Sem categoria

Marcos Domich: Panorama eleitoral na Bolívia

Apesar de todos os esforços da direita e ultradireita para torpedear o normal desenvolvimento do processo eleitoral na Bolívia, este continua seu curso com normalidade, ainda que com previsíveis dificuldades. Até a semana passada, predominava um panorama de proliferação de candidatos. Muitos aparecerem e até realizaram atividades, com fanfarras, guirlandas, mesclados em um alegria aparente. Alguns não duraram, como candidatos, nem um dia.

Por Marcos Domich*, em La Prensa

A direita estava confusa, inquieta e até mesmo com sinais de despero. Todos falavam de unidade, desprendimento e outras belezas. O único programa que exibiam era "derrota Evo Morales", algo bem demonstrativo de seus escassos alcances políticos.

O panorama se evidenciou subitamente 48 horas antes do prazo para a inscrição de candidatos e das famosas listas, que causam tanto trastorno dentro das organizações políticas e sociais e, claro, entre os candidatos a uma nomeação. Uma parte destes passam por uma espécie de delírio. Não pensam em outra coisa senão conseguir ajuda dos respectivos chefes.

No "transe pela nomeação" inventam e relatam heróicas ações. Alegam uma poderosa influência sobre o eleitorado de seu distrito; asseguram que arrasariam com os candidatos que se coloquem na frente e garantem conseguir o triunfo do chefe, ao qual jura lealdade infinita e não mudar de bancada no parlamento. Enfim, um estado digno de um estudo de psicologia profunda.

Mas deixando de lado as dissertações sobre estados mentais, vamos à política real e objetiva. Por que deixaram a arena eleitoral Cárdenas, Quiroga, Antelo? Com enorme distância, apareciam com algumas possibilidades de conseguir, pelo menos, o "honroso" segundo lugar, passando ao segundo turno. Neste caso, aumentariam suas chances, pois todos, do terceiro colocado ao último, estariam obrigados a votar no segundo colocado. Mas é aí que alguém os chama à realidade e lhes cobra "cumprir com os deveres de consciência".

Sozinhos e dispersos apenas conseguiriam, no melhor dos casos, entre 10 a 15%. Que pressão é essa que consegue a suprema reflexão e desprendimento? Não outra além de agentes extrangeiros, agências que controlam milimetricamente os processos políticos.

Houve muitos jantares, reuniões, ofertas de ajuda para futuras ações políticas e candidaturas, e assim por diante. Não esteve ausente o uso oportuno de pesquisas e demonstração do desastre ao qual se exporia. Também houve uma enorme pressão das admoestações da direita conservadora, da oligarquiia de rapina, cada vez mais, temendo pelo futuro da sua propriedade e de seus domínios.

Ficaram afinal candidaturas com seus respectivos trajes: Doria Medina, a burguesia produtora ou industrial. Reyes Villa com Leopoldo Fernández, o binômio dos revanchistas e com tal currículo que até o conservadorismo moderado tem ressentimento e apreensões de que não seja a melhor postulação, mesmo para seus interesses.

Finalmente, há René Joaquino, cujo verdadeiro pertencimento político e ideológico é difícil de estabelecer. Todo o último período mostra-o como um representante da direita moderada e sem chances reais.

Há outros quatro: Veliz e Loayza, um pouco conhecidos, mas que neste não conquistaram nem a sua sombra. Os outros Ana Maria Flores e R. Choquehuanca não são conhecidos nem por seus vizinhos.

À frente de todas as pesquisas, segue Evo Morales. Mas não deve descansar sobre seus louros. Seu bloco deve lutar como se estivesse com duvidosas possibilidades. Será uma campanha dura e não isenta de turbulências e perigos.

*Marcos Domich é Professor da Universidade de La Paz