Antônio Capistrano: Zé Agripino e o Regime Militar

O senador José Agripino concedeu uma entrevista, no último domingo (13), ao jornalista Bruno Barreto, editor político do jornal O Mossoroense.

jose agripino

Indagado se ele se arrependeu de ter apoiado o Regime Militar, ele respondeu: “Eu não apoiei o Regime Militar. Nunca apoiei o Regime Militar. Pelo contrario. Eu fui prefeito no final do Regime Militar. Eu teria razões para me orgulhar de ter sido artífice da transição e da redemocratização.

Ao romper com o meu partido, passando a apoiar, no Colégio Eleitoral, o nome de Tancredo Neves para presidente da república, do ponto de vista político e administrativo paguei um preço alto, na época eu era governador e muito do que estava comprometido de verbas para a minha ação no governo, foi cortada. Além do desgaste político de apoiar o mesmo candidato do meu adversário Aluízio Alves”.

Essa é a versão do senador José Agripino Maia. Mas, a verdade é outra, existem alguns equívocos ou inverdades nessa história, vamos aos fatos.

José Agripino foi escolhido, pela Assembleia Legislativa, prefeito de Natal em 1979, portando em pleno Regime Militar e não no final do Regime como ele disse na entrevista. O seu nome foi encaminhado para ser homologado pelo Poder Legislativo Estadual, pelo seu primo Lavoisier Maia que substituiu o seu pai, Tarcisio Maia, no governo do Estado, vale salientar, os dois foram nomeados governadores pelo Regime Militar com a concordância de Aluízio Alves, naquele momento seu correligionário político (Quem não se lembra da famosa Paz Pública que resultou na escolha de: Lavoisier Maia para o governo do estado, Geraldo Melo para vice-governador, Jessé Pinto Freire para o senado e José Agripino Maia para prefeito da Capital.).

José Agripino exerceu a função de prefeito biônico de Natal de 1979 a 1982. O Regime Militar implantado em 1964 teve como último Presidente o general João Batista Figueiredo que governou até 1984, portanto Zé Agripino Maia foi prefeito de Natal durante o Regime Militar.

Só para lembrar. Tarcisio Maia foi nomeado governador biônico, substituindo Cortez Pereira, que era biônico também, por indicação do general Golbery do Couto e Silva, com o apoio decisivo de Aluízio Alves, que vetou o nome de Dix-huit Rosado Maia, um dos cotados para o cargo. A escolha se deu em 1974. Aluízio ainda participou da indicação do vice, indicando o médico e ex-reitor da Ufrn, Genibaldo Barros.

Outro fato narrado pelo senador que merece um esclarecimento, a sua eleição para o governo em 1982 e a derrota de Aluízio Alves.

Aluízio era um candidato considerado por muitos, imbatível. Zé Agripino não disse, na entrevista, que essa eleição foi viciada por uma legislação eleitoral casuística que dificultou a escolha livre do cidadão. O Regime Militar criou o voto vinculado, de vereador a governador só podia votar em candidato do mesmo partido, além da figura do senador biônico. Tudo com um objetivo, prejudicar a oposição, principalmente no nordeste. Cito como exemplo os casos de Aluízio Alves, no Rio Grande do Norte e o de Marcos Freire, em Pernambuco. Os dois estavam disparados na preferência popular, mas foram derrotados pela legislação eleitoral imposta pelo governo militar.

O filho de Tarcisio Maia, José Agripino Maia foi o candidato de Figueiredo ao governo do estado, Carlos Alberto de Souza foi o escolhido para concorrer uma vaga ao senado e o velho Dinarte Mariz, já no fim da sua liderança política, foi contemplando com a vaga de senador biônico. Carlos Alberto que era deputado federal foi premiado por ter sido relator da CPI do atentado terrorista ao Rio Center, fato ocorrido no Rio de Janeiro e, como relatou inocentou os militares envolvidos nesse ato. Além da vaga de senador, Carlos Alberto, ganhou a concessão de um canal de televisão.

Portando, José Agripino Maio surgiu na política potiguar graças ao Regime Militar de 1964, ele é filho político desse período da história brasileira, ele não pode nega a sua origem e trajetória política, pode até renegar a ditadura militar, mas não pode simplesmente dizer que não foi beneficiário do Regime Militar, ele e a sua família.

O ex-governador Aluízio Alves, nesses últimos 50 anos, o maior líder político do Rio Grande do Norte, conta essa história, bem direitinho, no seu relato, “O que eu não esqueci”, livro publicado em 2001 pela editora Leo Christiano Editorial – RJ.

Agora, o senador não explicou o porquê da divisão dos Maias no colégio eleitoral que escolheu o último presidente de forma indireta. Tarcisio Maia ficou com Mário Andreazza; Lavoisier Maia, com Paulo Maluf e, José Agripino Maia com Tancredo Neves. Qualquer um que fosse eleito, os Maias ficariam por cima.

Não se pode nega a história, sei que ela é feita pelos vencedores e que as versões às vezes valem mais do que os fatos, mas, a verdade é essa, José Agripino Maia não pode desvencilhar a sua história política da ditadura militar, ele é fruto, por obra e graça, do Regime Militar. Claro, que ele tem seus méritos, soube consolidar uma liderança que se iniciou biônica e depois se popularizou com a força e os instrumentos do poder.

por Antônio Capistrano foi deputado estadual é filiado ao PCdoB