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Honduras pode decidir hoje sobre volta de Zelaya ao poder

Ponto mais delicado da crise política em Honduras, a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya deve ser debatida nesta terça-feira (13), quando representantes do líder deposto e do governo golpista de Roberto Micheletti reunirem-se na mesa de negociação para dar continuidade ao diálogo. Zelaya, contudo, estava pessimista quanto ao novo encontro.

Se confirmada a volta ao poder, Zelaya deixaria a embaixada do Brasil, o isolamento internacional imposto a Honduras seria levantado e se abriria o caminho para as eleições presidenciais de novembro. Caso contrário, o desfecho dos 108 dias de crise em Honduras se tornará ainda mais incerto.

No último encontro, a negociadora do governo de fato Vilma Morales havia anunciado um avanço em 60% nos termos do Pacto de San José, que serve de base para as negociações. A evolução foi confirmada pelo campo zelaysta. Formulada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, a proposta tem ao todo 12 pontos, dos quais 8 tocam temas fundamentais e 4 dizem respeito a questões procedimentais.

Os dois lados já admitem ter entrado em acordo sobre a necessidade de formar um governo temporário de união nacional e de não promover uma anistia geral. Zelaya responderia por 18 acusações criminais, imputadas pelos golpistas, mas diz não temer a Justiça. A revogação da anistia também poderá abarcar os diversos crimes cometidos pelo governo de fato desde o golpe de Estado, em 28 de junho.

Ontem, Zelaya disse a jornalistas na embaixada brasileira que há uma "pressão" para que Juan Barahona, representante da Frente Nacional de Resistência (FNR), a ala mais radical de sua base de apoio, seja afastado da mesa de negociação. Momentos antes do anúncio, Barahona dissera ao Estado que não abriria mão da convocação de uma Assembleia Constituinte, prometida por Zelaya, e tampouco admitiria a realização de eleições em novembro. "Temos três princípios irrevogáveis: restituição imediata, Constituinte já e não às eleições com golpistas no poder."

Zelaya pessimista

O enviado da Organização dos Estados Americanos (OEA) que observa as negociações, o chileno John Biehl, mostrou ontem um otimismo discreto em relação ao diálogo. Ele disse que as negociações "evoluíram muito" e garantiu que os "dois lados têm agora boa vontade" para buscar o consenso.

Caso zelaystas e representantes do governo de facto entrem em acordo hoje, o Pacto de San José terá avançado "em 90%", garantiu o ex-ministro do Interior de Zelaya, Victor Mesa, que também atua como negociador. Faltaria, então, apenas um dos oito pontos fundamentais, disse Mesa, sem revelar qual seria a pendência. "As perspectivas são muito favoráveis", disse o ex-ministro.

Zelaya, entretanto, adotou ontem um tom pessimista, especulando que Micheletti dará uma "bofetada na cara" da comunidade internacional. "Acho que o regime golpista continuará a desrespeitar a resolução da OEA e o mundo", disse o presidente na embaixada brasileira. Segundo ele, a ditadura de Micheletti apenas quer ganhar tempo até as eleições.

A Frente Nacional de Resistência voltou a fazer manifestações ontem pela manhã em um bairro pobre da periferia de Tegucigalpa. Cerca de 300 membros do grupo se reuniram sob o olhar de quase 120 policiais. Contudo, não houve violência.

Reyes ameça sair da disputa

O candidato à presidência de Honduras, Carlos H. Reyes, reiterou, nesta terça, a sua decisão de se retirar da disputa de novembro próximo se o país continuar sob o golpe militar. Reyes, inscrito como independente pelas organizações populares, disse a uma televisão local que tal postura será adotada com o apoio de suas bases. Segundo ele, as eleições só podem acontecer se for restituída ordem constitucional, com o retorno de Zelaya ao poder.

Com agências

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