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Serra classifica protestos em Heliópolis de "vandalismo"

O corpo da adolescente de 17 anos que morreu na noite desta segunda-feira após ser atingida por uma bala perdida em Heliópolis (zona sul de São Paulo) foi enterrado na manhã desta quarta-feira no cemitério São Pedro (Vila Alpina). Amigos da vítima reclamam da polícia e criticam imprensa. PM acusa tráfico de ter planejado os protestos e governador José Serra classifica protestos de "vandalismo".

Revoltadas com a autação da Guarda Civil Municipal de São Caetano do Sul (SP), reclamando da PM, criticando a imprensa e gritando por "justiça", cerca de cem pessoas acompanharam o enterro da estudante Ana Cristina de Macedo, 17, nesta quarta-feira (2/9) no cemitério São pedro, na Vila Alpina (zona sul de SP).

A jovem foi morta na noite de segunda-feira (31/8), após ser atingida por u tiro em Heliópolis, segunda maior favela do Brasil. A versão oficial é a de que guardas civis de São Caetano trocaram tiros com dois homens que roubaram um carro particular naquela cidade e fugiram para a favela.

A sogra de Ana Cristina, a doméstica Marilene Pereira de Souza, disse que a família deveria processar a Prefeitura de São Caetano e cobrou celeridade nas investigações. Amigos da adolescente culpavam os jornalistas pelo clima de animosidade no bairro. Sobre a PM, relataram que ela maltrata a população de Heliópolis. A acusação foi refutada pelo porta-voz da corporação para este caso, o capitão Maurício de Araújo.

Antes de enterrar o corpo, familiares de Ana Cristina pediram que jornalistas ficassem longe do túmulo.

PM diz que tráfico organizou protestos

A Polícia Militar afirma que o protesto de moradores ocorrido na terça-feira (1/9) foi orquestrado por traficantes. A PM diz ter encontrado com moradores um bilhete, escrito a mão, que os convocava a participar da manifestação em troca de uma cesta básica.

Na entrevista coletiva em que divulgou a suspeita da PM, o capitão Maurício de Araújo não divulgou o bilhete. Afirmou apenas que criminosos tentam angariar apoio de moradores para protegê-los. Mais tarde, a Polícia Civil apresentou cópia do que diz ser o panfleto, com o seguinte texto manuscrito: "Pedimos a ajuda de todos morador da comunidade de Heliópolis para fazer um protesto sobre muita morte de gente inosente quem colaborar ganhara uma cesta Basica. Tiras. 6:00 horas".

Moradores de Heliópolis e parentes de Ana Cristina criticaram a hipótese da PM. "Isso tudo é inverídico. Cansamos de apanhar da polícia e resolvemos protestar", disse a sogra da jovem, Marilene.

"O problema é que 99% de pessoas honestas acabam pagando pelo erro de 1% de desonestos", afirmou o líder comunitário Paulo Sérgio Maciel. O jornal Folha de S. Paulo publicou matéria nesta quinta-feira (3/9) dizendo ter ouvindo 25 moradores e nenhum viu ou recebeu o bilhete. "Ficamos sabendo da história pela televisão", disse um morador.

O delegado titular do 95º DP, Gilmar Contrera, afirma desconfiar da tese da PM, mas, mesmo assim, investigarpa a procedência do bilhete.

Serra classifica atos em Heliópolis de "vandalismo"

A atuação da Guarda Civil Municipal foi criticada pelo governador José Serra (PSDB) nesta quarta-feira (2/9). "[Foi] um evento lamentável deflagrado por uma guarda civil que é despreparada para enfrentar situações como essa", disse. Serra defendeu, entretanto, a ação da PM, que usou balas de borracha e bombas de efeito moral contra os manifestantes. "O direito do protesto é algo que defendemos. Mas vandalismo é outra coisa". No ato, nove veículos foram incendiados.

Para a presidente da Confederação Nacional de Associações de Moradores (Conam), Bartíria Lima da Costa, reações como esta são consequência da "falta de presença do Estado" aliada a uma "política de repressão". "A polícia tem sido ostensiva , aje com violência. Em geral, chegam nas comunidades atirando", denuncia. Bartíria observa que têm sido constantes ações violentas das polícias em São Paulo, espeicalmente em se tratando de desocupações.

Suspeito de disparo foi expulso da PM por fazer sexo em quartel

O guarda civil Edson Damião Estevam, 43, suspeito de ser o autor do disparo que matou Ana Cristina, foi expulso da Polícia Militar em 1997 por fazer sexo com uma mulher no quartel em horário de serviço, afirmou a PM, que não soube dizer o que ele alegou em sua defesa na ocasião. O delegado Gilmar Contrera disse ontem que o projétil retirado do corpo da jovem deve ser de calibre 38 – o mesmo usado pelo guarda. O objeto ainda passará por perícia.

Com Folha Online e jornal Folha de S. Paulo (3/9)