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João Franzin: a revolta dos boys que virou livro

Em 1979, portanto, há 30 anos, o Centro de São Paulo, era território privilegiado dos office-boys. Quase todos adolescentes, ruidosos, com suas pastinhas debaixo do braço, eram as vítimas preferenciais das filas quilométricas nos bancos e a clientela majoritária nos fliperamas que infestavam as galerias.

Por João Franzin*, na Agência Sindical

Na era pré-celular e quando a internet ainda incubava em algum laboratório primitivo, calcula-se que chegavam à astronômica cifra de 800 mil. Só uma das edições do Futeboys, evento esportivo criado por Carlito Maia, contou com participação de 735 empresas. A envergadura do evento pode ser medida pelo fato de que as partidas, na hora do almoço, eram transmitidas ao vivo pelo Sistema Globo (TV e Rádio).

Tudo bem. Tudo ia indo na sua rotina de correria em bancos, repartições, lanches em pé no boteco e fliperamas, até que surgiu um fato novo. E explosivo. Na hora do almoço do dia 14 de setembro de 1979, milhares de moleques passaram a quebrar bancos e destruir equipamentos públicos no Centro da cidade. A rebelião, aparentemente espontânea, deixou a PM feito barata tonta e inquietou os órgãos de repressão como o Dops. Até porque, naquela data, ainda acontecia uma forte greve de bancários, com forte concentração no Centro Velho, onde ficava o comando da praça bancária nacional.

Interessante que a revolta dos pivetes terminou como começou: espontaneamente, como naquela música de João Bosco: “depressa foi cada um pro seu lado/pensando numa mulher ou num time”. E a tarde paulistana, tirando os cacos de vidro e escombros, retomou sua rotina.

Essa história virou livro (aliás, dizia o poeta: “o mundo existe para caber num livro”). O jornalista Gilberto Lobato (o Giba, do Diário Popular) buscou esse episódio esquecido e o transformou em seu TCC na Faculdade de Sociologia e Política. A vantagem é que, em vez daqueles textos acadêmicos e chatos, o livro virou uma grande reportagem, com a reconstituição de fatos, levantamento de documentos, entrevistas com personagens e reencontro com o autor do hit Sou Boy, um ex-office-boy e hoje membro da Polícia Militar.

Exemplares do livro, que tem prefácio do jornalista e artista plástico João Martinelli, podem ser solicitados pelo telefone (11) 9112.2463 ou pelo e-mail: [email protected]

Penso que uma série de outras questões da revolta dos boys podem ser abordadas futuramente: foi mesmo espontânea aquela explosão? Teve relação com a greve dos bancários? Teve agente provocador insuflando a molecada? Não restou nenhum líder daquele episódio?

Grande Giba. Fizeste um belo trabalho!

* João Franzin é jornalista