Opinião: Lula pôs azeitona no empadão goiano
A seguir opinião do presidente estadual do PCdoB-GO, Luiz Carlos Orro publicada no Diário da Manhã sobre as avaliações pós visita de Lula a Goiás.
Publicado 25/08/2009 18:02 | Editado 04/03/2020 16:44
Passada uma semana da visita do presidente Lula a Goiás, avolumam-se as opiniões e avaliações sobre o acontecido. E isso ainda vai dar muito pano pra manga, pois o assunto é complexo, são diversos os interesses envolvidos e há os inevitáveis desdobramentos. O Presidente, além de inaugurar, vistoriar e anunciar obras, pôs azeitona no empadão da política goiana, ao inflar uma possível candidatura de Henrique Meirelles ao governo de Goiás. Direito de fazer costuras políticas ele tem, pelo Brasil e pelo mundo afora. Mas também se obrigava, na solenidade, a ser grato e cortês com os anfitriões Iris e Alcides , diante da multidão de mais de 30 mil pessoas na Praça Cívica, grande parte mobilizada pelo esforço do prefeito de Goiânia. Não fosse Iris Rezende nome já cogitado para o pleito do ano vindouro, o episódio decerto não teria maior importância. Mas teve, tem e terá, pelos efeitos que o ato do presidente provoca entre os aliados.
A controvérsia aumenta em razão de que nada foi tratado previamente com os partidos aliados que integram a base do presidente Lula, e de certa forma, nem com o próprio PT de Goiás. É preciso refletir sobre esse caminho apontado por Lula. Se o que ele pretendeu foi demarcar os campos e isolar ainda mais o senador Marconi, marcou um tento, sem dúvida. Afinal, Meirelles é o candidato dos sonhos do governador Alcides, e segundo consta, já procurou o DEM de Caiado e Demóstenes para conversar, obtendo boa receptividade. Por aí se consolidaria o racha da base aliada do governo estadual, o que deixaria a candidatura tucana praticamente sozinha. Mas cabe indagar se esse movimento se sustentará, pois muitos fatores conspiram contra esse objetivo. Afinal, se só há uma vaga para governador em 2010, qual a serventia da jogada com pau de dois bicos? E mais: como é que essa aliança em torno de Meirelles sustentaria em Goiás a campanha para eleger um sucessora/a afinado com Lula? Junto com o DEM, que bate no governo Lula dia e noite, feito monjolo? E a pergunta chave que ainda não foi respondida e que não quer calar: quem sairá candidato para uma aventura em 2010? Ao que se sabe, nem Iris Rezende nem Henrique Meirelles.
Deve ser levado em conta que nem Iris nem o presidente do Banco Central aceitarão soluções armengadas; não estão dispostos a entrar em bola dividida, numa campanha sem apoios muito bem amarrados. Por que é que o prefeito Iris Rezende, com a história de homem público realizador e o prestígio político que tem, abdicará de quase dois anos de mandato, sem garantia de forte apoio por parte do presidente e do PT? Como se vê, o feitiço lançado para isolar Marconi pode se virar contra o feiticeiro. Na política não adianta buscar novos aliados se isso implica na perda de aliados atuais, é trocar seis por meia dúzia, e se o PMDB se descola de um projeto comum com os demais partidos que já tem caminhado junto desde 2008, o resultado final pode ser ainda pior. Então, a estratégia de dois palanques da base lulista pode ruir muito rapidamente, pelo simples motivo de que sem uma convergência de vontades entre os principais protagonistas ela não se sustenta. Pode até haver dois candidatos de partidos da base lulista, mas com certeza só um terá o apoio de Lula. Há milênios atrás, o chinês Sun Tzu (A Arte da Guerra) já ensinava que não adiantava vencer uma ou várias batalhas, o que importa é vencer aquela decisiva, que resulta em ganhar a guerra. Nem com muito boa vontade se pode avaliar que a Praça Cívica da semana passada teve importância de movimento decisivo para ganhar o jogo.
De nossa parte, podemos antecipar que os comunistas goianos não tem apetite para comer prato feito e tem inúmeras razões para preferir Iris a Meirelles na disputa pelo Palácio das Esmeraldas. Creio até que seja possível uma solução ampla para as duas vagas do Senado, quem sabe até com Meirelles. Mas é preciso tratar a questão, de maneira respeitosa e democrática, com os aliados da grande batalha eleitoral de 2010.
*Luiz Carlos Orro é presidente estadual do Partido Comunista do Brasil – PCdoB/GO.