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ONU oculta a fraude de Karzai, diz El Público

Há cada vez menos argumentos que possam sustentar que as eleições de 20 de agosto no Afeganistão foram uma demonstração da suposta democracia florescente no país. Segundo o diplomata estadunidense Peter Galbraith, as Nações Unidas estão envolvidas no suposto golpe do presidente afegão, Hamid Karzai. Até quarta-feira, Galbraith era um dos máximos representantes da ONU no país.

Por Daniel del Pino, para o jornal espanhol El Publico

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, retirou há dois dias do seu posto o funcionário, pelo "bem da missão". As desavenças entre o estadunidense e o seu superior, Kai Eide, o enviado especial da ONU no Afeganistão, eram bem conhecidas.

Mas o verdadeiro motivo da sua demissão foi explicado pelo próprio Galbraith, na terça-feira (1/10), numa entrevista com a BBC. Eide era contra denunciar de forma contundente a fraude nas eleições, apesar das provas em poder da Comissão de Queixas Eleitorais, um organismo de supervisão reconhecido pela ONU.

"Acho que é uma mensagem espantosa a destituição pela ONU de um alto funcionário porque está preocupado com a fraude, em eleições financiadas pela própria Organização", disse Galbraith. O diplomata abandonou o Afeganistão em 15 de setembro, abrindo novos rumores.

Mas não apenas a Comissão de Queixas tinha provas da fraude. Também os observadores da União Europeia, que puseram um milhão e meio de votos sob suspeita, um quarto do total apurado. A maioria, mais de um milhão, poderiam ser favoráveis a Karzai. As dúvidas sobre o golpe terminam quando Galbraith chega a afirmar que Eide "decidiu apoiar Karzai, que era o principal beneficiário da fraude".

O silêncio da ONU

Segundo o jornal britânico The Guardian, Ban Ki-moon destituiu o estadunidense depois de receber queixas de vários ministros de Karzai, que disseram a ele que não podiam continuar a trabalhar com Galbraith.

O estadunidense era a favor de denunciar os fatos, já que "o principal objetivo da ONU era conseguir eleições livres, limpas e transparentes". Mas Eide não queria que se falasse, por exemplo, "do número de eleitores com os embaixadores em Cabul, porque sabíamos que a participação no sul era muito baixa em comparação com o número de votos que se tinham recolhido nessas zonas".

O general em comando das operações da NATO, Stanley McChrystal, entregou ao Governo dos EUA em setembro um relatório no qual afirmava que "a corrupção do governo afegão é tão perigosa como os talibã".

As palavras de Galbraith sustentam esta ideia, mas, além disso, confirmam que Karzai continua a ser o escolhido do Ocidente para governar um país no qual não se respeita nem sequer o suposto objetivo da intervenção militar que padece: atingir a democracia.