Exposição 'Anistiados, couro esquecido' termina dia 29

Os anos vividos na prisão na Ilha de Itamaracá (PE), pelo então estudante de serviço social da UFS, Bosco Rolemberg, por conta da sua oposição ao regime militar, estão retratados na mostra ‘Anistiados, couro esquecido'.

A exposição conta com 10 pirogravuras em couro, produzidas pelo artista entre os anos de 1974 e 1979, enquanto esteve no cárcere, como forma de passar o tempo e superar a dor. Os quadros foram acrescidos de textos escritos por grandes expoentes da literatura e do jornalismo sergipano. A curadoria é da jornalista Joana Côrtes, filha de Bosco Rolemberg, que embarcou no projeto para lembrar os 30 anos da anistia política no Brasil.

Além dos quadros, quatro instalações reproduziram parte do ambiente em que o artista plástico foi obrigado a permanecer isolado, a exemplo de um banco de madeira onde estão gravados nomes de companheiros que também sofreram o horror da ditadura militar, um rádio de pilha em cima de um caixote, e gaiolas penduradas, que fazem uma analogia à situação de todos aqueles que se mostraram contrários ao regime.

Passados 30 anos desde a anistia, Bosco Rolemberg acredita que a exposição nada mais é do que o resultado de um esforço coletivo. "Não somos heróis, apenas respondemos à nossa maneira o desafio que nos foi imposto naquele momento", declara o artista, atual secretário chefe de Gabinete da Prefeitura de Aracaju.

Bosco reitera que revisitar seus trabalhos com a curadoria da sua filha e com a contribuição de personalidades como Carlos Cauê, do talento desses baluartes do jornalismo e de gente nova é um bálsamo. As feridas foram curadas, mas as cicatrizes permanecem, no entanto, o diálogo desses artistas faz com que as obras ganhem um novo significado", afirma.

Para o artista plástico Alan Adi, a exposição toca fundo porque o discurso empregado nos textos casa perfeitamente com as telas. "A mostra foge do que se espera quando se fala em ditadura, um tema que não é tão frequente em exposições. Sem contar que as imagens, apesar de estarem gravadas em pele morta e retratar sangue e sofrimento, não são apelativas", opina.

‘A raiva do aço'

O jornalista Cleomar Brandi, que fez o texto ‘A raiva do aço', é muito mais do que orgulho quando fala sobre o trabalho e a vida de Bosco Rolemberg. "No momento em que o país não mantém uma história digna de seus políticos, escrever sobre as agruras vividas por Bosco não é difícil porque a dignidade já estava plantada", declara.

A jornalista Joana Côrtes, filha do artista e curadora da exposição, diz que a mostra foi um parto coletivo feito por ela, o pai e o estudante de cinema e artista áudio-visual Rafael 'Mingau' Borges. "À medida em que desenvolvíamos o projeto, novas idéias foram surgindo e o resultado foi bastante satisfatório", avalia. Ela completa que o que mais a emocionou foi a reação das pessoas ao cumprimentá-la. "Sabemos quando as opiniões são verdadeiras e a sinceridade foi o que mais vi nos olhos e nas palavras das pessoas", relata.

A exposição ‘Anistiados, couro esquecido' fica em cartaz até o dia 29 de agosto, na Galeria de Arte Álvaro Santos, unidade mantida pela Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esportes da Prefeitura de Aracaju (Funcaju), localizada na Praça Olímpio Campos, Centro. As visitações vão de segunda a sexta-feira das 8h às 18h, e aos sábados das 9h às 13h. Informações pelo telefone: 3179-1308.