Diálogo em Honduras "alcançou 90%", mas falta a volta de Zelaya
A quarta reunião de diálogo em Honduras terminou nesta terça-feira (13) com acordo em 90% dos pontos propostos pelo Acordo de San José. Mas o que resta de divergência é o ponto crucial: a recondução ao cargo do presidente Manuel Zelaya, que entrou em debate, devendo ser o tema desta quarta-feira (14).
Publicado 13/10/2009 21:55

"Alcançaram 90% do Pacto de San José. Detiveram-se no ponto seis, do retorno de Zelaya. Acertaram que conversariam com cada uma das partes e que amanã (quarta-feira) às nove da manhã seriam retomadas as conversações", noticiou a TV latino-americana Telesur.
"Esperamos a resposta amanhã"
"Já começamos a discutir o ponto central e esperamos a resposta amanhã", disse para os jornalistas Mayra Mejía, uma das três negociantes de Zelaya. Já Vilma Morales, negociadora do regime de fato, confirmou que "avançou-se 90%. Começamos a dialogar sobre o ponto central e amanhã continuaremos a colocação de diferentes cenários e alternativas", agregou.
O dirigente sindical Juan Barahona renunciou nesta terça-feira a continuar participando das negociações, porque disse que discorda de um dos pontos acordados: a renúncia de Zelaya a convocar uma Assembléia Constituinte.
Barahona foi substituido pelo advogado Rodil Oliveira, na equipe de três pessoas que representa o presidente deposto pelo golpe militar de 28 de junho. O negociador afastado disse que Oliveira "tem o nosso apoio e confiança".
Mas Barahona manteve a defesa da Assembléia Constituinte. "Não estamos de acordo, embora valos respeitar a decisão (de Zelaya) de renúncia à Constituinte. Mas a Frente de Resistência continuará. Mesmo que Zelaya volte ao pode não vamos renunciar à Constituinte", disse o sindicalista.
Constituinte foi o pretexto para o golpe
A renúncia à Constituinte é o ponto do Acordo de San José – proposto pelo presidente de Costa Rica, Oscar Arias, em uma tentativa de mediação – que desperta maior insatisfação na base zelayista. Já o regime golpista de Roberto Micheletti resiste sobretudo à restituição da presidência ao governante deposto.
A questão da Constituinte foi o estopim para o golpe de 28 de junho. As forças armadas e a oligarquia recorreram à força para impedir uma consulta às urnas, que deveria ocorrer naquele dia, em que os eleitores de Honduras se pronunciariam sobre a conveniência de uma assembléia para redigir nova Constituição, no lugar da atual, promulgada em 1981.
Os pontos em que houve acordo incluem a constituição de um governo de unidade, a recusa da anistia (prevista no Acordo de San José), a renúncia à Constituinte por parte de Zelaya, a criação de uma comissão verificadora do acordo e o pedido à comunidade internacional para que suspenda as sanções impostas após o golpe.
Para Zelaya, "vai ser uma bofetada"
"Somos otimistas e esperamos entregar ao país um acordo político e jurídico aceitável", comentou o chefe da comissão negociadora de Zelaya, Victo Meza, ministro de Governo afastado pelo golpe. Mas ele advertiu que "todos os pontos faltam enquanto não se firme o principal".
Barahona, por sua vez, se mostrou cético sobre a possibilidade de um acordo nesta quarta-feira, véspera do prazo – 15 de outubro – dado por Zelaya para reassumir seu cargo sem prejuízo para o calendário das eleições marcadas para 29 de novembro.
"Na mesa, por parte dos golpistas, não se vê nenhuma decisão política que permita chegar a um acordo. Não acreditamos que vá haver ali um acordo. Não é a vontade e nem o interesse deles", avaliou o líder da Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe.
Zelaya também se mostrou reticente. "Não tenho confiança. O que vai se passar é que o regime golpista vai continuar se negando a acatar a resolução da OEA e da comunidade internacional. Vai ser uma bofetada", previu ele.
Da redação, com agências