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Morales rechaça bases dos EUA e defende imigrantes

O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou, neste domingo (13), que tanto a Constituição do seu país como a convicção do movimento que ele dirige não permitirão que se instale nenhuma base militar, “muito menos dos Estados Unidos, porque, na história da América Latina, onde há uma base militar, há golpes e a democracia não é respeitada.”  Ele disse ainda que vai apoiar a causa dos bolivianos ilegais na Espanha que buscam regularizar suas situações.

Evo

Em um comício em Leganés, perto de Madrid, Morales recebeu o respaldo de milhares de adeptos que aplaudiram a ele e, acima de tudo, defenderam seu projeto nacional, o primeiro que – de acordo com mais de 60 organizações que convocaram o ato deste domingo – “privilegia as camadas mais pobres da sociedade e destina os recursos públicos ao bem comum”.

Evo Morales iniciou uma visita de três dias em Madrid, que visa não só fortalecer a base social de apoio, com os mais de 200 mil bolivianos que vivem na Espanha, mas também para reforçar as relações com o governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, que já se comprometeu a perdoar a dívida bilateral.

Morales desembarcou na capital espanhola, e a primeira coisa que fez foi dirigir-se à praça de touros de Leganés, onde cinco mil pessoas o aguardavam, que por mais de três horas cantaram canções folclóricas da Bolívia e desfrutaram de várias apresentações de danças folclóricas da Cordilheira dos Andes. Evo Morales, “o herói da Mãe Terra”, o “rebelde índio com um telefone celular” (como foi definido) foi saudado com um grito de “presidente!”

Os milhares de participantes, a maioria bolivianos, com e sem documentos de residência, foram ouvir as palavras de seu governante, em particular seus argumentos para o voto nas eleições de 6 de dezembro, nas quais se escolherá o presidente e haverá um referendo sobre autonomia.

Primeiro, Morales defendeu sua gestão desde que foi eleito em 2006, “a pesar de muitos pensarem que um índio não iria durar muito”. Entre as principais conquistas que citou, estavam a reorganização das finanças públicas, pois, pela primeira vez na história, as reservas internacionais somam 8,5 bilhões de dólares. Também destacou que agora se consideram “direitos humanos” os serviços básicos, assim como o reconhecimento e a defesa dos povos originários. Estes que, durante séculos “têm sido maltratados e molestado pelos colonialistas e a oligarquia”.

Morales também defendeu a mudança da Constituição, que permitiu que, “primeira vez na Bolívia se escute a voz do povo” de forma recorrente, quer seja para participar da eleição dos candidatos ou para decidir se deve ou não revogar os mandatos dos funcionários públicos. “Anteriormente na Bolívia havia golpes sem parar, agora há referendos”, disse o presidente boliviano.

O ex-líder cocaleiro também lançou uma mensagem aos governos vizinhos na região, particularmente à Colômbia, no que diz respeito às bases militares que serão utilizadas pelos Estados Unidos.  

“Na nova Constituição do país não se permite que haja nenhuma base militar estrangeira, menos ainda dos Estados Unidos. É preciso recordar que sempre tem havido bases no continente têm acontecido golpes de Estado e ataques à democracia. Por isso, precisamos de sua ajuda para terminar com todas as bases militares estrangeiras na América Latina”.

Ele disse que o processo de libertação e de transformação não será interrompido na Bolívia, em um país que privilegia o respeito pela Mãe Terra, pois “é preciso estar em rebelião permanente contra o saqueio dos recursos naturais e o subjugo dos povos”.

Imigrantes

Morales também se comprometeu a exigir o respeito pela dignidade e aos direitos elementares dos centenas de milhares de compatriotas seus que estão fora do seu país por razões de subsistência e que, em países como os europeus, são declarados ilegais.

Ele pediu para que os europeus não considerem assim aqueles que vêm de outros países para "buscar uma vida melhor".“Se os avós dos espanhóis de hoje foram a nossos países há um século e ninguém os declarou ilegal, não podemos permitir que a nossos compatriotas os declarem assim. Temos de respeitar o direito de qualquer pessoa de viver onde queira, respeitando as normas de cada país”, ele disse.

Cerca de 100 mil bolivianos vivem legalmente na Espanha, mas acredita-se que outros 150 mil estejam ilegalmente no país. Muitos imigrantes não têm o direito de votar nas eleições presidenciais bolivianas, situação que Morales diz pretender mudar antes do pleito nacional de 6 de dezembro.

Morales se reuniria ainda com o chefe de Estado espanhol, o rei Juan Carlos, e o primeiro-ministro, com quem discutiria, entre outras coisas, o alívio da dívida da Bolívia com a Espanha, que ascende a cerca de 70 milhões euros, mas também a consolidação de projetos de ajuda ao desenvolvimento, uma vez que o país andino é prioridade para o governo espanhol neste tipo de fundo de financiamento, ao receber, entre 2006 e 2008, pouco mais de 220 milhões de euros.

Ambas as delegações também vão discutir questões relacionadas à exploração do petróleo, eletricidade, gestão aeroportuária, lazer, explosivos (para mineração) e gestão de pensões.
Antes de sua chegada a Madrid, Genebra, Morales fez outro anúncio importante: o compromisso da União Internacional das Telecomunicações (UIT) para que a Bolívia tenha sua própria órbita de satélites. Este projeto, de amplo calado para o desenvolvimento tecnológico do país, vai custar cerca de 300 milhões de dólares.

O próprio Morales anunciou que a construção do satélite é feita na China e seria financiada através de um empréstimo bonificado que concederá a própria China e com recursos próprios das reservas internacionais da Bolívia.

Pesquisa

Morales e seu vice-presidente, Álvaro García Linera, candidatos à reeleição em dezembro, têm aprovação de 55% dos eleitores, segundo pesquisa publicada neste domingo pelo jornal El Deber de Santa Cruz (leste).

O estudo foi realizado pela privada Equipos Mori, que entrevistou 400 pessoas maiores de 18 anos nas cidades de La Paz, El Alto Cochabamba e Santa Cruz (reduto da oposição), com margem de erro de 4,9%.

Quase 55% das pessoas entrevistadas consideraram boas as políticas governistas, 22% acharam irregular e 21%, ruim, concluiu o estudo. Com 25%, apareceu em segundo lugar a chapa formada pelo ex-prefeito (governador) de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, e o também ex-prefeito de Pando, Leopoldo Fernández, detido em La Paz sob acusação de comandar um massacre de camponeses em setembro do ano passado.

Da Redação, 
Com informações de La Jornada e AFP