Brasil perde 35 mil pessoas no trânsito por ano

Artigo do deputado federal Osmar Júnio fala sobre as políticas públicas em relação ao trânsito brasileiro.

Deputado Osmar - Arquivo

Poucas décadas atrás, nosso país enfrentava, pelo menos, dois grandes desafios. Eram questões recorrentes. Refiro-me ao déficit habitacional e a escassez de saneamento básico, características que nos acompanham há bastante tempo.

Ainda há muito o que fazer para superarmos estes desafios. Porém, existem políticas claras de combate àquelas mazelas. Podemos, eventualmente, achar tais políticas insuficientes, tímidas, incompletas, etc, mas não podemos ignorar o fato de que o executivo federal tem um conjunto de ações voltadas àqueles pontos.

Atualmente, o Brasil apresenta outro mega problema que ainda não gerou políticas de combate. E, no entanto, suas conseqüências em termos econômicos e sociais são alarmantes. Refiro-me ao trânsito de veículos, particularmente em nossas m a i o r e s c i d a d e s.

A atual frota circulante nacional, segundo o Denatran, é estimada em 55,9 milhões de veículos. Deste total, são 32,8 milhões de automóveis e 11,5 milhões de motocicletas. O que é assustador, entretanto, é que em 1999, logo, somente 10 anos atrás, a frota circulante era de 27,2 milhões. Ou seja, dobramos o número de veículos no país em 10 anos. E foi dobrada a infraestrutura – de maneira geral – de apoio a tal trânsito de veículos? Nem de longe. Ou melhor: se algo dobrou, ou mesmo mais do que dobrou, neste assunto, foram os fotos sensores e as multas que teoricamente teriam a função de educar a população sobre a postura correta no trânsito. Infelizmente, as multas tornaram-se fonte de receita que o setor público não pode mais abrir mão e que, por outro lado, divorciaram-se, por completo, de sua inicial função educativa.

A constituição de 1988 passou a responsabilidade do trânsito para os municípios brasileiros. Estes, entretanto, não parecem estar à altura do desafio. O Brasil paga caro por este fracasso ou omissão. Em termos de vidas humanas, segundo a Organização Mundial de Saúde, nosso país tem o quinto maior número de mortes no trânsito de todo o mundo. Em 2007, houve 35,1 mil mortes causadas por desastres com automóveis em nosso país. São 18 mortes para cada 100 mil habitantes. Em termos absolutos, somente Índia, China, Estados Unidos e Rússia nos superam.

Também é assustadora a constatação de que metade das vítimas não estava de carro; eram pedestres ou ciclistas. Com o significativo crescimento da atual frota nacional, é claro que se acentuará o número de vítimas de trânsito.

Concluindo, surge uma vigorosa política nacional que enfrente este novo desafio. É evidente que as montadoras de veículos, assim como os fabricantes de motocicletas, ciclomotores, motonetas, etc, tem uma forte contribuição na geração de emprego e renda no país. Mas também deve ser levado em conta que as nossas maiores cidades, em particular, não estão prontas para gerir a atual frota de v e í c u l o s, e m c o n t í n u o crescimento.

Na ausência de uma política nacional, a conta a pagar é pesada. São 35 mil vidas perdidas anualmente no Brasil, são engarrafamentos crescentes em cidades e bairros que nunca os tiveram e são horas incalculáveis em que milhões de pessoas ficam “presas” no trânsito.