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Zelaya denuncia plano para matá-lo e rejeita eleições manipuladas

O presidente golpista de Honduras, Roberto Micheletti, afirmou, na noite desta terça-feira (22), estar disposto a dialogar com Manuel Zelaya para resolver a crise que vive o país, desde que o líder deposto reconheça a convocação de eleições para o dia 29 de novembro. Zelaya repudiou o convite e acusou Micheletti de “manipulação”. Também denunciou um plano do governo golpista para invadir a embaixada brasileira e assassiná-lo.

Tropas Honduras

De acordo com Zelaya, o governo interino do país pretende capturá-lo e assassiná-lo, o que incluiria uma invasão à embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde ele se refugiou depois de voltar de surpresa ao país.

"Hoje estamos sendo ameaçados. Hoje (quarta-feira) à noite vai-se tomar a embaixada do Brasil", disse Zelaya ao canal venezuelano de TV Telesur, citando informações que teriam sido passadas por uma jornalista desse próprio canal, ligado ao governo esquerdista de Hugo Chávez.

"Supostamente há um plano, seja de captura ou assassinato, (a jornalista) diz que já há até os legistas para declarar que é um suicídio", disse Zelaya. O governo interino alertou que prenderá Zelaya se ele sair da missão diplomática do Brasil, que por sua vez garantiu a segurança do presidente deposto e alertou os líderes hondurenhos que não aceitará afrontas à sua embaixada. A comunidade internacional pediu calma.

"Advirto à comunidade internacional. Eu, Manuel Zelaya Rosales, filho de Hortênsia e José Manuel, não se suicida. Está vivo, lutando por seus princípios e por seus valores, com firmeza. E prefiro morrer firme que ajoelhado perante esta ditadura. E que isso fique muito claro perante esses tiranos que estão querendo governar este país pelas armas," acrescentou.

Diálogo

Sobre as condições impostas por Micheletti para que se estabeleça um canal de discussão a fim de encerra o impasse em Honduras, Zelaya declarou: "Não há vontade de resolver a crise em Honduras e a convulsão que vive o país depois do golpe. (Os golpistas) devem deixar de manipular a opinião pública, eu vim aqui para que o diálogo seja direto, para que não tenha comparsas, nem nenhum tipo de distúrbios", ressaltou o presidente deposto, que retornou a Honduras segunda-feira (21).

Além de condicionar um diálogo à realização das eleições de novembro, Michelleti ainda "exigiu" que a conversa se dê entre "interlocutores parcias". O chanceler do governo golpista, Carlos López indicou que a conversa proposta deveria se desenvolver "no marco da Constituição hondurenha", e sugeriu que inclusive se pode iniciar na próxima semana, com o apoio de uma comissão de chanceleres de países-membros da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Segundo ele, nesses termos, o presidente golpista está disposto a falar "com qualquer um, em qualquer lugar e a qualquer hora". "Estou disposto a discutir como resolver a crise política (…), estou pronto para conversar com o senhor Zelaya sempre e quando reconheça explicitamente as eleições de 29 de novembro", disse o chanceler López, ao ler em cadeia nacional de televisão uma mensagem de Micheletti.

O ministro de Micheletti colocou, no entanto, que "de nenhuma maneira se falou nesta mensagem do retorno do senhor Zelaya à Presidência da República", como exige o próprio líder deposto e a comunidade internacional. A proposta "não pode desfazer a ordem de detenção da Corte Suprema de Honduras contra ele nem as acusações que encara sob nosso sistema judiciário independente", disse.
"Minha oferta é alcançar uma solução política mas não pode resolver seus problemas legais", acrescentou López ao ler em inglês a mensagem de Micheletti.

Zelaya, contudo, já expressou que espera um diálogo direto e afirmou que, se não há "igualdade para todos" nas eleições gerais convocadas para o próximo dia 29 de novembro, não há trato. Zelaya disse que não pretende fugir da Justiça em seu país, e que poderia encarar as supostas acusações.

Acrescentou que responderá a essas acusações no momento em que for chamado. Ele, porém, afirmou que o governo de Micheletti "não pode desconhecer que houve um golpe de Estado". "Eles negam que houve um golpe de Estado, que também é um delito. Eles também têm que responder aos tribunais por esse delito", disse Zelaya.

Ele informou, além disso, que está chamando as comunidades nacional e internacional e "as forças vivas da sociedade para que se inicie o diálogo para a reconstrução do sistema democrático do país, e para que nunca mais volte a se desrespeitar a soberania popular, que é o mais sagrado de uma democracia". A comunidade internacional, que não reconhece ao regime de Micheletti, também assinalou que não reconhecerá o próximo governo eleito se Zelaya não for restituído ao poder.

Cerco e repressão

Nesta quarta-feira, soldados hondurenhos continuam a cercar a embaixada brasileira na capital Tegucigalpa. Centenas de efetivos de segurança, alguns mascarados e outros portando armas automáticas, tomaram uma área ao redor do prédio

O próprio Zelaya denunciou o cerco e pediu que cesse a repressão contra seus apoiadores. Segundo ele, cerca de 400 pessoas teriam sido detidas, ontem, e levadas a um estádio de beisebol. O governo brasileiro pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que discuta a pior crise política na América Central em décadas.

O presidente interino, Roberto Micheletti, disse na terça-feira que Zelaya pode ficar na embaixada por "5 ou 10 anos, nós não vemos nenhum inconveniente de ele viver ali", sinalizando que está pronto para uma longa disputa.

Estados Unidos, União Europeia e a Organização dos Estados Americanos tentam o diálogo para restaurar o poder de Zelaya no país. O governo interino de Honduras se recusou a suavizar sua posição contra a tentativa de Zelaya de voltar ao poder.

Zelaya fez um pedido a comunidade internacional, nesta quarta-feira, para que a pressão que está exercendo sobre as autoridades realmente crie resoluções concretas.

Com agências