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Professores da UnB falam da influência de Lévi-Strauss

A notícia da morte do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um dos intelectuais mais importantes do século XX, foi recebida com pesar por professores da Universidade de Brasília. “Para mim, a morte de Levi traz a sensação de como se estivéssemos em uma mudança de século”, comentou a professora Marcela Stockler Coelho, do Departamento de Antropologia da UnB.

Considerado um dos pais do Estruturalismo – teoria sobre a análise da produção de significados nas relações humanas – o estudioso que completaria 101 anos no próximo dia 28 faleceu no último sábado. A professora Marcela afirma que a obra de Lévi-Strauss foi responsável pela sua aproximação com a Antropologia.

Para a especialista, a dedicação e o sucesso do autor de Tristes Trópicos em aproximar a cultura mitológica indígena do pensamento chamado “ocidental” é o que faz do francês um clássico do pensamento do século XX. “Ele foi um dos primeiros a levar a sério o pensamento indígena e a mostrar que há verdades filosóficas no modo de vida das comunidades tradicionais”, comentou.

Lévi-Strauss explicou que em todas as culturas existem elementos estruturantes que ligam todas elas, como o modo de se fazer refeições e os mitos. E que os antônimos estão na base das culturas. Em um de seus trabalhos mais populares, O Cru e o Cozido, o filósofo descreveu como o significado das coisas pode se transformar. Nas sociedades indígenas americanas, o conhecimento é feito não de conceitos abstratos como na cultura ociedental, mas por categorias empíricas, como "cru", "cozido", "podre", "queimado", "silêncio" e "barulho". Para Lévi-Strauss, cultura é um processo dialético: tese, antítese e síntese.

Brasil 
 
O professor emérito da UnB Roque de Barros Laraia destaca a importância da vivência do antropólogo francês no Brasil, na década de 1930, para a consolidação de sua obra. “Ele chegou para ser professor da recém fundada Pontífica Universidade Católica (PUC-SP), mas já tinha em mente o projeto de conhecer as comunidades indígenas para realizar pesquisas como etnógrafo”, comentou o especialista. Roque, que escreveu uma resenha para a reedição de “Mitológica” – coleção de quatro livros de Lévi – destaca a magnitude de Lévi-Strauss para a formação do pensamento ocidental. “Minha geração se definiu como Estruturalista”.

Laraia destaca a influência de Lévi-Strauss na reflexão sobre o conceito de raça e diversidade. “Ele foi um judeu que lutou contra o nazismo durante a Segunda Guerra. Essa vivência, bem como o seu contato com as comunidades indígenas, trouxe um questionamento do conceito de que a raça humana era uma só”, observou. Discípulo de Émile Durkheim e de Marcel Mauss e interessado pela obra de Karl Marx e pela psicanálise de Sigmund Freud, Lévi-Strauss também foi um apaixonado pela música, geologia, botânica e astronomia. As causas da morte do antropólogo, já de idade avançada, não foram detalhadas.

Da Agência UnB
João Campos