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Colonos judeus jogam na rua famílias árabes

A continuada política israelense de judaizar Jerusalém oriental, com o objetivo de ganhar terreno antes que se decida o futuro desta parte da cidade, deixou dezenas de palestinos sem casa e dormindo nas ruas. Centenas mais estão em perigo. Os colonos judeus estariam usando documentos falsos para ficar com as casas.

Por Mel Frykberg, da IPS

A polícia de Israel desalojou 53 refugiados palestinos de suas casas no subúrbio de Sheikh Jarrah, incluindo 20 crianças. Muitos ficaram feridos durante a expulsão. Os refugiados eram das famílias Hanoun e Al Ghawi.

No começo deste mês, o bairro foi submetido a um duro cerco e declarado zona militar. Os jornalistas foram impedidos de entrar e os que filmavam de longe foram reprimidos pelos soldados ou pela polícia. Os pertences das famílias foram jogados em uma rua próxima. Pouco depois, a polícia ajudou os colonos judeus a entrarem nas casas evacuadas. Toda a família Hanoyun agora dorme em um colchão sobre as pedras da rua de seu antigo lar, enquanto observa os colonos entrarem e saírem dele.

“Os colonos jogaram pedras e nos insultaram”, contou Maher Hanoun, um dos desalojados. Inclusive, tentaram obter uma ordem judicial para obrigar as famílias expulsas a desmontarem seu acampamento na rua, mas o tribunal disse que estas poderiam permanecer no local enquanto ano os “assediassem”. Os Hanoun e outras famílias palestinas na mesma situação dependem agora da boa vontade dos vizinhos para comer e se lavar. “É muito duro ver estranhos mudando-se para sua casa, de onde te expulsaram com seus três filhos, especialmente quando sabes que a casa não lhes pertence”, disse à IPS Nadia Hanoun, de 43 anos. “É humilhante e incomodo viver na rua. Não temos privacidade. Nem mesmo posso me lavar nem usar o banheiro sem permissão. Meus filhos teriam de voltar à universidade e à escola, mas não têm onde estudar”, acrescentou.

As casas de Hanoun e dos Al Ghawi foram construídas pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio e pelo governo da Jordânia em 1956. as moradias, como tantas outras, foram erguidas especificamente para abrigar 28 famílias palestinas refugiadas que haviam fugido de Israel ou foram desterradas durante a guerra que se seguiu à criação do Estado judeu em 1948. O prefeito de Jerusalém, Uri Lupolianski, destacou os esforços para judaizar o bairro de Wadi Joz, em Jerusalém oriental, em uma carta ao Ministério da Habitação em 2004. “Dividir em zonas o bairro para uma população judia provavelmente contribuirá significativamente para a unificação da cidade. A medida fortalecerá o vínculo entre os bairros judeus e as instituições na área do Monte Scopus, na zona oriental da Cidade Velha”, afirmou.

Quando Israel anexou e ocupou Jerusalém oriental após a guerra dos Seis Dias, em 1967, adotou uma série de procedimentos legais e administrativos para assumir o controle da terra. Em 1982, vários grupos de colonos israelenses apresentaram um suposto documento de 1875 (quando a zona era parte do Império Turco Otomano) junto a Registro de TerrasIsraelense, reclamando a propriedade das casas da família Hanoun e Al Ghawi. Mas a guerra em Gaza, em janeiro, e as acidas relações de Israel com a Turquia permitiram aos advogados dos Hanoun ter acesso a arquivos otomanos que demonstraram, segundo as autoridades turcas, a falsidade do documento apresentado pelos colonos.

Quando a família Hanoun recebeu a ordem de despejo em fevereiro, seu advogado apresentou na Suprema Corte Israelense nova evidência das autoridades turcas, jordanianas e islâmicas. Mas o tribunal manteve a ordem dizendo que o assunto foi tratado dois anos atrasado, pois as disputas sobre propriedade de terras têm de ser resolvidas dentro dos 25 anos desde a primeira apresentação do caso na justiça. “Se a família soubesse do documento falsificado, teria levado o caso à justiça há dois anos. Mas, soube apenas este ano, quando as autoridades turcas começaram a colaborar mais”, disse à IPS o advogado da família, Hosni Al Hussein. Porém, Al Hussein está decidido a continuar lutando. “Trabalhamos agora para apresentar nova documentação aos tribunais israelenses, confirmando que os papeis usados pelos colonos são falsos”, disse.

Os Al Ghawi e os Hanoun receberam apoio de vários grupos internacionais, bem como a simpatia de muitos israelenses que os visitaram e dormiram com eles. Porém, as famílias não estão muito otimistas sobre as possibilidades de voltarem para suas casas. “Pode ser muito tarde para nós retornar à casa, mas lutar para acabar com isto não é algo sobre nossa família, mas sobre as centenas de outros palestinos que foram desalojados e que serão desalojados no futuro como parte da política israelense de limpeza étnica”, disse Maher à IPS.

Como se não bastasse tudo isso, as autoridades israelenses multaram os Hanoun emmais de US$ 50 mil por terem se negado a deixar sua casa “voluntariamente”, e a cada dia que passam sem pagar a multa são acrescidos juros. A polícia também está vigiando as famílias sem lar constantemente. As patrulhas passam várias vezes ao dia pelo local onde acampam. Segundo um informe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCAH), 475 palestinos no bairro de Sehikh Jarrah estão em risco de serem desajolados. A OCAH diz que os colonos tentam construir 540 unidades habitacionais ilegais na área. Este número não inclui outras zonas de Jerusalém oriental.