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People's Weekly World: Vida e morte de Ted Kennedy

Morreu o senador Edward Kennedy. Todos o elogiaram, também elogiando seu trabalho político, até seus oponentes. Como disse o diário Boston Herald quando se revelou que Kennedy tinha câncer, "ele serviu bem a seus constituintes". Estas e palavras semelhantes podiam ser lidas nos jornais conservadores do estado de Massachusets e pelo resto do país.

Por José Cruz, para o People's Weekly World, do PC dos EUA

Nos blogs e nos comentários da extrema-direita escrevem-se outras coisas. Nesse sentido, eles se concentraram nas fraquezas pessoais do senador, nas suas bebedeiras, por ser mulherengo e em outras fraquezas de um jovem proveniente de uma família rica.

Na realidade, isso não era o motivo principal para que a direita criticasse Kennedy. Há muitos da direita que tem o mesmo problema. Eles o criticaram por sua polítia — uma política que apoava os marginalizados.

Em seu primeiro discurso no Senado, apenas quatro meses depois de seu irmão presidente ter sido assassinado, Edward Kennedy disse "é tempo de nos acostumarmos ao fato de que os negros serão membros da comunidade de cidadãos americanos, com os mesmos direitos e responsabilidades que cada um de nós temos".

"As pessoas de meu estado (Massachusetts) estamos fazendo esse ajuste de contas há 300 anos. Recebemos todos os tipos de nacionalidades e de raças, desde os puritanos aos poloneses e portorriquenhos.Massachusetts tem a mais alta porcentagem de nacionalidades estrangeiras do país. No total, 40 por cento das pessoas do meu estado, de acordo com o último censo, ou são imigrantes ou filhos de imigrantes".

Ele apoiava então o projetod que se converteu na história Lei dos Direitos Civis, de 1964, que tornou ilegais os atos de discriminação por questão de raça e, anos depois, se ampliou para dar as mesmas proteções às pessoas que tinham idiomas distintos do inglês. Daquela época em dianta, foi defensor dos direitos das minorias e dos imigrantes.

Mas não foram somente estas áreas em que ele defendia políticas progressistas. Ele apoiou reformas das leis trabalhistas, inclusive o direito de organizar sindicatos; se pronunciou contra a guerra do Vietnã, vários anos antes de seu término; defendeu o congelamento da produção de armas nucleares, como o melhor meio de colocar um fim à Guerra Fria; se opôs à intervenção americana em El Salvador e ao apoio aos contras nicaraguenses; lutou por aumentar as oportunidades de educação para todos e,quando seu filho padeceu de câncer, começou a defender um plano de saúde que servisse para todos.

Mas Edward Kennedy não era revolucionário. Tudo o que fez foi dentro do marco da política burguesa e os interesses internacionais das empresas americanas. Ele defendeu a política externa do Partido Democrata.

Isso fez com que tratasse com setores dos republicanos e conseguir algumas mudanças que não eram de interessa do povo.

Infelizmente, com a direita tratando para que não exista nenhum avanço social, por causa de suas prerrogativas puramente eleitorais, ele nem sempre conseguiu avançar suas ideias.

Uma delas era a reforma integral das leis de imigração. Kennedy fez um acordo com o senador John McCain, do Arizona, e os dois formularam um novo projeto de imigração. Esse projeto foi criticado e denunciado por organizações defensoras dos imigrantes por organizações sindicais, já que criava um sistema com trabalhadores de segunda classe em questão de direitos.

Dentro do marco da política eleitoral, também pode-se ver problemas. Acredita-se que na política partidária dos pré-candidatos é preciso falar aos seus militantes, e falar claro. A direita fala para a direita e a esquerda para a esquerda. E depois, nas eleições gerais, os candidatos falam para o centro.

Kennedy fez isso nas eleições de 1994. O depois governador de Massachusets, o republicano Mitt Romney, era seu adversário. Nessas eleições, Kennedy se atirou para a direita, pensando que conseguiria tomar votos para seu partido, roubando-os de Romney.

Kennedy e Romney estavam iguais nas pesquisas, a dois meses da eleição. O senador democrata estava em queda livre. Mas a partir de setembro mudou a sua campanha, quando passou a falar da necessidade dos trabalhadores e dos marginalizados.

Foi então que surgiu um grupo de trabalhadores de uma empresa de Romney, que denunciou a forma como tinha sido demitidos da empresa do candidato republicano. A empresa de Romney — Bain Capital — comprou a empresa onde esses trabalhadores trabalhavam, demitiu a todos e depois tentou contratá-los por um salário bem menor que o que recebiam.

O retorno na campanha política para o rumo inicial, de centro-esquerda, salvou a batalha para Kenney e garantiu a ele o mandato de senador com 58 por cento dos votos, o número mais baixo da sua história política.

Não obstante suas formas de fazer política, Kennedy patrocinou 300 projetos de leis que estão vigentes. Sua luta pelas reformas sociais dentro do sistema capitalista beneficiou milhões de pessoas. Neste sentido, o povo perdeu um defensor.