Sem categoria

Renato chama atenção para 12º Congresso: a hora do debate é agora

Faltando pouco mais de um mês para a realização do 12º Congresso do PCdoB (dias 5 a 8 de novembro), o presidente do partido, Renato Rabelo, falou ao Vermelho sobre temas importantes para a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento a partir de 2010. Para ele, “este é o momento” de os militantes discutirem as teses e contribuírem para a redação final que dará as bases para o trabalho futuro do partido.

De acordo com o dirigente, o momento pede reflexão de todo o coletivo para que o PCdoB saia do 12º Congresso “armado política e ideologicamente para os desafios do próximo período”, com destaque para as próximas eleições. Segundo ele, o terreno ainda não está definido, mas é certo que a direita terá dificuldades. “A oposição ficou completamente sem discurso e sem programa. O êxito do governo Lula, que levou o país a atravessar uma situação muito favorável em praticamente em todas as áreas, fez com que a oposição passasse a utilizar todo tipo de mecanismo para tentar desmoralizar o governo”.

Para Renato, a direita se sustenta nos grandes meios de comunicação para amplificar seu discurso. “O governo Lula pôs o país nos trilhos e lhe deu mais prestígio e a mídia é contra, agindo de maneira a responder aos interesses de uma minoria de setores altamente privilegiados”.

Confira a seguir os principais trechos dessa conversa.

Reta final do processo congressual

“Chegamos agora a uma fase decisiva para o 12º Congresso. O PCdoB, apesar das múltiplas tarefas que tem em várias frentes de atuação, precisa também se empenhar neste processo e encarar as questões em debate. O Programa, por exemplo, é muito importante porque é um documento que permanece, assim como a política de quadros; o primeiro leva em conta a linha política e o segundo, a linha de construção partidária. É nesta reta final que o partido se volta mais para o Congresso, uma vez que se aproximam as conferências, o ponto alto da realização congressual no âmbito de cada estado. Portanto, este é o momento de participar. Nosso esforço é fazer com que aquilo que chamamos de ‘inteligência coletiva’ contribua na elaboração desses documentos para que eles sejam efetivamente ricos e reflitam o espírito do PCdoB. Além disso, na medida em que o coletivo se sente contribuinte das diretrizes que nortearão o partido, há mais o ânimo e empenho para aplicá-las e desenvolvê-las”.

O PCdoB que sairá do 12º Congresso

“Acho que o partido sairá deste processo congressual mais armado política e ideologicamente para enfrentar os desafios do próximo período. E o primeiro deles são as eleições de 2010. A compreensão do PCdoB é a de que o desenvolvimento do caminho que devemos perseguir para atingir objetivos maiores (o socialismo) passa pela batalha política em curso no Brasil e que envolve a continuidade deste ciclo político aberto por Lula. Isto inclui levar em conta a eleição de seu sucessor ou sucessora. É com essa possibilidade que trabalhamos para que possamos construir um novo projeto nacional de desenvolvimento. Se nas próximas eleições vencer outra corrente – como os tucanos e os demos, por exemplo, que expressam os interesses contrários à continuidade deste ciclo – tudo será interrompido. Eles vão querer impor outro caminho que não é o que pretendemos para a construção dos objetivos que perseguimos”.

Tornar práticas as diretrizes aprovadas

“O Programa é uma orientação e levanta questões que vemos como fundamentais como, por exemplo, a necessidade de se considerar o que virá depois de Lula. O candidato ou candidata que venha a ser indicado pelo presidente precisa debater projeto e nessa hora o PCdoB deve se empenhar para contribuir levando em conta as propostas advindas do 12º Congresso em defesa do novo projeto nacional de desenvolvimento. Outra questão é atuar nos movimentos sociais, defendendo bandeiras que correspondam à linha apresentada pelo Programa. Um ponto importante – que aparece com mais força agora, que o Brasil sai bem e rapidamente da crise internacional – é nos empenharmos para mudar a lógica rentista, especulativa, que retira recursos do meio produtivo para o especulativo. No cômputo da renda total do país, a do trabalho deve estar equiparada à do capital; hoje, no entanto, ainda há grande defasagem. Esta é uma luta importante que envolve os todos os trabalhadores e a maioria da população”.

Indicações para 2010

“O governo tem uma base ampla e heterogênea, porém necessária para administrar o país. Vai ser exatamente considerando esta base que serão discutidos, em última instância, os nomes daqueles que serão os candidatos do campo de Lula. Ao menos nesse momento os partidos terão de ser ouvidos. E acredito que ainda há muito a ser feito, mesmo que haja a apresentação de tais ou quais candidaturas. Esta é uma questão em desenvolvimento e em formação; não creio que seja um quadro cimentado. Vai depender dessas discussões, do debate no seio da base e da concepção de programas e projetos. Por enquanto, o cenário tem indicações como a Dilma (Rousseff) e o Ciro (Gomes). Ainda não está explícita a posição do PV, que parece querer lançar a Marina (Silva). Os tucanos ainda não têm uma candidatura certa. Do ponto de vista do PCdoB, nossa orientação básica é, primeiramente, fazer com que esse campo político – que expressa a liderança de Lula – consiga galvanizar forças maiores para dar continuidade à linha iniciada pelo presidente e avançar ainda mais. O candidato seria uma resultante disso e não o contrário. O PCdoB não coloca o carro na frente dos bois e nesta questão o mais importante é termos presente o lado e o projeto”.

Desgaste no Senado

“Uma reforma política é fundamental levando em conta a realidade do Estado brasileiro, do sistema de representação político. Tudo isso demanda uma reforma profunda e hoje, para ser realizada no âmbito do Congresso atual, encontra muito obstáculo. Acho que o futuro governo, com base na correlação política que sair das urnas, deve propor uma nova reforma política, na qual poderia entrar em debate questões importantes como a possibilidade de se ter apenas um parlamento. Para os comunistas, a representação deveria ser unicameral, expressando a representação do povo e da nação. No caso da existência de um segundo parlamento, este deve ter uma função muito bem determinada; se isso não for bem construído, cria-se um problema de superposição de poderes e uma série de dificuldades para a construção institucional e a definição das leis, como ocorre hoje no país. Vemos a Câmara penetrando muitas vezes no papel do Senado e vice-versa, inviabilizando o processo legislativo”.

Oposição ao governo Lula

“A oposição ficou completamente sem discurso e sem programa. O êxito do governo Lula – alguns dos quais sequer eram previstos –, que levou o país a atravessar uma situação muito favorável em praticamente em todas as áreas, fez com que a oposição passasse a utilizar todo tipo de mecanismo para tentar desmoralizar o governo. Assim, adota a postura de pretensa defensora da ética, da moralidade pública, um discurso que serve para qualquer situação. É uma demonstração de que a oposição não tem projeto e uma forma de abafar as vitórias do governo. A atitude da oposição é puramente defensiva. Cria CPIs para tudo, que servem para dispersar e confundir, fazendo com que o povo perca o foco daquilo que é mais importante: a economia vai de vento em popa depois de uma crise dessa magnitude; o país se situa no plano internacional com cada vez mais prestígio e tem papel importante como liderança na América Latina; tem procurado levar em conta a questão da distribuição de renda e até mesmo a questão da defesa das riquezas nacionais. Estamos num momento muito propício em que o natural é continuar neste caminho. E o que a direita pode fazer? Já que não pode defender o governo, não possui um discurso ou um programa capaz de se contrapor ao do governo Lula e ainda por cima é responsável pelos desastrosos oito anos de FHC, apela para o discurso da moralidade pública. Sua influência está calcada no apoio que a ‘grande mídia’ lhe dá, mídia esta que vai se colocando como o grande fator de oposição ao governo”.

Concentração da mídia

“O principal problema da mídia em nosso país é que talvez ela seja a mais monopolizada do mundo, controlada por apenas algumas famílias. Para que o Brasil tenha uma mídia realmente democrática, é preciso quebrar com esse monopólio atrasado que reflete ainda uma situação que já deveríamos ter superado. Por isso, a democratização é fundamental – e a Conferência de Comunicação (Confecom) é muito importante neste sentido. Temos um governo com grandes êxitos, mas que tem toda grande mídia com ele. O governo Lula pôs o país nos trilhos e lhe deu mais prestígio e a mídia é contra, agindo de maneira a responder aos interesses de uma minoria de setores altamente privilegiados. Essa mídia clama por uma liberdade de imprensa que, na verdade, é a liberdade da opinião dela; assim, esconde a necessidade da democratização da comunicação. O governo Lula deveria ir contra a grande mídia e trabalhar para construir uma alternativa que enfrente essa situação. Mas, o povo tem compreendido isso e sente que a tecla que a mídia insiste em bater não corresponde à verdade dos fatos; a vida fala mais alto e o povo percebe que o que a mídia fala não bate com a realidade”.

Da redação,
Priscila Lobregatte