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Cariocas fazem ato contra privatização dos bondes

Denunciada há anos pelos moradores, a precariedade do serviço de transporte “modernizado” causou uma morte na última semana e segue ameaçando vidas. Manifestação no último domingo (23) cobrou punição dos culpados, suspensão definitiva das atividades dos novos bondes inapropriados e manutenção para os antigos, além de transparência nos contratos. Novo ato acontece na terça (25), às 11h, na Cinelândia, Centro da cidade.

Moradores do bairro Santa Teresa, na zona sul do Rio de Janeiro, e a família da professora Andréa de Jesus Resende, morta no dia 16 de agosto em acidente no bonde que é o principal meio de transporte do bairro, realizaram manifestação no último domingo (23/8), exigindo a responsabilização das autoridades pelo acidente e cobrando soluções imediatas para o já crônico problema que afeta moradores e visitantes do local.

Aproximadamente setenta pessoas reuniram-se no Largo do Guimarães, um dos principais pontos do bairro, para prestar solidariedade aos familiares e amigos de Andréa e denunciar a situação caótica dos bondes de Santa Teresa. A atividade começou por volta das 11h, com uma missa em homenagem à professora na Igreja Anglicana do bairro. Após a missa, os manifestantes seguiram em caminhada pelo Largo do Guimarães até a oficina responsável pelos bondes. Durante o trajeto, familiares de Andréa e representantes da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) destacaram a necessidade de respostas imediatas dos governos para o problema.

Mãe de Andréa quer processar governo estadual

Maria Aparecida de Jesus Resende, mãe da vítima, declarou que sua luta é por justiça e para evitar que novos acidentes aconteçam. Ela anunciou que abrirá nesta segunda um processo contra o governo do estado: “entrarei com processo na Justiça. Minha filha morreu por irresponsabilidade do governo e os culpados têm que ser punidos. Como se pode continuar a fazer testes com a vida humana? Daqui a pouco, a mesma tragédia pode atingir outras pessoas, e não posso permitir isso. Se minha filha estivesse aqui, tenho certeza que estaria lutando desta forma”, disse.

Durante a caminhada, faixas e cartazes exibidos pelos manifestantes denunciavam a irresponsabilidade do governo: “Tragédia anunciada: punição para as autoridades assassinas”, “A omissão do governo matou Andréa”, “Contra a privatização dos bondes – destinação turística é exclusão social”, entre muitos outros dizeres, expressavam a indignação que tomou conta do ato.

Juçara Braga, vice-presidente da Amast, reforçou as denúncias sobre a postura do governo, que considera omissa: “no sábado anterior ao acidente que vitimou Andréa e deixou outras nove pessoas feridas, divulgamos uma nota pública denunciando o problema dos bondes e alertando que um acidente grave poderia acontecer. Menos de 24 horas depois, o acidente aconteceu. Essa é uma situação repetida, já são três acidentes registrados e muitos outros sem registro. Uma semana antes da morte de Andréa, houve um outro acidente do mesmo tipo, envolvendo falha do freio do bonde. Agora, o governo precisa se manifestar”, disse.

Modernização atrasada

Juçara explicou que o principal problema reside no processo de “modernização” dos bondes. Uma reforma promovida pela secretaria de transportes do estado e operada pela empresa TTrans implantou, em 2007, bondes com um novo sistema, conhecidos como VLTs – Veículos Leves sobre Trilhos. Os veículos, inadequados para a realidade do bairro, são comumente usados em asfalto, para trens, e não possuem o sistema de freio manual dos bondes centenários de Santa Teresa – o que vem causando os acidentes. Além disso, a Amast denuncia que o contrato para implantação dos novos bondes foi considerado ilegal pelo Tribunal de Contas do Estado e cobra transparência no processo.

Juçara destacou que a transição para a nova tecnologia, inapropriada para o bairro, tem custo de R$ 1 milhão por veículo, enquanto a reforma dos centenários bondes poderia ser feito com custo muito menor, por volta de R$ 200 mil. Completando a denúncia, lembrou que atualmente há dois bondes antigos circulando sem qualquer manutenção e que os funcionários da oficina responsável trabalham sem condições básicas: “Por pressão da comunidade, os VLTs estão sem circular desde a última quinta-feira (20). Mas há dois bondes antigos circulando sem condições de funcionamento, porque não recebem manutenção há muito tempo. Um novo acidente pode acontecer, e é preciso dizer que não será por problemas com a estrutura dos bondes antigos, e sim por falta de manutenção, essencial para qualquer veículo”.

Amast é contra privatização

Os representantes da Amast fazem questão de frisar que todo o processo de omissão em relação aos bondes tem claro objetivo de privatização: “É aquela velha prática que conhecemos bem: desmantelar os serviços públicos, deixá-los sem investimento, abandonados, funcionando mal, para ter desculpa para privatizar. Não vamos aceitar isso. Nossa reivindicação é manutenção do sistema centenário dos bondes, apropriado para Santa Teresa, com verbas e estrutura para seu funcionamento. Além disso, o governo do estado e a secretaria de transportes precisam vir a público se responsabilizar pelo acidente”, finalizou Juçara.

Nesta terça-feira (25/8), estava previsto um novo ato. A manifestação foi marcada em frente ao prédio da Justiça Federal, na Cinelândia, às 11h. O objetivo é pressionar as autoridades para julgamento favorável da ação civil pública movida pela Amast contra o governo do estado, a prefeitura e demais envolvidos no processo de desmonte dos bondes de Santa Teresa. A ação é complementar a outra, movida pelo Ministério Público, que pede restabelecimento dos bondes antigos. A Amast reivindica, também, a retirada dos VLTs, a inspeção sobre o destino dos bondes antigos (muitos foram levados para o interior do estado) e a garantia de sistema de manutenção adequado para os bondes centenários.

Fonte: Agência Petroleira de Notícias

Fotos: Samuel Tosta