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Preservação do Cerrado sofre resistência da bancada ruralista

A rotina da carros na Esplanada dos Ministérios nesta sexta-feira (11) foi substituída pela Corrida de Toras promovida por índios de sete etnias que vivem no Centro-Oeste do país. O ritual, que seguiu até o Congresso Nacional, comemorou o Dia Nacional do Cerrado. Os indígenas entregaram aos parlamentares a Carta do Cerrado, solicitando maior atenção do governo ao bioma.

Meio ambiente - Câmara dos Deputados

De acordo com o coordenador da Rede Cerrado, Braulino dos Santos, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna patrimônios nacionais o Cerrado e a Caatinga, é uma das reivindicações apresentadas no documento.

A proposta, que tramita há 14 anos no Congresso, enfrenta resistências da bancada ruralista. O deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), o mesmo que se posiciona contrário a atualização dos índices de produtividade da terra para efeito de reforma agrária, diz que é impossível abrir mão de 90 milhões de hectares de Cerrado, porque hoje as terras significam uma forma de expandir a produção de biocombustíveis.

Já o deputado Pedro Wilson (PT-GO), favorável à aprovação da proposta, argumenta que a questão não se restringe a ser contra ou favor da agricultura, mas se trata de exigir que a atividade tenha regras como o zoneamento, com manejo do solo e conservação da área. Segundo ele ainda, é necessário haver investimentos "para que as águas, as terras e o clima do Cerrado possam existir por mais milhares de anos."

O desmatamento do Cerrado brasileiro – de uma área de 20 mil quilômetros quadrados – é duas vezes maior que a da Amazônia, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. Se o atual ritmo de devastação não for contido, o Cerrado poderá desaparecer até 2030.

“Queremos uma legislação que proteja o Cerrado assim como os outros biomas. Esperamos a compreensão dos nossos políticos. Eles sabem que se não aprovarem estarão acabando com toda a vida existente no Cerrado”, disse o coordenador da Rede Cerrado.

Para Santos, as condições naturais do Cerrado favorecem o desrespeito com a sua proteção. Os outros biomas são de florestas altas, já o Cerrado é de mata baixa. Por não ter grandes florestas, o Cerrado é considerado fronteira agrícola, o que faz com que as pessoas o destruam com mais intensidade e sem peso na consciência.

Sistema da proteção

A aprovação da PEC dará ao Cerrado o mesmo sistema de proteção da Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira. De acordo com a Constituição, as áreas desses patrimônios só podem ser usadas mediante condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lançou, nesta quinta-feira (10), o plano para o combate ao desmatamento do Cerrado. Segundo ele, o projeto dará início a uma nova fase para a preservação do bioma. Começa a partir de agora uma batalha. O Cerrado vai ter a mesma importância que a Amazônia para o Brasil e para o mundo, disse.

Encontrado no Planalto Central, na Amazônia e em parte do Nordeste, o Cerrado é uma vegetação caracterizada por árvores baixas e retorcidas. Sua flora é considerada como a mais rica entre as savanas do mundo, com mais de seis mil espécies catalogadas. Seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras têm nascentes no Cerrado, entre elas a Amazônica e a do rio São Francisco.

A passeata foi uma das atividades programadas no 6° Encontro Nacional e Feira dos Povos do Cerrado, que começou nesta quarta-feira (9) e termina no próximo domingo (13), em Brasília.

De Brasília
Com agências