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D'Escoto deixa Assembleia Geral da Onu como presidente mais ativo

O nicaragüense Miguel D’Escoto deixou uma marca que não se apagará após sua passagem pela presidência da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, onde se caracterizou por sua crítica feroz dos Estados Unidos e seus aliados. “Certos Estados membros consideram que podem se comportar segundo a lei da selva e defendem o direito dos mais fortes em fazer o que bem entendem com total e absoluta impunidade”, disse D’Escoto aos delegados na segunda-feira, último dia de sua presidência da 63ª sessão da Assembleia Geral.

Para D’Escoto – respeitada personalidade da Nicarágua, sacerdote católico que aderiu à Revolução Sandinista, foi pioneiro no movimento pela justiça social e, mais tarde, chanceler – a ONU deve se reinventar ou corre o risco de ser irrelevante. Existe “a imperiosa necessidade de reformar as Nações Unidas. Mas, neste ano, como presidente da Assembleia Geral, cheguei à conclusão de que nossa organização já está alem de reformas ou remendos”, afirmou.

Nos últimos 64 anos, desde que a ONU foi criada, houve muitos avanços científicos e desenvolvimento da “consciência ética do homem”, disse D’Escoto, e acrescentou que deseja que o mundo adote uma declaração que reconheça o “bem comum da Terra e da humanidade. Uma vez conseguido o consenso necessários entre os Estados membros a respeito desta declaração, se deveria converter essa visão compartilhada em um projeto de nova Carta das Nações Unidas, de acordo com as necessidades e os conhecimentos do século 21”, acrescentou.

Ao refletir sobre a complexa trama de problemas que sofre a comunidade internacional, como desigualdade econômica, aquecimento global ou padrões insustentáveis de consumo, D’Escoto com frequência recorreu à orientação e inspiração de dirigentes indígenas, ecologistas e ativistas altermundistas. “Nosso querido irmão (o presidente da Bolívia) Evo Morales” e “nossos irmão e teólogo da libertação, Leonardo Boff, nos ajudaram a entender de forma mais integral e holística o lugar do homem na criação e sua relação com a Mãe Terra”, disse D’Escoto aos delegados.

“Entendemos que a Terra e a humanidade são parte de um vasto universo em evolução e que possuem o mesmo destino, ameaçado de destruição pela irresponsabilidade e pela falta de cuidado por parte dos seres humanos”, acrescentou. Em seu discurso final na Assembleia Geral, o ex-chanceler nicaraguense também reiterou sua preocupação pela forma como a comunidade mundial enfrenta a atual crise econômica, e exortou por uma reforma do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

D’Escoto também destacou que milhares de milhões de pessoas continuam pagando o preço pelo excesso de consumo de petróleo e gás por parte das nações mais ricas do mundo industrializado, que são as principais responsáveis pelas emissões de carbono que causam o aquecimento da atmosfera. Os países do “G-8, e inclusive do G-20, continuarão sendo minorias importantes, embora mais pelo fato de serem ricas e poderosas do que por demonstrarem capacidade de como fazer bem as coisas. Não podemos nem devemos esquecer que, depois de tudo, é devido aos seus gravíssimos erros e dos erros das instituições de Bretton Woods, manejadas pelo G-8, que o mundo atravessa o que poderá ser a pior crise da historia”, afirmou D’Escoto.

O Grupo dos Oito reúne as oito maiores potências mundiais: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Japão e Rússia. O Grupo dos 20 reúne, além destes países outras nações industriais e varias emergentes, para discutir a arquitetura do sistema financeiro internacional.

Durante sua presidência, D’Escoto deplorou Israel por sua agressão militar contra a população civil palestina, pelo qual recebeu frequentes críticas de setores da mídia dos paises ricos. Entretanto, defendeu sua postura ate o último momento. “Para mim é escândalos a passividade e aparente indiferença de alguns muito influentes membros do Conselho de Segurança diante do fato de o bloqueio contra Gaza continuar por dois anos, em flagrante violação ao direito internacional e a resolução do próprio Conselho, causando imenso dano e sofrimento à população palestina de Gaza”, disse aos delegados.

Para Jim Paul, diretor-executivo da organização Global Policy Forum, D’Escoto é único. ‘Tivemos uma presidência incrivelmente ativista. Não recordo de nenhum presidente que tenha feito algo semelhante”, disse à IPS. Na terça-feira, D’Escoto foi sucedido pelo experiente diplomata líbio Ali Treki, que exercerá por um ano a presidência rotativa da Assembleia Geral.

Fonte: Agência IPS. Título do Vermelho