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Brasil nega no Parlasul a existência de uma corrida armamentista

As delegações do Paraguai e do Uruguai ao Parlamento do Mercosul colocaram em questão e criticaram a política de defesa em países na América do Sul, especificamente Brasil e Venezuela. O representante brasileiro, Florisvaldo Fier, do PT (Partido dos Trabalhadores), defendeu o direito de proteção do território nacional e justificou que as ações brasileiras visam a construção da “soberania”.

Uma suposta “corrida armamentista” já havia sido discutida durante a última reunião de chanceleres e ministros da Defesa da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), tendo como pano de fundo declarações da secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, que na semana passada conclamou a Venezuela a explicitar os objetivos da compra de armamentos da Rússia. Ela se pronunciou nesse sentido pouco depois de uma reunião em Washington com o presidente uruguaio Tabaré Vázquez. "A corrida já está aí, é uma realidade", disse Vázquez. A Venezuela respondeu afirmando que os Estados Unidos são "o pior exemplo de belicismo, de armamentismo, de utilização de forças armadas para ocupar."

Na segunda-feira (21), a delegação paraguaia ao Parlamento do Mercosul apresentou uma declaração na qual expressa sua preocupação pela "corrida armamentista empreendida por determinados governos do Cone Sul", referindo-se especificamente ao acordo de transferência tecnológica e cooperação militar firmado entre França e Brasil há dez dias. O deputado uruguaio da Frente Ampla, Roberto Conde, fez eco da preocupação, mas esclareceu que não concorda com o termo "corrida armamentista".

O acordo entre Brasil e França dispõe, entre outras medidas, sobre a transferência de tecnologia francesa para o Brasil para a construção de cinco submarinos, 50 helicópteros, um estaleiro militar e uma base naval. O acordo inclui ainda uma cooperação na área nuclear e a criação de um centro de estudos sobre biodiversidade na Amazônia.

A declaração proposta pelo Paraguai, que não pôde ser votada por falta de quórum, exortava "os governos da região a cessarem a corrida armamentista", pois "o empenho de determinados governos do Cone Sul do continente para aumentar e modernizar os respectivos parques de guerra" é uma "atitude que contrasta ostensivamente com as ambições de integração ". Durante a sessão, os parlamentares paraguaios chegaram a ameaçar com a instalação de bases no Chaco paraguaio, com países da região ou mesmo de fora da região, se a "corrida" continuar.

O delegado brasileiro do PT, Florisvaldo Fier (conhecido como Dr. Rosinha) assumiu a defesa do governo brasileiro e esclareceu que "somos todos a favor da paz". Ele assinalou que o Brasil gasta 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em suas Forças Armadas, enquanto a Colômbia e os Estados Unidos destinam 4%, respectivamente. "Não há uma corrida armamentista na América, está se buscando uma forma de construir soberania. O Brasil descobriu enormes reservas de petróleo e gás. A Amazônia é nossa, é da América do Sul, não é território americano. Como podemos nos proteger? Não pensamos em guerras, em ataques, mas estamos cansados de ver o crime organizado", disse Rosinha.

Mais adiante, ele sugeriu que a hipótese de uma guerra não está tão distante: "Quando o Brasil anunciou o descobrimento (de petróleo e gás), os Estados Unidos colocaram novamente em ação os navios da Quarta Frota."

Sessão acidentada

Não houve quórum tampouco para tratar do assunto proposto pelo deputado uruguaio Pablo Iturralde, que pediu uma discussão sobre a liberdade de imprensa na Venezuela. Na segunda-feira, uma delegação formada por jornalistas e políticos de oposição venezuelanos, que pretendia ser ouvida pelo bloco regional, assistiu à reunião da comissão de Direitos Humanos do Parlasul. Mas o pleito foi recusado pela Mesa Diretora do Mercosul, argumentando que a Venezuela não faz parte do bloco e, portanto, não cabe discutir os assuntos internos desse país no âmbito regional.

"Parece que a Venezuela é o único país que existe na América, e parece que os países do Mercosul não tiveram nenhum problema em direitos humanos. Numa ordem do dia com 18 temas, 14 se referem à Venezuela, e em dois anos ninguém os tomou para levá-los a uma resolução, nem sequer para informar sobre eles", protestou o legislador uruguaio Ruben Martinez Huelmo, integrante da comissão, em conversa com Opera Mundi.

O vereador metropolitano de Caracas, Freddy Guevara, um dos integrantes da delegação desse país, disse que o governo venezuelano "decidiu pressionar o Mercosul e evitar que se possa discutir" os "casos de agressão, feridos e mortos na imprensa" e o fechamento de 34 rádios "sem processo judicial". "Não recebemos uma resposta do Mercosul, que virou as costas ao povo venezuelano e confirmou que se deixou pressionar. Dizer que não se podem tratar assuntos que não sejam de Estados-membros é totalmente ilógico, porque fomos recebidos pelo Parlamento Europeu, pelo Congresso americano", assinalou.

A delegação venezuelana assistiu à sessão plenária em silêncio e, em determinado momento, começou a gritar para os legisladores, recriminando-os porque seus países não os acolhem como a Venezuela fez com os países do Cone Sul durante as ditaduras militares. Eles exibiram cartazes que diziam "Mercosul respeita minha voz", e "Negar a palavra é negar a liberdade". O presidente do Parlasul, o uruguaio Juan José Dominguez, pediu à segurança que retirasse as pessoas e a sessão ficou suspensa por alguns minutos.

Fonte: Operamundi