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Engavetamento do impeachment não livra Yeda de problemas

Mesmo livre do processo de impeachment na Assembléia Legislativa e da ação de improbidade administrativa na Justiça Federal, a vida da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), não será fácil até o fim do mandato, se depender do seu vice, Paulo Feijó (DEM), e do PT gaúcho.

Poucas horas após a governadora haver declarado ontem (quarta-feira, 22) que se sentia livre para iniciar outra etapa de seu governo, Feijó lançou um novo desafio: em nota distribuída por seu gabinete, solicitou que a base aliada de Yeda aprove sua ida à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga denúncias de corrupção na gestão da governadora tucana. "Por que a base aliada não quer ouvir o vice"?, questionou.

O pedido de Feijó para depor na CPI não chega a ser uma surpresa, já que ele manifestou essa vontade mais de uma vez desde que a comissão foi constituída. Mas a solicitação, por meio de nota distribuída à imprensa, coloca os aliados de Yeda em uma saia justa, pois se não há o que temer, não há porque não aprovar seu depoimento na CPI.

Até agora, o vice-governador, que se tornou mestre em divulgar fitas de áudio e vídeo com conversas gravadas envolvendo assessores da governadora em suposto uso de caixa dois na campanha eleitoral, não apresentou nenhuma prova concreta de que isso tenha, de fato, ocorrido. Para solicitar oficialmente um depoimento na CPI, espera-se que tenha algo muito importante a revelar.

O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, prometeu, também por meio de nota, não dar trégua à tucana nas investigações da CPI. O vice-líder da bancada do partido na Assembléia, Raul Pont, disse que a governadora ainda terá que dar muitas explicações sobre fatos apurados pela Polícia Federal no âmbito da "Operação Solidária", que investiga denúncias de desvio de R$330 milhões em licitações em órgãos estaduais. A pedido da presidente da comissão, Stela Farias (PT), a comissão teve acesso aos documentos coletados pela Polícia Federal, sob a condição de manter sigilo.

Mesmo sabendo que dificilmente irá obter resultados concretos na CPI, já que o governo possui maioria, tanto na comissão como no plenário da Casa, a comissão é o palco que sobrou para a oposição continuar provocando desgaste à imagem da governadora. E é nela que o PT, que tem como candidato ao Palácio Piratini o atual ministro da Justiça, Tarso Genro – líder em todas as pesquisas feitas até agora -, irá apostar todas as fichas a um ano das eleições estaduais. Portanto, o que está em jogo é a disputa ao governo no Estado em 2010.

O fim do impeachment e o provável fracasso da CPI não querem dizer, contudo, que a governadora está totalmente livre de incômodos: o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ainda irá decidir se pede ou não a abertura de inquérito criminal contra ela por conta das denúncias encaminhadas com relação ao desvio de recursos do Departamento Estadual Trânsito (Detran).

E os procuradores regionais da República tentarão reverter, em corte superior, em Brasília, a exclusão da governadora da ação de improbidade administrativa determinada pela Justiça Federal. No âmbito doméstico, também terá que aguardar a decisão do Tribunal de Contas do Estado sobre a legalidade das aquisições de mobiliário e roupas de cama feitas para a residência particular com recursos oficiais.

Nova etapa

Ainda é cedo para avaliar se Yeda Crusius, que detém os maiores índices de rejeição junto ao eleitorado gaúcho, irá conseguir reverter o quadro negativo em que se envolveu. Ontem, um dia após a Assembléia Legislativa, haver enterrado o pedido de impeachment, por 30 votos a 17, Yeda fez um pronunciamento no Palácio Piratini e mostrou que pretende conduzir as adversidades de outra forma. A fala da governadora ocorreu somente depois do arquivamento do impeachment porque disse esperar o momento em que não houvesse mais dúvidas por parte da Assembléia e da Justiça sobre sua conduta à frente do governo.

Pela primeira vez, a governadora assumiu publicamente os dois erros que originaram todo o processo de desgaste a que se viu submetida desde que assumiu o governo: a má escolha do vice e a compra, na hora errada, da própria casa. Pediu desculpas aos gaúchos pela escolha de Paulo Feijó, dizendo haver tentado trocá-lo, mas que isso foi impossível devido à composição partidária. "Hoje, vivemos uma situação triste, de oposição feroz e ativa, que constrange a todos os gaúchos e se expande para fora do Estado. Peço desculpas por esse erro", afirmou.

Fonte: Agência Estado