Obras do PAC: legislação é um problema, afirma Déda

O problema das obras públicas não é um problema sergipano, é um problema brasileiro. A afirmação é do governador Marcelo Déda (PT), ao rebater o discurso da oposição que dá conta de que suas obras e as do PAC estariam lentas.

“O problema das obras públicas não é um problema sergipano, é um problema brasileiro. Uma legislação anacrônica tem permitido que empresas iniciem obras que não têm condições de concluir. Tudo isso obriga o Estado a reiniciar processos, atrasando os seus cronogramas”. A afirmação é do governador Marcelo Déda (PT), ao rebater o discurso da oposição que dá conta de que suas obras e as do PAC estariam lentas. Ainda assim, ele diz que “este ano estamos prevendo a entrega de dezenas delas, desde rodovias e pontes, até escolas, delegacias, clínicas e hospitais. Sem falar em outras intervenções na área do saneamento básico, construídas em parceria com o governo do presidente Lula”.

Déda afirma que o seu grupo tem um indisfarçável desejo de união e as possibilidades de consolidação de uma chapa unitária são as melhores possíveis. “Tenho convicção de que estaremos unidos no palanque do mesmo jeito que estamos unidos no governo”, aposta. Ele lembra ainda que o senador Almeida Lima, pelo fato de ser do PMDB, é um aliado natural, mas lembra que este é um assunto de interesse dos peemedebistas e reafirmou o seu apoio às candidaturas do deputado federal Jackson Barreto (PMDB) e do senador Valadares (PSB) ao Senado. “Eu dou grande valor a minha palavra. Meus compromissos políticos são transparentes e todos os aliados os conhecem”.
 

A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Jornal da Cidade, principal periódico do Estado:

JORNAL DA CIDADE
– O grupo do senhor deseja ter Albano Franco como aliado? Há conversas nesse sentido?
MARCELO DÉDA – Eu tenho uma excelente relação pessoal com o ex-governador Albano Franco. Como deputado federal, ele tem sido muito solícito e tem colaborado dentro do Congresso Nacional para aprovação dos pleitos e reivindicações do meu governo e do Estado de Sergipe. Albano esteve no mesmo palanque que eu na eleição de Edvaldo Nogueira e acredito que seria muito bem-vindo na nossa coligação para 2010. Entretanto, é preciso levar em consideração que a legislação eleitoral e a fidelidade partidária fortaleceram as direções nacionais dos partidos e viabilizaram uma centralização indiscutível da tática nacional. Eu acredito que as decisões do PSDB nacional jamais poderão ser desafiadas pelo PSDB local. A permanência de Albano no PSDB o lançará necessariamente no palanque do DEM. Portanto, eu acredito que a vinda de Albano para o nosso bloco passaria pela sua mudança de partido. E não sei se ele está disposto a tomar essa decisão.

JC – O senador José Almeida Lima seria aceito como aliado do grupo do senhor? Seria candidato a senador?
MD – O PMDB integra a nossa coligação desde as eleições de 2006. Ora, teoricamente, o senador Almeida Lima é aliado, uma vez que é filiado ao PMDB. A participação do PMDB na chapa majoritária é um assunto interno da legenda. Hoje, o candidato do PMDB ao Senado é Jackson Barreto, que preside o partido e lidera de forma incontestável a legenda. A forma como PMDB resolverá esse problema é da economia interna do partido. A decisão que for tomada por eles nós respeitaremos. Não me compete excluir ninguém. A minha relação é com os partidos.

JC – O seu segmento político tem três candidatos ao Senado e há somente duas vagas. O senhor já declarou apoio a Jackson Barreto e a Valadares. É possível mudar de posição para aproximar mais Eduardo Amorim do seu agrupamento político?
MD – Eu dou grande valor a minha palavra. Meus compromissos políticos são transparentes e todos os aliados os conhecem. Tenho um compromisso com o senador Valadares e com o deputado Jackson Barreto. Mas saí da reunião do conselho político extremamente otimista quanto à manutenção da nossa unidade. O que eu vi na reunião realizada no sábado foi um grupo de lideranças experientes, amadurecidas, conscientes da força do nosso governo e da força da nossa coligação. Tenho plena convicção que o diálogo político consolidará a nossa unidade e realçará uma característica indiscutível do nosso grupo: é hoje o bloco mais forte da política sergipana e não vai desperdiçar essa força com falsas polêmicas ou com crises artificiais. Por isso que é importante dar tempo ao tempo. Quanto mais convivência nós tivermos, mais facilidade nós teremos para superar as divergências. Quanto mais o diálogo for intensificado, mais soluções serão desenhadas para que o nosso bloco marche com coesão e unidade no pleito de 2010.

JC – O senhor tem acompanhado as pesquisas eleitorais? Há uma delas que diz que João Alves está a sua frente e a do Padrão diz que o senhor é o preferido dos sergipanos. Essa dubiedade de resultados lhe preocupa?
MD – Não. As pesquisas são instrumentos necessários à análise, mas não tem o condão de definir os pleitos. Metodologias distintas quase sempre produzem resultados diferentes. Dependendo da máquina fotográfica que você use, o cenário será mais ou menos nítido. Portanto, analiso com naturalidade as pesquisas que me chegam às mãos. Jamais me envaideço com pesquisa boa e nunca me desespero diante de uma pesquisa ruim. Sei que o cenário eleitoral tem características próprias e possui uma dinâmica que altera completamente os parâmetros de pesquisas realizadas com antecipação de um ano.

JC – A união dos grupos de João Alves e de Nilson Lima num possível segundo turno lhe preocupa eleitoralmente?
MD – Seria uma precipitação muito grande da minha parte se antes do processo eleitoral ser deflagrado eu estivesse preocupado com segundo turno. O que eu tenho convicção é que a grande disputa de 2010 é entre o nosso projeto de transformações e o projeto de volta ao passado encarnado pela candidatura do doutor João Alves Filho. Qualquer outro movimento eleitoral levará água para um moinho ou para o outro. Mas o grande enfrentamento, a grande polarização, será entre os setores populares e as elites sergipanas.

JC
– O seu grupo está devidamente unido, agregado para o projeto político de 2010? O senhor pôde perceber isso na reunião do conselho político?
MD – Como respondi antes, saí muito otimista da reunião. Franca, solidária e democrática, a nossa coligação mostrou que tem energia e experiência suficiente para superar qualquer cenário adverso e consolidar uma unidade que vem dando certo. Eu acredito que a reunião de sábado foi marcada pelo amadurecimento e pela compreensão da responsabilidade que cada um dos líderes ali presentes tem de seu papel. Fiquei muito otimista quanto à manutenção de nossa unidade. O diálogo fluiu livre. O desejo de união é indisfarçável e as possibilidades de consolidação de uma chapa unitária são as melhores possíveis. Tenho convicção de que estaremos unidos no palanque do mesmo jeito que estamos unidos no governo.

JC – As críticas da oposição em torno do atraso do PAC e suas obras são intensas. Isso poderá lhe causar prejuízos eleitorais? Quantas e quais obras do seu governo serão entregues ainda no decorrer desse ano?
MD – Quando a oposição critica as obras do meu governo ela já foi obrigada a admitir uma primeira realidade: existem obras e muitas obras! Mas a oposição sergipana não tem autoridade moral do exemplo para cobrar do nosso governo. Se você quiser uma marca para o governo do meu antecessor eu darei agora: campeão das obras inacabadas. Rodovias, pontes, escolas paralisadas com enorme prejuízo para o desenvolvimento e para o erário sergipano. Portanto, não é no exemplo do meu antecessor que a oposição encontrará referências de velocidade e conclusão de obras. Quero lembrar o exemplo de duas escolas técnicas, fundamentais para a qualificação do ensino sergipano e para a ampliação e interiorização do ensino profissionalizante, que foram deixadas quatro anos sem que o meu antecessor colocasse um único prego nessas obras. O problema das obras públicas não é um problema sergipano, é um problema brasileiro. Uma legislação anacrônica tem permitido que empresas iniciem obras que não têm condições de concluir. Tudo isso obriga o Estado a reiniciar processos, atrasando os seus cronogramas. Mas o fundamental é que essas obras estão sendo concluídas, serão entregues, e transformarão a vida do sergipano para melhor. Este ano estamos prevendo a entrega de dezenas delas, desde rodovias e pontes, até escolas, delegacias, clínicas e hospitais.

Sem falar em outras intervenções na área do saneamento básico construídas em parceria com o governo do presidente Lula. Além das obras, outras importantes realizações estão transformando o nosso Estado a partir de uma execução ética e competente das políticas públicas. A melhoria é indiscutível. Um grande exemplo é a verdadeira revolução que estamos fazendo no campo sergipano. Nunca a agricultura familiar foi tão prestigiada e nunca os resultados foram tão excelentes, especialmente na produção da safra de grãos e nos avanços da comercialização da produção da pequena propriedade. Na área do desenvolvimento industrial, Sergipe voltou a ser um pólo de atração para grandes investimentos que geram empregos, fortalecem a nossa economia e modernizam a produção industrial de nosso Estado.

JC – A rota do sertão é de João ou sua? O asfalto é de baixa qualidade, como dizem os seus opositores?
MD – A concepção da Rota do Sertão enquanto tal é fruto do planejamento do nosso governo. A licitação do projeto e a licitação das obras foram feitas no meu governo. Todo o processo de contratação está à disposição dos deputados da oposição. Acredito até que em algum momento o meu antecessor tenha prometido fazer obras naquelas estradas. Até porque promessas não cumpridas formam o maior acervo administrativo do governo do doutor João Alves Filho. Portanto, o esclarecimento dessa questão é muito simples. Basta que a imprensa ou os parlamentares requeiram a cópia dos respectivos editais de licitação. Os documentos não mentem. O importante é que a obra foi feita, tornou-se um patrimônio do povo sergipano, em especial dos sertanejos, e já está mostrando os seus efeitos na dinamização da economia regional. Quem viajar para o Cânion do Xingó já vai encontrar uma extraordinária sinalização turística, reforçando o papel dessa obra, pensada e realizada pelo nosso governo para o desenvolvimento turístico e econômico da região.

JC – O seu governo se planeja ou vive às custas dos projetos e obras do governo anterior? O que aconteceu ou está acontecendo?
MD – Uma das grandes ações do meu governo é a recuperação do prestígio do planejamento como ferramenta de gestão. Planejamos no curto, no médio e longo prazo. O Desenvolver-SE, plano de desenvolvimento que o Estado lançou recentemente, transformou-se em parâmetro nacional pela qualidade e, sobretudo, pela forma competente como traduz as vontades do povo no formato de um plano referencial para os setores público e privado. Temos um dos melhores bancos de projetos do Brasil. Para citar um exemplo, só no DER o meu governo investiu R$ 10 milhões na elaboração de projetos para recuperação e construção de estradas. Nosso governo planeja nos gabinetes com os técnicos e no meio da rua com a população, através de mecanismos que democratizam a construção das nossas políticas públicas. Pela primeira vez em Sergipe o processo de planejamento é feito com a participação democrática de trabalhadores, empresários, cidadãos que foram mobilizados e ofereceram sugestões e contribuições que alimentaram o planejamento estratégico do Estado e referenciaram a elaboração do Plano Plurianual (PPA). O que não fazemos é legar ao esquecimento as obras que encontramos paralisadas. Não padecemos da doença do preconceito nem da visão antiquada e anacrônica das elites sergipanas. Obras que o governo anterior deixou inacabadas nós estamos concluindo, porque entendemos que essas obras não pertencem nem a João, nem a Marcelo, nem a Albano. Elas pertencem ao povo sergipano e é meu dever realizá-las para que a população possa usufruir.