Publicado 26/10/2009 11:26 | Editado 04/03/2020 17:22
Começam nesta semana semana mais três cursos de capacitação para trabalhadores rurais no estado do Tocantins. O “Programa de Capacitação em Agroextrativismo no Cerrado”, resultado de uma parceria entre a organização não-governamental Ecodata e o Ministério do Trabalho e Emprego, vai beneficiar, ao todo, famílias de 11 municípios tocantinenses. As aulas começam esta semana emMiracema do Tocantins, Palmeirante e Darcinópolis. Na semana passada, os cursos foram iniciados em Porto Nacional, Colinas do Tocantins e Babaçulândia. As capacitações contam com o apoio da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento do Estado do Tocantins, das prefeituras municipais e do Instituto Brasil-Ásia.
A atividade agroextrativista combina o extrativismo com a agricultura familiar sustentável e os cursos previstos pelo projeto vão ensinar exatamente isto aos trabalhadores: como utilizar melhor o potencial econômico das regiões de cerrado onde vivem, retirando de lá parte de seu sustento ao mesmo tempo em que conservam o ecossistema.
Resultado de uma parceria entre a Ecodata (Agência Brasileira de Meio Ambiente e Tecnologia da Informação) e o Ministério do Trabalho e Emprego, os cursos terão carga horária de 200 horas/aula, entre teóricas e práticas, ministradas para 73 turmas. O programa contará com a vasta experiência em educação ambiental e uso sustentável da biodiversidade adquirida pela ONG ao longo dos doze anos em que atua na promoção do desenvolvimento sustentável e da democratização da informação. Mais de 10 mil pessoas já foram capacitadas pela entidade.
No total, o programa de capacitação contempla, diretamente, mais de 2,5 mil famílias, que receberão treinamento em 60 municípios de quatro estados (GO, MA, MG e TO) e de uma região administrativa do Distrito Federal. Indiretamente, cerca de 20 mil pessoas serão beneficiadas.
Importância
A demanda por produtos à base de espécies nativas e de sabor exótico é crescente no mercado. Como grande parte desse comércio é baseada no extrativismo, é necessário incentivar plantios associados a bases sustentáveis para conciliar agroextrativismo e preservação ambiental. Pequi, cagaita, baru, jatobá e mangaba são alguns dos produtos que podem ser coletados do Cerrado com fins comerciais, no entanto, sem a degradação ambiental.
Estabelecer meios viáveis de coleta, beneficiamento, acondicionamento, preservação e escoamento da produção são medidas essenciais à consolidação do desenvolvimento sustentável do Cerrado. Assim, o programa vai contribuir para a conservação deste que é o maior bioma totalmente incluído em território brasileiro, cobrindo mais de 20% das terras nacionais e abrangendo dez estados na porção central do país, com mais de 12 mil espécies de plantas.
A capacitação e a qualificação previstas não contemplam apenas a transferência de conhecimentos tecnológicos ou o simples treinamento dos trabalhadores, mas abrangem uma preparação mais completa, incluindo a consciência profissional tanto do ponto de vista da subsistência quanto da expansão do negócio. Com isso, os agroextrativistas deverão estar preparados para identificar as limitações e os gargalos da atividade, avaliar os preços dos insumos, definir preços competitivos para os produtos, encontrar novos mercados, estabelecer parcerias e vislumbrar outras alternativas para competir no mercado.
Além disso, os cursos têm uma preocupação com a formação cidadã dos participantes, abordando temas como cidadania, legislações ambiental e trabalhista, ética, direitos humanos, primeiros socorros e outros assuntos que vão contribuir para a formação e consequente desenvolvimento social das famílias e regiões beneficiadas pela capacitação.
Experiências de Sucesso
Um exemplo dos benefícios que o uso sustentável do Cerrado pode trazer é o caso do baru. Esta árvore produz uma castanha muito apreciada que também serve como alimentação para gado, base para produção de cachaça, álcool (já que é rico em amido) e biodiesel.
Um pé de baru produz cerca de três quilos de castanhas por ano. Hoje, o quilo destas castanhas é vendido a R$ 40. Considerando que em um hectare de terra pode-se plantar 44 pés de baru, a renda com essa plantação será de R$ 5,3 mil por ano. O dobro das 60 sacas de soja produzidas por hectare, que custariam R$ 2,6 mil.
E as vantagens não param por aqui. O baru não precisa de adubação, de irrigação e não é atacado por pragas. E, ao contrário de outras culturas, abre espaço para outras formas de cultivo, diversificando a produção e a renda, além de não criar dependência de determinado tipo de lavoura, garantindo mais segurança aos produtores.
Os cursos de capacitação vão atuar exatamente nesse sentido, possibilitando o aumento da renda das famílias, promovendo a capacitação desses trabalhadores rurais na melhor utilização do Cerrado, além, é claro, de abordar a conservação ambiental e a preservação de espécies endêmicas, ou seja, aquelas nativas e exclusivas do Cerrado. Hoje, o bioma contabiliza mais de 12,3 mil espécies. Deste total, 44% são endêmicas.
Este é o caso de um grupo de trabalhadores agroextrativistas de Mambaí, na divisa entre Goiás e Bahia. Eles receberam capacitação da Ecodata (por meio de um programa realizado pela ONG em parceria com o Ministério da Integração Nacional) na produção e no beneficiamento de produtos do Cerrado. Segundo o ex-vereador e atual secretário de Transportes daquele Município, José Cirino, com os cursos, a qualidade da produção já é outra e as portas do mercado foram definitivamente abertas aos agricultores familiares de Mambaí, que representam mais de 60% da população total do município.
“Os cursos estão sendo a salvação para nossos trabalhadores rurais. Com a falta de chuvas, as culturas de milho e arroz não estão mais lucrativas. Agora, com a capacitação, estamos diversificando a produção e aumentado a renda da população”, afirma Cirino, que acompanha de perto a atuação da Ecodata.
Os municípios tocantinenses que serão beneficiados pelo projeto são: Aguiarnópolis, Alvorada, Araguaína, Babaçulândia, Darcinópolis, Colinas do Tocantins, Gurupi, Miracema do Tocantins, Palmeirante, Porto Nacional e Rio dos Bois.
Fonte: Conexão Tocantins