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Granma: O valor inestimável da resistência em Honduras

Cem dias de heroica resistência contra a maquinaria repressiva golpista foram suficientes para que os gorilas locais e seus patrocinadores da extrema direita estadunidense percebessem que os hondureños estão decididos a manter a batalha até a restituição do presidente José Manuel Zelaya como primeiro passo no caminho estratégico até a consecução de uma Assembleia Nacional Constituinte, motivo pelo qual terão que se sentar e procurar uma saída negociada ao conflito, patrocinado pelo império.

Nem a assessoria de oficiais israelenses chegados a Tegucigalpa para desestabilizar a luta com meios psico-tecnológicos, nem o apoio secreto do Pentágono, nem a brutal repressão em cumplicidade com o toque de recolher, nem o decreto de Estado de sítio, nem as mentiras midiáticas ditas e escritas aos montes em favor dos gorilas conseguiram que os hondurenhos e a comunidade internacional — salvo contadas e abomináveis exceções —, aceitem o governo de fato, se esqueçam do presidente deposto inconstitucionalmente ou das aspirações presentes e futuras desse povo centro-americano em defesa de uma Honduras de todos e para o bem de todos.

A Resistência Nacional contra o golpe é hoje um movimento político com o qual há que contar nestes momentos presumivelmente finais em que emissários da OEA tentam fazer assinar o Acordo de San José ao cabecilha local, Roberto Micheletti, que apesar de seu sorriso e aparente tranquilidade sabe que tem os dias contados.

Para não se sentir sozinho neste minuto e para tentar apoiá-lo numa saída cheia de concessões, representantes da extrema direita republicana norte-americana aterrissaram em Tegucigalpa. Os uivos da Loba Feroz (Ileana Ros Lehtinen) e das hienas Díaz- Balart (Lincoln e Mario) têm como objetivo socorrer e abrigar aos eleitos pelo poder imperial, Roberto Micheletti e o general Romeo Vázques, quando não lhes restam argumentos para manter a farsa, uma vez que o primeiro expressou publicamente que Zelaya foi deposto por ser "esquerdista, por aderir-se à Venezuela, Cuba e Equador" e não, como até agora tinham reiterado, por cometer ações inconstitucionais.

O ego desta mafiosa fauna da Flórida é de tal magnitude que nem sequer na queda querem perder protagonismo. Dirão "tanto faz o que aconteça!", acostumados à derrota quando se trata de defender causas injustas.

Sejamos justos. Não foram apenas estes macabros ginetes do Apocalipse que apoiaram o golpismo frente ao reclamo universal em sua contra. Eles e outros como eles no Legislativo estadunidense — digamos o senador republicano Jim DeMint, o líder conservador na Câmara Alta, Mitch McConell, e Aaron Shock, por citar apenas alguns —, penetraram as fendas deixadas pela posição oficial da administração Barack Obama e sua ambígua atuação desde o primeiro dia do golpe.

O presidente Obama deixou em mãos de sua falcona, Hillary Clinton, o tema Honduras e esta, afinal, também perdeu a iniciativa frente aos setores mais conservadores e reacionários do stablishment. De nada serviu contratar o sempre fiel servidor de Washington, Óscar Arias, para que servisse de mensageiro dum Acordo de mediação, chamado de San José, para fazer retornar o presidente Zelaya, atado de pés e mãos. Os golpistas ignoraram-na e zombaram de Obama.

Assim visceral é o ódio aos representantes de governos que são indóceis ao imperio e o presidente deposto tinha que pagar com o referido Acordo a ousadia de ter-se incorporado ao Petrocaribe e à ALBA. Zelaya tinha que retornar desonrado a Tegucigalpa.

O Departamento de Estado ianque não contou — isso não conta jamais na lógica imperial —, que o povo se converteria desde o mesmo dia do golpe nas hostes liberadoras de seu presidente, o único na história recente de Honduras que os levou em conta e para o qual trabalhou com honestidade e transparência durante seu mandato, o único que se encarregou de colocar a pedra fundamental no caminho da segunda e definitiva independência ainda em meio a difíceis pressões da oligarquia local, a mesma que pagou por seu desterro e continua pagando pelo cerco que lhe tenderam na embaixada do Brasil.

A nívea secretária de Estado acreditou no início que a batalha no interior da Administração Democrata era unicamente contra o presidente negro. Ela também caiu na armadilha da reação e do golpe, dissemos desde o início, foi igualmente contra eles.

Ninguém duvida de que o governo de fato não se teria mantido no poder mais de cem dias como o fez, violando flagrantemente os direitos humanos e até o Direito Internacional sem o apoio da extrema direita norte-americana.

Se não fosse assim como explicar que o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, se reuniu em secreto com o golpista Micheletti na base militar ianque de Palmerola e não na sede diplomática dos Estados Unidos em Tegucigalpa. Não é por acaso o complexo militar industrial a sustentação do poder imperial? Não ficou claro isso com a marcha a ré que o próprio presidente Obama teve que dar em temas prioritários de suas promessas de campanha como o fechamento da Base Militar que ilegalmente ocupa os Estados Unidos no território cubano de Guantánamo, transformada em campo de tortura?

Como explicar que a Loba feroz exija o reconhecimento do governo de fato porque de não fazê-lo se colocaria em perigo "a segurança nacional" dos Estados Unidos. Com certeza, estes uivos, hoje, não são mais que a expressão da derrota frente à valentia, maturidade política e unidade da resistência hondurenha que é a que, em última instância, está obrigando a negociar aos golpistas.

Em entrevista concedida há uns dias pelo presidente Zelaya a vários meios de imprensa internacionais sobre as limitações do Acordo de San José, expressou:

"Quem vai assinar o Plano Arias sou eu como representante eleito do povo hondurenho. O Plano tem dois componentes: minha restituição para dizer não aos golpes de Estado, que é o que interessa aos presidentes latino-americanos para sentirem-se seguros de que vai se respeitar a soberania popular e de que não se substitua a decisão do povo por uma elite militar, econômica e política, e o segundo componente são os processos e reformas sociais e têm a ver com o tempo".

"Eu me comprometi a que antes das eleições não vou tomar nenhuma iniciativa nesse sentido, mas isso não quer dizer que os processos vão parar. Eu nunca expus a Constituiente para que se desenvolvesse durante meu governo, senão para o próximo governo onde eu já não vou ser presidente…"

"O Plano Arias é um plano de emergência para sair de uma crise de um Estado de fato, que ao mesmo tempo não paralisa os processos sociais, nem muito menos pode deter o que significa a decisão do povo soberano".

Finalmente, o presidente Zelaya reiterou que "nenhum esforço será em vão se obtivermos o resultado esperado, e o despertar do povo hondurenho tem já um valor inestimável em nossa história. O povo abriu os olhos e as elites econômicas retiraram suas máscaras. Assim que hoje podemos sentar-nos a uma mesa para falar da realidade com todos os atores para chegar a uma conciliação e a acordos"

Quem herda não furta, diz o ditado popular e o povo hondurenho, herdeiro de Morazán, soube colocar-se à altura deste minuto histórico. Uma vez alcançados os acordos, temos a certeza de que em Honduras o sangue derramado e o sacrifício de seus filhos não será nunca história passada porque ali ninguém nem nada será esquecido.

Fonte: Granma

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