradoria-Geral da República, o que foi desmentido pelo próprio procurador Roberto Gurgel.

Em seguida, Sarney faz referência às denúncias. Sobre os atos secretos, ele diz que ninguém na Casa sabia ou podia pensar que existisse. Lembrou que nos nove anos em que existe a Intranet no Senado, 511 atos não foram incluídos na rede.

“Destes, 358 são movimentação de pessoal, rotina da Casa, e 36 foram da Mesa, aprovados pelo Plenário. Afirmaram, contudo, e parece para a Nação inteira que fui eu que fui responsável por todos esses atos, e a opinião pública passou a receber assim essas informações erradas, deformadas e incompletas.”, diz.

A partir daí enumerou os atos de todos os ex-presidentes e os que não foram publicados. Além dele, a lista envolve Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Ramez Tebet, Renan Calheiros, Tião Viana e Garibaldi Alves. Todos apareceram com atos secretos.

“Dou esses números, para que realmente se veja e se faça justiça, porque isso foi divulgado no país inteiro, porque eles não eram assinados pelo presidente e, sim, às vezes, pelo primeiro-secretário, pelo diretor-geral, por outros diretores e chefes da Casa na movimentação de pessoal.”

Segundo ele, logo que as denúncias vieram à tona determinou a abertura de inquérito com a assistência do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU). “Este inquérito foi remetido à Polícia Federal, ou seja, está na Polícia Federal.”, explicou.

Nepotismo

O presidente do Senado disse que o nepotismo é “a grande acusação” que é feita contra ele. “Há 55 anos no Congresso nunca adotei a norma de chamar parentes para a minha assessoria”, disse ele, citando as lista de parentes e amigos elaborada pelo PSOL e do PSDB. O primeiro deles foi João Fernando Sarney.

“Aqui no Senado todos nós sabemos que não se nomeia para o gabinete quem não for requisitado (…) pelo senador; e ele foi feito, está aqui a requisição ao diretor-geral, do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que já teve a oportunidade de confessar que não me disse que tinha nomeado.”

Outro nome citado por Sarney foi Vera Portela Macieira Borges. “Realmente é sobrinha, por afinidade, minha. Eu requisitei do Ministério da Agricultura para a Presidência e pedi ao senador Delcídio (Amaral PT do MS) que colocasse no gabinete em Mato Grosso, porque ela tinha se casado e assim ela continuava trabalhando, não me julgando que nisso houvesse qualquer falha.”

Disse que Maria do Carmo Macieira foi nomeada pela senadora Roseana Sarney e que a lei brasileira não passa responsabilidade de filha para pai. Quanto a Isabella Murad Cabral Alves dos Santos, que não é sua parenta, foi nomeada também pelo senador Cafeteira.

Depois de citar outros nomes, fez referência aos parentes do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi: Ricardo de Araújo Zoghbi, Luís Fernando Zoghbi, João Carlos Zoghbi Júnior. “Todos sabem que eu nunca me relacionaria aqui com o senhor . Zoghbi. E, ao contrário, mandei abrir inquérito contra ele.”

HSBC

Sobre a denúncia de que o seu neto José Adriano Sarney teria intermediado empréstimo consignado do HSBC para os funcionários da Casa, Sarney apresentou uma nota do banco dizendo que na época o neto tinha sido dispensado. “Meu neto não participou da negociação de qualquer convênio do banco com o Senado, que foi em 2005; ele ainda nem estava morando em Brasília.”

Já em relação às denúncias contra a Fundação Sarney, o presidente da Casa afirmou que nunca teve função administrativa na instituição. “Essas são as provas que estão sendo mostradas aqui.”

Após o discurso, os aliados de Sarney comemoraram no plenário sua performance. O ato político mobilizou o parlamento e temporariamente adiou os trabalhos no Conselho de Ética onde os defensores dele ganharam mais fôlego.

De Brasília,
Iram Alfaia