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Povo do Panamá diz não às bases

Os Estados Unidos e o Panamá firmarão em 30 de outubro de 2009 um acordo para o estabelecimento de bases navais neste país, informou o ministro de Governo e Justiça, Raúl Mulino", segundo uma fonte internacional. "A decisão é fruto da reunião bilateral entre o presidente Ricardo Martinelli e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em Nova York".

Por Marco A. Gandásegui, no Opera Mundi

O ministro Mulino anunciou que o acordo contempla o estabelecimento de bases navais na Bahia Piña, na província de Darién, na costa do Oceano Pacífico, a poucos quilômetros da fronteira com a Colômbia, e em Punta Coca, ao sul da província de Veraguas, a 350 quilômetros a oeste da capital panamenha, também no litoral do Pacífico.

Os Estados Unidos anunciaram há apenas um mês a intenção de distribuir tropas de suas Forças Armadas por sete bases militares na Colômbia. As bases negociadas com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, contemplam uma presença norte-americana tanto no Pacífico como no Atlântico. Washington já dispõe de várias bases militares no Caribe e na América Central, que, no conjunto, criariam um perigoso circuito militar em toda a região.

Segundo Washington, o Panamá já aceitou que os Estados Unidos intensifiquem a luta contra o narcotráfico e o controle da entrada ilegal de pessoas no Panamá. Os Estados Unidos realizariam operações de inteligência e patrulhamento marítimo ao largo das costas panamenhas. Informou-se também que "o acordo se daria no marco do Plano Mérida". O acordo criou uma situação caótica no México, solapando a ordem jurídica e aumentando a penetração militar dos Estados Unidos nas Forças Armadas do país azteca.

O Plano Mérida desembolsou 3,8 milhões de dólares para o Panamá em 2009. No próximo ano, a soma crescerá para 7 milhões de dólares. A informação não assinala se o Panamá vai reforçar seu pessoal militar nessa escalada militar norte-americana.

Um jornal panamenho assinalou que fontes da inteligência (sem precisar quem) detectaram "dois mil pontos que são usados como caminhos para o transporte de drogas" no país. Essa informação é a mesma utilizada há 20 anos para promover a imagem do então presidente George Bush (pai) nos Estados Unidos e satanizar o general Manuel Noriega antes da invasão que custou milhares de vidas panamenhas.

O presidente Martinelli propõe que o país retorne a um passado colonial que foi superado com os Tratados Torrijos-Carter e que se consolidou com a retirada das últimas bases norte-americanas do país em dezembro de 1999. Enquanto no século 20 os Estados Unidos insistiram para ter bases militares no Panamá para defender o Canal do Panamá, eles agora colocam que as necessitam para combater o tráfico de drogas.

Martinelli presta-se de maneira irresponsável às manobras políticas dos norte-americanos, com pleno conhecimento de que a presença de bases militares estrangeiras só contribuirá para gerar novas fontes de conflito com a potência norte-americana. Além disso, romperá o tecido social da nação colocando a maioria dos panamenhos contra o próprio governo.
Novamente surgirão lutas nacionalistas para erradicar a presença militar norte-americana do solo panamenho. E se repetirão a insurreição patriótica de janeiro de 1964, a semeadura de bandeiras da década de 1950 e as jornadas que rechaçaram o Tratado Filós-Hines de 1947.

* Marco A. Gandásegui é professor da Universidade do Panamá e pesquisador adjunto no Centro de Estudos Latino-Americanos (CELA) Justo Arosemena