Manifestantes pró-Zelaya se reúnem, desafiado governo golpista
Cerca de 500 pessoas se reúnem na Universidade Pedagógica Nacional na nesta segunda-feira (28), em Tegucigalpa, na primeira tentativa de manifestação em apoio ao presidente deposto, Manuel Zelaya, após o governo golpista suspender por 45 dias as garantias constitucionais, por decreto, no domingo. A medida restringe as liberdades de circulação e expressão, e proíbe as reuniões públicas, entre outras medidas.
Publicado 28/09/2009 15:23
O clima é de tensão no local, segundo o enviado especial do UOL Notícias a Tegucigalpa. Os manifestantes se encontram em uma rua e estão cercados por policiais. A intenção da polícia é liberar o trânsito da rua. Caso isso não seja possível por vias pacíficas, "temos outros meios para liberar a rua", disse um policial à reportagem.
Os líderes da manifestação classificam o protesto de hoje como um desafio ao governo. "O decreto de ontem proíbe a reunião de mais de 20 pessoas e aqui nós estamos em muito mais que vinte pessoas. Por isso, nossa reunião é um desafio ao governo. Vamos ficar sentados aqui e este será o nosso protesto", disse Rafael Alegria, líder do movimento por meio de um alto-falante em um carro que circula no local.
"Como poderemos ter eleições livres se este decreto reduz nossas liberdades por 45 dias? Isso significa que não pode haver reunião até a metade de novembro, o que significa que os partidos políticos não poderão fazer suas manifestações públicas durante a campanha", disse Alegria. As eleições presidenciais de Honduras estão previstas para 29 de novembro. Segundo Alegria, os manifestantes vão levar à justiça hondurenha um pedido de inconstitucionalidade desse decreto.
"Este regime nos roubou a paz. Por isso, iniciamos hoje a ofensiva final para devolver Honduras a seu presidente legítimo", disse o líder da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, Carlos Eduardo Reina. Ele não forneceu detalhes sobre a ofensiva.
Da embaixada brasileira, Zelaya falou hoje por telefone com a Associated Press, mas não quis comentar as palavras de Reina. "Micheletti está disposto a me matar e fazer com que pareça suicídio. Eu digo ao povo: Manuel Zelaya não se suicida", afirmou o presidente deposto, repetindo as declarações feitas desde a semana passada. Ele denunciou a suspensão das atividades da rádio Globo e do canal 36 de televisão, afirmando também que os funcionários foram detidos.
Ele pediu que a comunidade internacional elabore mecanismos para evitar os golpes de Estado em todo o mundo, qualificados por ele como "crimes de lesa-pátria". "Há uma repressão brutal contra o povo. O golpe de Estado traz épocas negras para os direitos humanos e as liberdades públicas. O mandachuva atual se atreveu a suprimir e controlar absolutamente os direitos constitucionais, mas o povo é valente e resistirá. Que Deus nos proteja."
O sacerdote católico salvadorenho Andrés Tamayo, ativista do movimento pró-Zelaya que também está na embaixada brasileira, anunciou que "camponeses de todas as partes do país se dirigem a Tegucigalpa para se concentrar aqui e conseguir derrubar Micheletti".
O religioso anunciou que "a esperança para solucionar a crise é a chegada de José Miguel Insulza (secretário-geral da Organização dos Estados Americanos – OEA) e (Oscar) Arias", presidente da Costa Rica que tem agido como mediador do conflito hondurenho.
Nesta segunda-feira, o governo golpista de Honduras fechou a emissora de rádio Globo de Tegucigalpa, que seria um dos últimos meios de oposição ao regime que funcionava no país, segundo a AFP, e a emissora de TV "36".
Cerca de 20 pessoas das forças de segurança tomaram o edifício da emissora por volta das 5h30 (horário local) e tiraram o sinal do ar. Eles não encontraram resistência, disse à AFP o jornalista Carlos Paz, que trabalha na emissora. Paz disse que ainda não conseguiu localizar o diretor da rádio, o também jornalista David Romero.
A radio Globo já tinha sido fechada pelo regime nos primeiros dias após o golpe de Estado que derrubou o presidente constitucional Manuel Zelaya, em 28 de junho. A emissora de televisão "36", que também se colocou em oposição a Micheletti, se encontrava na manhã desta sexta-feira cercada por militares e o sinal estava fora do ar.
Com agências