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Honduras: o embate desfocado da oposição brasileira

O abrigo concedido ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, apesar de reconhecido pela comunidade internacional como um gesto postivo para restabelecer a ordem democrática no país, tem sido criticado por parte da mídia e alguns políticos. De maneira no mínimo 'desfocada', esses setores deixaram de lado o centro da questão – a necessária volta de Zelaya ao poder -, e utilizam o caso Honduras como mais um pretexto para questionar atitudes do governo brasileiro. Nesse sentido, fortalecem o discurso golpista e tentam minimizar os méritos do país, que ganha projeção no cenário internacional pelas atitudes corretas e equilibradas.

Por Joana Rozowykwiat

Contra a maré, imprensa e políticos tupiniquins querem transformar em problema, em erro diplomático, o que o resto do mundo encara como a possibilidade de reverter a crise hondurenha, de devolver ao povo daquele país o seu governante de direito. Os principais motes para os ataques ao Brasil estão relacionados a miudezas – à uma suposta ajuda para que Zelaya chegasse a Tegucigalpa e ao nome que se deve dar à condição de Zelaya na embaixada.

Nesta quinta-feira, o deputado federal Raul Jungmann (PPS/PE) escreveu que, ao receber o presidente deposto, o Brasil comete uma "intervenção indevida em questões internas de outro país e um gravíssimo erro político e diplomático". Ora, o Brasil está ao lado da ordem, e apenas fornece apoio solidário, atendendo ao chamado de um presidente legitimamente eleito, que foi arrancado de seu país ainda de pijama, sob a mira de uma arma.

O fato, apesar de indefensável e de ter sido condenado por toda a comunidade internacional – incluido aí os Estados Unidos -, tem sido tratado por alguns de maneira dúbia – ou mesmo equivocada -, sempre expondo "os motivos" golpistas e cercando de desconfiança a figura de Zelaya. É espantoso que se tente escamotear ou, pior, legitimar um golpe, que deu lugar a uma ditadura, sustentada pela força das armas.

Pouco importa como Zelaya chegou a Tegucigalpa, tampouco em que espaço físico se encontra. O fato é que a óbvia resposta do Brasil ao pedido de abrigo de Zelaya viabilizou que, em relativa segurança – pois não se sabe do que golpistas são capazes -, o presidente deposto possa iniciar um diálogo a fim de encerrar a crise que atormenta o povo hondurenho.

A volta de Zelaya, mais que um desejo de governante, era um pleito do mundo e, em especial, da população daquele país. Talvez a grita da oposição brasileira seja mesmo um artifício para tentar abafar a projeção e o reconhecimento que o Brasil vem conquistando pelo globo. Em contraponto às críticas, o também deputado federal Maurício Rands (PT/PE) lembra que, muitos do que agora questionam a atitude brasileira, não "tiveram coragem" de se contrapor ao golpe e reivindicar o mandato de Zelaya, em uma atitude que agora soa contraditória.

Segundo Rands, o Brasil recebe o presidente deposto em sua embaixada na condição de "hóspede" e sob dois fundamentos: por uma questão humanitária e com base na aplicação coerente da linha adotada por todo o mundo de não reconhecer o governo golpista.

"Enquanto Lula foi aclamado na ONU por defender a restituição de Zelaya, algumas pessoas aqui não entenderam a situação. Não aceitar Zelaya era fazer o jogo dos golpistas. A presença do presidente deposto em Honduras é o fato novo que cria as condições para que a crise se encerre. O Brasil é reconhecido pelo mundo todo como um país que não se omitiu em relação à questão de fundo aí, que é a restauração da democracia em uma nação do continente", colocou o deputado.

Na ânsia de fazer oposição ao governo, houve até quem comparasse a "ingerência brasileira" à política intervencionista norte-americana – que chancelou tantas ditaduras na América Latina. O grosseiro e inaceitável paralelo não levou em conta que, na situação hondurenha, a cooperação brasileira é justamente no sentido de restabelecer a democracia, como forma de evitar que se abra um precedente perigoso na região. Não à tôa todas as vozes se levantam: 'não aceitamos mais golpes na América Latina'.

É preciso lembrar que, nos anos de chumbo no Brasil, muitos foram aqueles que precisaram da solidariedade internacional. Quantos brasileiros não foram amparados por outros países quando a democracia e as liberdades estavam aqui confiscadas? Não podia, portanto, o país reagir de outra forma, que não devolvendo o que aprendeu nesse período.

Os setores que perdem tempo aqui com disputas internas deveriam estar preocupados com outro assunto, a truculência golpista, que atenta contra os direitos humanos, tratados internacionais e convenções estabelecidas sobre relações diplomáticas. O cerco do exército e da polícia à embaixada brasileira é, aí sim, motivo de preocupação, crítica e combate.

Os vilões são os golpistas. E não cabe aqui nem a avaliação se Zelaya é ou não um bom mocinho. Como bem disse o presidente Lula: "O caso concreto é que você tem um golpista no poder. E o presidente eleito democraticamente foi afastado do cargo. E é justo que o presidente eleito queira voltar a seu cargo". Fim.

Da Redação,
Por Joana Rozowykwiat