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PSDB paulista lança 'megaportal' para ajudar Serra em 2010

O crescimento do número de internautas no país, hoje em torno dos 65 milhões, torna a grande rede uma ferramenta essencial na elaboração das estratégias de campanha para as eleições. Preocupado com isso, o PSDB paulista, sob as ordens diretas do governador José Serra, iniciou a batalha pela eleição presidencial em 2010 lançando nesta segunda-feira (24) um grande portal, o www.tucano.org.br. O novo site segue os conceitos da web 2.0 – com conteúdo em texto, áudio e vídeo, espaço para chats e links para a página do partido em redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook – em um ambiente colaborativo.

Site do PSDB paulista

O portal é iniciativa do PSDB paulista, mas anunciou a criação de uma rede nacional, com a interação dos outros diretórios da sigla. Porém, à primeira vista, o governador mineiro Aécio Neves não terá muito espaço na nova página tucana, que já foi inaugurada dando destaque para o pretendente paulista à sucessão de Lula, o governador José Serra.

Com o novo portal, os tucanos tentam diminuir a desvantagem que percebem ter no mundo virtual. "Precisamos reunir o nosso exército para enfrentar este novo momento virtual e o tucano.org.br será a porta de entrada dos nossos militantes", afirma César Gontijo, secretário-geral da Executiva Estadual do PSDB de São Paulo e um dos idealizadores do novo portal. Na sua avaliação, o PT saiu na frente no que ele classifica de "guerra cibernética contra os tucanos".

Ele cita, por exemplo, que se for feita uma busca no YouTube (site de compartilhamento de vídeos) com os nomes de Dilma Rousseff (PT) e de José Serra (PSDB), pré-candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os primeiros resultados dos vídeos da petista são altamente positivos e favoráveis. E com Serra, ocorre o inverso, com vídeos desfavoráveis e negativos. "Nossa ação não será de ataque ou revide, mas sim propositiva", informa o secretário-geral.

Gontijo diz que o novo portal não foi criado apenas com foco nas eleições 2010. "Estamos acompanhando uma tendência natural de interatividade e queremos também melhorar um dos grandes desafios do partido, que é a comunicação." Porém, ele reconhece a força que essa ferramenta terá nas eleições ao propiciar aos militantes e simpatizantes um instrumento para a troca de ideias e ao partido, um canal para a disseminação de sua plataforma.

Além da interatividade e do acesso às redes sociais, o novo portal traz também a tucanopedia, que funcionará da mesma forma que a enciclopédia virtual Wikipedia e exibirá o perfil dos filiados, a TV tucana, que exibirá programas ao vivo e abrirá espaço para perguntas dos internautas, um mapa interativo e um extranet para os cerca de 150 mil filiados no Estado. A tecnologia é tanta que para entrar no site o internauta precisa ter a última versão do Flash, o que pode inviabilizar a visita de muitos internautas.

O líder tucano não revelou quanto o projeto custou e nem quem está pagando pela manutenção do site. "Podemos dizer que o portal é resultado da força da nossa militância", desconversou Gontijo. Ele revelou apenas que o projeto contou com a ajuda de colaboradores como João Gaião (publicitário, consultor de marketing político, diretor de vídeo e cinema) e Ricardo Gonçalves (diretor-executivo da empresa de tecnologia Mundo Livre).

Enfrentar a blogosfera antineoliberal

O jornal O Estado de S. Paulo, que deu destaque para o lançamento, tentou fazer o contraponto à iniciativa tucana buscando a opinião de dirigentes petistas, como se o PT fosse o outro lado desta batalha política cibernética. Questionado sobre o lançamento do portal do PSDB, o secretário nacional de Comunicação do PT, Gleber Naime, adiantou que a legenda tem planos de melhorias permanentes e graduais de sua comunicação via portal e redes sociais, sem entrar em detalhes. Para disseminar o nome de Dilma Rousseff até o pleito do ano que vem, o PT quer apostar na militância do "mundo real". "O PT vê os novos instrumentos de comunicação como meios, não como um fim, nada substitui a ação humana", argumenta Naime, reconhecendo, contudo, que "a internet e as redes sociais são meios mais ágeis e baratos para informar e trocar informação".

Quem acompanha politica pela internet sabe que o contraponto à mídia hegemônica e à oposição de direita é feita não pelas iniciativas de comunicação do PT, mas sim por uma extensa rede de blogueiros e sites de esquerda que nem sempre tem identidade partidária com os petistas, mas mantém uma linha de enfrentamento contra a grande mídia e a direita.

As classes na rede

A importância da internet no processo eleitoral é destacada por Leonardo Bortoletto, diretor comercial da Web Consult e especialista em marketing digital e desenvolvimento. "Não dá para pensar hoje em uma campanha política sem o uso da internet." Ele cita que é muito bom o PSDB estar sintonizado com o mundo virtual para essas eleições porque, em comparação com o PT, os tucanos estão um pouco atrasado. "Nas próximas eleições, a internet deve ser vista como um canal que também poderá gerar votos."

Um dos temores da classe política em investir nessa ferramenta é a crença de que a rede ainda é dominada pela elite (classes A e B). No entanto, Bortoletto cita dados da consultoria e-bit que desmontam essa teoria. "Os números mais recentes do e-bit mostram que 51% das vendas de comércio eletrônico registradas no Brasil são feitas atualmente pelas classes C, D e E. E, em termos de navegação, o índice é ainda maior."

Como a internet será uma ferramenta poderosa nas eleições, o especialista defende que as regras para a campanha na rede não sejam restritivas. "É preciso regulação, mas se proibirmos a manifestação do eleitor na web será um retrocesso sem limites."

Na avaliação de Moriael Paiva, diretor de criação da Talk Interactive e especialista em marketing político digital – ele coordenou a área digital da campanha vitoriosa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) nas eleições do ano passado -, o político que não se preparar para se basear nesse meio vai sair atrás numa campanha.

Apesar disso, ele diz que a internet no Brasil ainda não terá um peso decisivo num pleito, como ocorreu na eleição do presidente norte-americano, Barack Obama. "Mas terá um papel importantíssimo." No seu entender, para ter sucesso, uma campanha precisa integrar e dar coerência a todos os seus canais de comunicação. Paiva já coordenou também a área digital da campanha presidencial de Serra em 2002.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo