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Pós-crise: sindicatos pressionam patrões e cobram aumento real

A recuperação da economia se transformou em argumento de pressão para conseguir reajustes de salários com ganhos reais (acima da inflação) neste semestre. Há uma mudança mais do que justa e ousada nas negociações, em favor dos trabalhadores.

A atuação dos sindicatos em 2008, principalmente entre setembro e dezembro, quando o país sentiu de forma mais intensa os efeitos da crise, foi para manter o emprego. Já nas campanhas salariais deste ano, o foco dos sindicatos já é recuperar o poder de compra dos salários.

Metalúrgicos que trabalham em montadoras e bancários — categorias com forte poder de mobilização — já conquistaram de 1,5% a 3% de aumento real, além de abonos salariais de R$ 1.500 a R$ 2.800 e participação nos lucros e resultados. Essas negociações abrem espaço para que outras categorias negociem aumentos reais que variam de 5% a 10% — caso dos químicos, gráficos, trabalhadores do setor de alimentação e dos petroleiros.

Como voltaram a produzir — e a faturar — neste ano. as empresas têm condições de arcar com maiores reajustes. "Os efeitos da crise foram brandos no Brasil. As indústrias retomaram a produção — e as lojas, as vendas”, afirma Vagner Freitas, secretário de administração e finanças da CUT. “Sempre que tem retomada da economia o quinhão dos trabalhadores tem de aparecer. Se o mercado interno está forte e aquecido, é possível criar melhores empregos e salários.”

No primeiro semestre deste ano, 93% dos 245 acordos coletivos analisados pelo Dieese tiveram reajustes iguais ou acima da inflação (INPC). No mesmo período do ano passado, o percentual foi de 87%. E o melhor: a tendência neste semestre é que os reajustes se mantenham acima da inflação.

“Quem negociou no primeiro semestre negociou em plena crise e, mesmo assim, obteve bons resultados. Neste (segundo) semestre, as categorias negociam em um cenário melhor. A perspectiva é que o país cresça entre 4% e 5%”, afirma José Silvestre de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese. “Já houve melhora no emprego e na produção, especialmente no caso de setores que receberam incentivos fiscais e subsídios do BNDES.”

Os aumentos reais de salários também estão mais robustos porque a inflação está em queda. “Fica bem mais fácil para o empresário dar ganho real de salário com inflação anual entre 4% e 4,5% do que próxima de 7%. A inflação é peça fundamental nas negociações salariais”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Para o advogado trabalhista Luis Carlos Moro, os sindicatos tiveram de assumir uma posição mais “ofensiva” após constatarem que a crise não atingiu o país na proporção esperada. “As empresas se preparam para demissões, suspensão de contratos de trabalho e arrocho salarial. Quando o lucro de várias companhias foi divulgado e se constatou que chegava à casa de bilhões de reais, os sindicatos reagiram e retomaram a bandeira do aumento real.”

De setor a setor

Em setores que ainda não reagiram, como o têxtil, as discussões salariais serão mais difíceis. Trabalhadores têxteis de São Paulo pedem aumento real de 5%, mais a correção da inflação. “Não vai chegar nem perto disso. Em 2008, demos 0,8% de aumento real, que já foi maior do que podíamos”, afirma Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil, sindicato da indústria têxtil.

As centrais sindicais reagem à altura. “Como a economia vai crescer até o final do ano, se não houver aumento real de salário, haverá um festival de greves”, diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.

Os químicos de São Paulo já preparam paralisações para conseguir negociar aumento salarial. "O faturamento do setor cresceu, em média, 7% nos últimos dez anos. Se negociamos medidas no início do ano para evitar a demissão, agora as empresas se recuperaram e têm condições de nos atender", diz Sergio Luiz Leite, presidente da Fequimfar (federação dos químicos), que representa 100 mil trabalhadores no Estado.

No setor comercial, as negociações superaram a expectativa dos próprios empresários. “Concedemos 2,45% de aumento real, o maior percentual dos últimos dez anos”, diz Ivo Dall'Acqua, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Fecomercio-SP. Um dos fatores que impulsionaram o comércio neste ano foi o reajuste dado ao salário mínimo (descontada a inflação, o aumento chegou a 6,39% neste ano). “A classe C teve mais acesso ao consumo, o que incrementou as vendas.”

Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e da UGT (União Geral dos Trabalhadores) dá outra explicação. Segundo ele, os patrões deram o reajuste pedido para evitar greves e poder negociar o trabalho dos comerciários durante os feriados e os domingos.

Da Redação, com informações da Agência Folha