Cariocas fazem ato contra privatização dos bondes
Denunciada há anos pelos moradores, a precariedade do serviço de transporte “modernizado” causou uma morte na última semana e segue ameaçando vidas. Manifestação no último domingo (23) cobrou punição dos culpados, suspensão definitiva das atividades dos novos bondes inapropriados e manutenção para os antigos, além de transparência nos contratos. Novo ato acontece na terça (25), às 11h, na Cinelândia, Centro da cidade.
Publicado 25/08/2009 15:18

Moradores do bairro Santa Teresa, na zona sul do Rio de Janeiro, e a família da professora Andréa de Jesus Resende, morta no dia 16 de agosto em acidente no bonde que é o principal meio de transporte do bairro, realizaram manifestação no último domingo (23/8), exigindo a responsabilização das autoridades pelo acidente e cobrando soluções imediatas para o já crônico problema que afeta moradores e visitantes do local.
Aproximadamente setenta pessoas reuniram-se no Largo do Guimarães, um dos principais pontos do bairro, para prestar solidariedade aos familiares e amigos de Andréa e denunciar a situação caótica dos bondes de Santa Teresa. A atividade começou por volta das 11h, com uma missa em homenagem à professora na Igreja Anglicana do bairro. Após a missa, os manifestantes seguiram em caminhada pelo Largo do Guimarães até a oficina responsável pelos bondes. Durante o trajeto, familiares de Andréa e representantes da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) destacaram a necessidade de respostas imediatas dos governos para o problema.
Mãe de Andréa quer processar governo estadual
Maria Aparecida de Jesus Resende, mãe da vítima, declarou que sua luta é por justiça e para evitar que novos acidentes aconteçam. Ela anunciou que abrirá nesta segunda um processo contra o governo do estado: “entrarei com processo na Justiça. Minha filha morreu por irresponsabilidade do governo e os culpados têm que ser punidos. Como se pode continuar a fazer testes com a vida humana? Daqui a pouco, a mesma tragédia pode atingir outras pessoas, e não posso permitir isso. Se minha filha estivesse aqui, tenho certeza que estaria lutando desta forma”, disse.
Durante a caminhada, faixas e cartazes exibidos pelos manifestantes denunciavam a irresponsabilidade do governo: “Tragédia anunciada: punição para as autoridades assassinas”, “A omissão do governo matou Andréa”, “Contra a privatização dos bondes – destinação turística é exclusão social”, entre muitos outros dizeres, expressavam a indignação que tomou conta do ato.
Juçara Braga, vice-presidente da Amast, reforçou as denúncias sobre a postura do governo, que considera omissa: “no sábado anterior ao acidente que vitimou Andréa e deixou outras nove pessoas feridas, divulgamos uma nota pública denunciando o problema dos bondes e alertando que um acidente grave poderia acontecer. Menos de 24 horas depois, o acidente aconteceu. Essa é uma situação repetida, já são três acidentes registrados e muitos outros sem registro. Uma semana antes da morte de Andréa, houve um outro acidente do mesmo tipo, envolvendo falha do freio do bonde. Agora, o governo precisa se manifestar”, disse.
Modernização atrasada
Juçara explicou que o principal problema reside no processo de “modernização” dos bondes. Uma reforma promovida pela secretaria de transportes do estado e operada pela empresa TTrans implantou, em 2007, bondes com um novo sistema, conhecidos como VLTs – Veículos Leves sobre Trilhos. Os veículos, inadequados para a realidade do bairro, são comumente usados em asfalto, para trens, e não possuem o sistema de freio manual dos bondes centenários de Santa Teresa – o que vem causando os acidentes. Além disso, a Amast denuncia que o contrato para implantação dos novos bondes foi considerado ilegal pelo Tribunal de Contas do Estado e cobra transparência no processo.
Juçara destacou que a transição para a nova tecnologia, inapropriada para o bairro, tem custo de R$ 1 milhão por veículo, enquanto a reforma dos centenários bondes poderia ser feito com custo muito menor, por volta de R$ 200 mil. Completando a denúncia, lembrou que atualmente há dois bondes antigos circulando sem qualquer manutenção e que os funcionários da oficina responsável trabalham sem condições básicas: “Por pressão da comunidade, os VLTs estão sem circular desde a última quinta-feira (20). Mas há dois bondes antigos circulando sem condições de funcionamento, porque não recebem manutenção há muito tempo. Um novo acidente pode acontecer, e é preciso dizer que não será por problemas com a estrutura dos bondes antigos, e sim por falta de manutenção, essencial para qualquer veículo”.
Amast é contra privatização
Os representantes da Amast fazem questão de frisar que todo o processo de omissão em relação aos bondes tem claro objetivo de privatização: “É aquela velha prática que conhecemos bem: desmantelar os serviços públicos, deixá-los sem investimento, abandonados, funcionando mal, para ter desculpa para privatizar. Não vamos aceitar isso. Nossa reivindicação é manutenção do sistema centenário dos bondes, apropriado para Santa Teresa, com verbas e estrutura para seu funcionamento. Além disso, o governo do estado e a secretaria de transportes precisam vir a público se responsabilizar pelo acidente”, finalizou Juçara.
Nesta terça-feira (25/8), estava previsto um novo ato. A manifestação foi marcada em frente ao prédio da Justiça Federal, na Cinelândia, às 11h. O objetivo é pressionar as autoridades para julgamento favorável da ação civil pública movida pela Amast contra o governo do estado, a prefeitura e demais envolvidos no processo de desmonte dos bondes de Santa Teresa. A ação é complementar a outra, movida pelo Ministério Público, que pede restabelecimento dos bondes antigos. A Amast reivindica, também, a retirada dos VLTs, a inspeção sobre o destino dos bondes antigos (muitos foram levados para o interior do estado) e a garantia de sistema de manutenção adequado para os bondes centenários.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias
Fotos: Samuel Tosta