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Lula: setor privado nunca ganhou tanto quanto hoje no Brasil

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times publicada nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o setor privado nunca ganhou tanto quanto hoje no Brasil. O presidente também fez um balanço de seu governo e comentou o momento econômico do país.

O jornal perguntou ao presidente sobre a interferência do Estado na economia, citando a criação da nova empresa para cuidar das reservas pré-sal e a pressão do governo sobre a Vale para que produza aço no Brasil, ao que Lula respondeu: "duvido que em algum momento da história o setor privado tenha tido tanto respeito do Estado como tem hoje, ou tenha ganhado tanto dinheiro".

"O que peço à Vale é que transforme o minério de ferro em aço no Brasil, e que eles comprem navios de estaleiros brasileiros", afirmou. Lula diz que a discussão sobre o papel do Estado na economia ficou obsoleta com a recente crise financeira, mas afirmou: "sou contra o Estado ser o gerente da economia". "O Estado tem que ser forte – mas como um catalisador do desenvolvimento. E temos mantido sólidas políticas fiscal e monetária. Foi por isso que o setor bancário não quebrou durante a crise no Brasil."

Na extensa entrevista, publicada em página inteira no jornal, Lula faz um balanço de seu governo e da situação econômica do Brasil e afirma que os avanços são irreversíveis. "Muitos analistas temem que o excesso de liquidez que está aumentando a cotação dos ativos brasileiros – a moeda se valorizou 36% frente ao dólar neste ano e os mercados de ações tiveram ganhos de 135% em termos de dólar – poderia facilmente retrair caso a crise global entre em um segundo estágio", diz o Financial Times, citando que o aumento dos gastos com políticas de bem estar social e na folha de pagamento do setor público também poderiam se tornar uma bomba relógio fiscal no Brasil.

"Mas Lula usa sua própria história pessoal como prova de que o Brasil passou por mudanças irreversíveis", diz o jornal. O presidente disse ao Financial Times que durante os 12 anos em que foi candidato sem vencer as eleições, amadureceu. "E eu era o único que não podia fracassar. Eu não podia fazer o que (Lech) Walesa fez na Polônia (num mandato tão pouco impressionante que ele não foi reeleito), ou nenhum trabalhador jamais poderia ser eleito presidente de novo", disse Lula.

Copa do Mundo

Entre ser eleito e tomar posse, Lula lembra que escreveu uma carta ao povo brasileiro — que na verdade era direcionada ao mercado financeiro — afirmando que iria honrar todos os contratos e evitar uma “aventura”. Segundo o jornal, seu governo manteve as políticas econômicas em vigor, e muitos que estavam preocupados com uma virada para a esquerda, quando ele assumiu, simplesmente "não entenderam o que se passava".

Lula conta que "estava trabalhando obsessivamente sob a convicção de que não podia cometer nenhum erro". O Financial Times lembra que apenas uma década atrás o Brasil teve que desvalorizar o real e pedir ajuda ao FMI em consequência das crises financeiras da Ásia e Rússia. "Mas hoje, as mesas viraram", afirma.

Citando o crescimento econômico, a estabilidade, o sucesso de programas como o Bolsa Família e o fato de o Brasil ter sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014 e o Rio de Janeiro ter sido eleito para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o Financial Times afirma que muitos no Brasil parecem acreditar que, finalmente, sua hora chegou.

Política internacional

O jornal ainda comenta a mudança na política internacional do país, afirmando que o governo Lula parou de focar apenas nos parceiros comerciais e aliados tradicionais, como Estados Unidos e União Europeia, a favor da diversificação e estabelecendo laços com outras partes do mundo, como a Ásia, o Oriente Médio e a África, lembrando que a China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil.

Lula disse que está confiante que a economia brasileira crescerá 5% em 2010 e espera que as reservas internacionais cheguem a US$ 300 bilhões em breve. O jornal, sem publicar a declaração exata do presidente sobre sua expectativa para o crescimento da economia brasileiro em 2010, disse que Lula estava confiante que a economia crescerá 5% no ano que vem.

"Há não muito tempo eu costumava sonhar em acumular US$ 100 bilhões em reservas", disse o presidente, de acordo com o jornal. "Em breve teremos US$ 300 bilhões", completou. Em outubro as reservas brasileiras atingiram recorde de US$ 231,589 bilhões, segundo o Banco Central. "Fomos um dos últimos países a entrar na crise global e fomos um dos primeiros a sair", disse ele ao Financial Times.