Senador Flávio Arns sai do PT após oito anos
O senador paranaense Flávio Arns anunciou em discurso nesta quinta-feira (27) seu desligamento do PT, sem anunciar para qual partido iria. O principal motivo alegado foi "a atitude do Partido dos Trabalhadores, que orientou senadores a votarem pelo arquivamento de representações junto ao Conselho de Ética contra o Presidente daquela Casa [José Sarney, PMDB-AP)". Originário do PSDB, Arns permaneceu no PT por oito anos, elegendo-se senador pela legenda da estrela em 2002.
Publicado 27/08/2009 18:50
Em carta ao Diretório Municipal do PT de Curitiba entregue pela manhã, Arns afirma que a orientação para o partido votar pelo arquivamento das representações foi dada "em flagrante distanciamento e violação aos princípios e diretrizes que sempre nortearam o ideal do partido".
Arns referiu-se à possibilidade de perda do mandato por infidelidade partidária, afirmando que o exercício do mandato exige sintonia com a sociedade. Ele acrescentou que, se houver um debate judicial sobre a questão, irá enfrentá-lo "com tranquilidade e segurança". "Não fui eu o infiel, mas sim o partido, que foi infiel à sua história e ao seu programa", afirmou.
O agora ex-petista foi aparteado por seis senadores, três deles do PSDB. Eduardo Azeredo (PSDB-MG) citou que Flávio Arns teria sido chamado de "encrenqueiro" pelo presidente Lula. "É encrenqueiro, sim, para defender as boas causas", disse Azeredo, chamando-o de "homem público de primeira grandeza".
O cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que é tio do senador, enviou telegrama de "p arabéns pela atitude coerente". Arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo, Dom Evaristo estendeu seu "apoio benemérito à senadora Marina, senador amigo Simon" – a primeira (AC) deixou também o PT, enquanto o último (PMDB-AC) fez um discurso de duas horas pedindo a saída de Sarney.
Professor universitário, 58 anos, Flávio Arns entrou na política em 1990, quando se elegeu deputado federal pelo PSDB. Reelegeu-se à Câmara pela mesma legenda em 1994 e 1998. Passou ao PT em 2001 e em 2006 concorreu ao governo do Paraná mela mesma sigla.
Quando o senador anunciou a intenção de sair do partido, o deputado André Vargas (PT-PR) escreveu um artigo, Flavio Arns, em respeito à verdade, com críticas. Para Vargas, Arns elegeu-se em 2002 "na esteira da grande votação do presidente Lula", mas "no Senado, inúmeras vezes se aproximou das posições políticas da nossa oposição".
Confira também a íntegra a carta de desligamento de Flávio Arns:
Durante toda a minha trajetória política, mesmo antes do meu ingresso no Partido dos Trabalhadores, venho atuando em atenção aos movimentos sociais que visam ao bem comum, atento ao combate às desigualdades, injustiças, exclusão e quaisquer formas de discriminação.
Entretanto, considerando:
– a atitude do Partido dos Trabalhadores, que orientou Senadores a votarem pelo arquivamento de representações junto ao Conselho de Ética contra o Presidente daquela Casa, em flagrante distanciamento e violação aos princípios e diretrizes que sempre nortearam o ideal do Partido;
– que a referida orientação ignorou o documento assinado por todos os Senadores da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em que requeriam a apuração e investigação das denúncias encaminhadas ao Conselho de Ética;
– a discriminação relativa à minha pessoa e ao meu mandato popular, manifestada por membros do Partido e até mesmo pelo Senhor Presidente da República;
– o meu dever de lealdade para com as entidades sociais, segmento que me colocou na vida pública e que, reconhecidamente, presta inestimável serviço a toda a comunidade paranaense e brasileira;
– o meu compromisso com o povo paranaense, que me outorgou o mandato de Senador da República, compromisso ess e em consonância com as bandeiras originais do Partido, as quais propugnam a defesa intransigente do comportamento ético no trato da coisa pública como condição básica para o exercício do mandato;
– por fim, o princípio da indissociabilidade do meu mandato com os anseios de toda a sociedade brasileira;
venho comunicar meu desligamento das fileiras do Partido dos Trabalhadores, pedindo que seja este formalizado internamente, ao tempo em que enalteço o trabalho da militância responsável pela construção desse Partido, cujo respeito aos princípios que o fundamentaram poderia ter estabelecido uma nova maneira de se fazer política no País.
Flávio Arns”
Da redação, com agências