Metalúrgicos de Caxias fecham acordo com aumento real

A assembleia geral realizada pelos metalúrgicos de Caxias na manhã deste sábado (22), que contou com a presença de mais de 400 trabalhadores e trabalhadoras, aprovou por unanimidade o reajuste de 6%, conforme proposta apresentada pela patronal após semanas de negociações e mobilizações nas portas de fábrica.

acordo

Além do ganho real nos salários e do melhor acordo da categoria no estado em 2009, foram garantidos avanços em direitos sociais, como ampliação no auxílio-creche, aumento nos pisos e a regulamentação do uso de câmeras de vídeo nas empresas. As conquistas foram muito valorizadas em função do ambiente da campanha ter sido marcado pelo discurso da crise, por parte dos patrões.

A campanha salarial deste ano dos metalúrgicos caxienses enfrentou um cenário adverso: a patronal insistiu no discurso da crise, mesmo diante de resultados favoráveis acumulados no último período (apesar da crise, as empresas caxienses apresentarm bons resultados, com aumento nas receitas e lucro líquido) e dos sinais de recuperação da economia local e nacional. O Sindicato dos Trabalhadores optou por seguir um caminho ousado: debater com mais profundidade os efeitos da crise na economia local e, principalmente, buscar os caminhos para a sua superação. Isto levou os trabalhadores a realizarem a campanha "Desenvolvimento, emprego e renda: assim se supera a crise", ou seja, com coragem os metalúrgicos afirmaram: "nós sabemos como se supera a crise."

Assim, as lideranças metalúrgicas ocuparam os espaços de mídia e priorizaram as ações de campanha para reforçar a necessidade da ampliação do nível de emprego no setor (para barrar as demissões em massa), de mais renda e direitos sociais, como forma de manter a economia aquecida e o consumo. Esta campanha teve como alvo não só os metalúrgicos, mas também toda a sociedade caxiense.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Assis Melo, destacou durante a assembleia que apesar desta campanha ter sido em um momento diferente em virtude da crise, a categoria conquistou novamente o melhor acordo do estado. "A campanha do sindicato chamando a atenção da sociedade para o desenvolvimento com emprego e renda mostrou que os trabalhadores tem a solução duradoura para a saída da crise."

Melo disse ainda que o resultado do dissídio revela a credibilidade do sindicato, que faz análise permanente do cenário economico e das tendências de futuro, que passaram a apontar para a recuperação da economia. "Não fizemos uma campanha pensando apenas no agora, no imediato. Ela apresentou a preocupação dos trabalhadores com uma visão de futuro, de como se supera a crise reforçando projeto de desenvolvimento, com o fortalecimento do mercado interno e da economia local e nacional", disse.

Mais direitos sociais

Assim como a recuperação e o aumento nos salários dos trabalhadores, a ampliação dos direitos sociais da categoria também são muito importantes para o Sindicato, pois se refletem em melhor qualidade de vida para os metalúrgicos e suas famílias. Entre os destaques deste dissídio está a ampliação no auxílio-creche (que hoje é para crianças com até 2 anos e 6 meses foi ampliado para 3 anos), o reajuste nos pisos da categoria (nas empresas com até 50 funcionários, será R$ 580,80 e para empresas com mais de 50 funcionários será R$ 657,80) e a cláusula que visa evitar o abuso nas horas extras (até 22 horas será pago ao funcionário 50%, até 70 horas 100% e acima de 70 horas 130%).

Um tema que ganhou relevância durante a campanha foi o referente ao uso irregular de câmeras de vídeo nas empresas para controlar a produção. O que ficou decidido no acordo de dissídio é uma regulamentação e fiscalização mais claras: as câmeras só podem ser utilizadas para zelar pelo patrimônio. Ao longo das últimas semanas, após publicação de matérias sobre o assunto na mídia local, inúmeras denúncias de abusos na utilização dos circuitos internos de TV chegaram até o sindicato através da seção "Chão de Fábrica" (espaço para denúncias existente na página do sindicato na internet).

A força da categoria

O presidente do Sindicato também destacou o papel decisivo da categoria na campanha. Segundo ele, apesar do ano apresentar condições adversas, os metalúrgicos e metalúrgicas demonstraram alto nível de participação e mobilização na campanha, dando, a todo momento, o "termômetro" do andamento da campanha para o Sindicato e a comissão de negociação dos trabalhadores. "Por isso conquistamos essa vitória tão importante. Pois há um acúmulo de compreensão na categoria metalúrgica de Caxias, que sabe da importância e do papel que tem para a economia local e nacional,"destacou Melo.

A luta deve continuar

Na avaliação do Sindicato, o tema apresentado na campanha deste ano (Desenvolvimento, emprego e renda: assim se supera a crise) é abrangente, e deve continuar sendo discutido com a categoria e a sociedade caxiense. Além disso, pautas gerais da luta dos trabalhadores, que também fizeram parte das discussões da campanha salarial, deverão continuar na ordem do dia: a luta pelas 40 horas semanais; pelo fim do fator Previdenciário; recuperação dos salários dos aposentados; aprovação das convenções 151 e 158 da OIT, entre outros. Até porque estes temas estão na pauta de votação do Congresso, em Brasília, o que exigirá, segundo Melo, ainda "muita mobilização dos trabalhadores."

Principais conquistas:

– Reajuste de 6% nos salários – o maior índice da categoria metalúrgica do RS.

– Reajuste nos pisos: as empresas com até 50 funcionários, será R$ 580,80 e para empresas com mais de 50 funcionários será R$ 657,80.

– O auxílio-creche que hoje é para crianças com até 2 anos e 6 meses foi ampliado para 3 anos.

– Foi aprovada clausula para que as empresas não abusem das horas extras. Até 22 horas será pago ao funcionário 50%, até 70 horas 100% e acima de 70 horas 130%.

– Haverá regulamentação para o uso das câmeras de vídeo. Deverão apenas zelar pelo patrimônio e não devem ser usadas para controlar a produção.

A data-base dos metalúrgicos de Caxias do Sul e região é dia 1º de junho. Isso significa que o aumento de 6% sera retroativo a junho.

Momentos do dissídio – histórico da campanha salarial 2009

Na assembleia geral do dia 23 de maio, os trabalhadores aprovaram por unanimidade a pauta de reivindicações com mais de 70 itens.

No dia 28 de maio, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos entregou ao Simecs (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas de Caxias do Sul) a pauta de reivindicações para a negociação de dissídio.

Após a assembleia foi apresentada para a imprensa e autoridades a Campanha Salarial 2009 com o tema “Desenvolvimento, Emprego e Renda: assim se supera a crise”.

A primeira reunião entre o Sindicato dos Metalúrgicos e a patronal para discutir o Dissídio 2009 ocorreu no dia 03 de julho. Representantes dos trabalhadores e patrões conversaram durante duas horas. O Simecs apresentou sua visão da atual situação econômica em Caxias do Sul porém não fez prosposta de reajuste.

Em julho a Campanha Salarial 2009 do Sindicato dos Metalúrgicos foi apresentada à comunidade caxiense através de assembleias nos bairros. O objetivo foi mostrar para os trabalhadores e também para a comunidade caxiense o tema da campanha. Foi a primeira vez que as assembleias aconteceram nos bairros.

A segunda rodada de negociação entre trabalhadores metalúrgicos e a patronal referente ao dissídio 2009 aconteceu dia 17 de julho. A reunião teve duração de duas horas e terminou com uma proposta feita pelo Simecs. Frente ao reajuste de 10% pedido pelos trabalhadores, os patrões ofereceram 5%, parcelado em duas vezes (3,5% retroativo a junho e 1,5% em novembro). Índice inferior à inflação do período que ficou em 5,45%.

A terceira reunião do dissídio 2009 entre trabalhadores e a patronal realizada dia 24 de julho terminou sem acordo. No encontro anterior o Simecs ofereceu reajuste de 5% parcelado em duas vezes (3,5% retroativo a junho e 1,5% em novembro) e neste terceiro encontro não alterou a proposta.

A quarta reunião do dissídio 2009 entre trabalhadores e a patronal realizada dia 6 de agosto também terminou sem acordo. O Simecs fez proposta de reajuste salarial de 3,5% retroativo a junho e mais 1,88% em novembro. A proposta foi rejeitada pelo Sindicato dos Metalúrgicos e foram iniciadas uma série de assembleias nas portas das fábricas com o objetivo de debater com a categoria e levar informações sobre o andamento da campanha.

Uma grande manifestação ocorreu na manhã do dia 14 de agosto, em Caxias do Sul. No início da manhã, os principais acessos à cidade, na BR 116, KM 147, entroncamento com a 3ª Perimetral e na RS 122, em frente ao Martcenter, foram bloqueados pelos trabalhadores. Os protestos fizeram parte da Jornada Nacional Unificada de Lutas e em Caxias incluiu a campanha salarial dos metalúrgicos. A manifestação prosseguiu na metade da manhã com uma caminhada pelas ruas centrais de Caxias e teve encerramento com ato público na Praça Dante.

Na reunião entre trabalhadores e patronal do dia 14 de agosto também não houve acordo sobre o dissídio. A patronal ofereceu reajuste de 5,45%(a inflação do período) retroativo a junho, desta vez em parcela única.

Durante toda a campanha aconteceram assembleias nas fabricas. As duas últimas e grandes mobilizações aconteceram na Randon e na Marcopolo nos dias 19 e 20 de agosto.

Dia 22 de agosto aconteceu a assembleia geral extraordinária para definir os rumos e debater as propostas até o momento. O Simecs entrou em contato com o presidente Assis Melo pouco antes do início da assembleia e fez a proposta de 6%. Os trabalhadores e trabalhadoras debateram o índice e mais as cláusulas sociais e aprovaram por unanimidade a proposta.

De Caxias do Sul
Clomar porto e Marcio Schenatto