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Diálogo em Honduras "corre contra o tempo" em seu 3º dia

O governo de fato de Honduras e o presidente deposto Manuel Zelaya completaram nesta sexta-feira (9) três dias de diálogo, sem avanços na busca de uma saída para a crise política em Honduras. O otimismo dos diplomatas que acompanham as conversações no Hotel Carion é moderado. John Biehl, assessor do chefe da OEA, Miguel Insulza, pede confiança no diálogo mas admite que "corremos contra o tempo".

Enquanto a polícia reprimia uma manifestação diante do hotel que sedia a negociação, três delegados do governante de fato, Roberto Micheletti, e três de Zelaya, se reuniram sob a supervisão de funcionários da OEA. Mas não chegaram a acordo sobre o primeiro ponto, a recondução do presidente deposto em 28 de junho por um golpe de Estado.

Zelaya, refugiado na embaixada do Brasil desde que retornou de surpresa a seu país, em 21 de setembro, nesta sexta-feira pediu à comunidade internacional medidas econômicas e comerciais "mais fortes". Para ele, isso terminaria com o regime golpista "em horas".

"As medidas ainda não são suficientes para combater um regime que procura se sustentar pelas armas e pela força", disse Zelaya, ao comentar a saída de Tegucigalpa do secretário-geral da OEA e de um grupo de chanceleres, com as mãos vazias.

Nos corredores do hotel, Biehl, assessor de Insulza e chileno como ele, admite que o tempo trabalha contra um acordo. "Temos um otimismo moderado. Obtivemos 60%, coisas que não posso revelar, mas aqui estamos", disse Víctor Mesa, ministro de Governo de Zelaya e um de seus três negociadores no diálogo.

Porém outro dos representantes do presidente deposto, o líder sindical Juan Barahona, coordandor do combativo Movimento de Resistência Contra o Golpe, afirmou que "não se avançou porque o governo golpista não cede no ponto principal".

Na mesa de diálogo, os negociadores de Micheletti maixaram o tom confrontador que o governante de fato usou na reunião com os chanceleres, quarta-feira. Micheletti disse que deixaria o poder se Zelaya desistisse de sua restituição, e que as eleições, mesmo não reconhecidas internacionalmente, estão firmes para o 29 de novembro.

"O diálogo transcorreu num ambiente cordial e prudente, mas com franqueza, e estamos chegando a muitos consensos. Alcançamos mais de 40%", avaliou a advogada Vilma Morales, uma das representantes de Micheletti.

Esta é a segunda tentativa da missão da OEA, depois de um ensaio fracassado em agosto. Os diplomatas correm contra o tempo, pois o calendário eleitoral está em curso, enquanto a crise econômica e política se aprofunda.

Zelaya fixou a data de 15 de outubro para sua reintegração, o que deixaria um mês e meio para organizar a consulta às urnas. Já o governo de fato, apoiado pelos militares e o empresariado local, aposta que a comunidade internacional terminará por reconhecer as eleições como saída para o conflito.

Porém os zelayistas não dão tréguas nas ruas. Agora eles deslocaram suas manifestações para a porta do hotel-sede do diálogo. Nesta sexta-feira, policiais e militares usaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água com produtos químicos para reprimir uma protesto de uma centena de pessoas.

"Mesmo que me atirem gases, continuarei em luta, porque quero ter na Casa de Governo o presidente em quem votei, não um posto pelas forças armadas", disse Orlinda Cruz, 59 anos de idade, enquanto usava bolsas com água para aliviar os efeitos do gás.

O clima de tensão confirmou uma denúncia da ONU, segundo a qual cerca de 40 ex-paramilitares das Autedefesas Unidas da Colômbia foram recrutados depois do golpe por latifundiários hondurenhos, para sua proteção.

Apenas o futebol relaxa o ambiente. Os hondurenhos de ambas as facções farão uma pausa na crise durante a noite de sábado (10), para animar a seleção de Honduras que enfrentará em casa os Estados Unidos, num jogo decisivo das eliminatórias para a Copa do Mundo na África do Sul.

Com o enviado especial do diário mexicano La Jornada