O PMDB num eventual governo pós Lula 

Desde a redemocratização, em 1985, que o PMDB tem papel relevante na condução do governo federal. Chegou ao poder com Sarney, em 1985, via Colégio Eleitoral, após a morte de Tancredo Neves. No governo seguinte, de Fernando Collor, assumiu a presidência da República, com Itamar Franco, após o impeachment. Nos anos seguintes, na era Fernando Henrique Cardoso, 1995-2003, o PMDB foi coadjuvante do neoliberalismo, embora seguimentos internos manifestassem divergências com parte dessas medidas.

Com a eleição de Lula, em 2002, o PMDB buscou formas de se aproximar do governo, uma parte da legenda passou a ocupar ministérios, na Câmara e no Senado o partido se dividia em cada votação buscando uma unidade interna difícil, hora fazendo o jogo com Lula, hora compondo com a oposição liderada pelo PSDB e PFL(Dem).

Ao centro do poder federal Com a crise do mensalão em 2005 e a reeleição de Lula, o partido voltou ao centro do jogo político. Fortalecido com o resultado eleitoral buscou ampliar seus espaços no segundo governo de Lula.

Em 2007, Lula desloca PCdoB e PSB de sua aliança principal e adota o PMDB como parceiro central na condução de seu segundo mandato Saiu de dois para seis Ministérios, conquistou as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e colocou uma tropa de combate para pressionar o governo em cada MP, em cada votação, para que atendesse aos interesses das bancadas regionais, estaduais e de lideranças. Conseguiu resultados importantes.

Pelo andar da carruagem o PMDB deve indicar o vice na chapa de Dilma e o PSB e o PCdoB vão ficar de coadjuvantes nessa jornada. Pelos estados o PMDB também vai vender caro esse acordo. RS, BA, GO, RJ são estados onde o PMDB deve ter candidaturas próprias. Em São Paulo, o PMDB de Quércia vai de Serra/Cassab/Alkmin. De São Paulo também se articula o grupo de Michel Temmer, presidente da Câmara dos Deputados, para ver se emplaca como vice de Dilma Roussef.

Mas, o fundamental desse jogo está em 2011. O PMDB pode fazer novamente a maior bancada da Câmara dos Deputados, prosseguir com a maior bancada no Senado e compor na vice de uma possível presidente que não terá a força, o carisma, a capacidade de articulação, a experiência e o prestígio de Lula. Aí o PMDB pode deitar e rolar. O preço político desse apoio e de seu papel ainda mais decisivo será muito, mas muito maior.

É claro que o PT precisa do PMDB, mas se não compensar esse super poder que o PMDB está acumulando, com a composição de uma articulação maior à esquerda, terá dificuldades de manobrar na condução de um eventual governo de Dilma Roussef. Estabilidade e contenção O PMDB, ao mesmo tempo que pode ser fator de estabilidade, será fator de contenção.

É mesmo contraditório. O governo ganhará em consistência, mas perderá contundência. É importante um PMDB forte e aliado com a esquerda. O problema está no eventual enfraquecimento do núcleo de esquerda feito por Lula e pela direção petista na condução do segundo mandato presidencial.

No segundo governo Lula o PAC serviu de conteúdo mais determinante para os avanços, mas politicamente o governo ficou mais contido pelo perfil das alianças e o desenrolar do jogo político e parlamentar. Essas dificuldades serão visíveis na condução das políticas públicas, no jogo com os governadores, nas votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Aliás, o Senado, em 2011, pode permanecer como foco central de crises e tentativas de desestabilização.

Ali está o conservadorismo mais arraigado da política nacional e foco principal das articulações direitosas da oposição demo-tucana. Para fortalecer um governo com o perfil de Dilma Roussef, avançar além dos limites impostos pelas circunstâncias nos dois governos de Lula, ter condições de implementar uma Nova Política Nacional de Desenvolvimento com conteúdo mais democrático e popular e avançar em mudanças mais progressistas para o país, será necessário refazer o núcleo do governo. Isso não significa deslocar o PMDB, ao contrário, significa recompor o papel do núcleo de esquerda do período 2003-2006 e ampliar sua presença no governo.

Recompor o papel do núcleo de esquerda

Mas, esse repensar do núcleo de governo implica uma plataforma política mais nítida, mais ousada e uma base de apoio político, parlamentar e social que sustente esse projeto. O PMDB e outros partidos da base devem ser valorizados na composição do governo.

No entanto, é necessário o fortalecimento dos partidos de esquerda nas eleições de 2010 e em particular do PCdoB. Nesse sentido, o PCdoB precisa ter mais relevância. E isso não será possível sem um avanço significativo da representação parlamentar do Partido.

Eleger uma bancada com mais de 20 deputados federais, ampliar sua representação no Senado, ocupar alguns postos nas composições majoritárias para os governos estaduais e ampliar a bancada de deputados estaduais e distrital será decisivo para impulsionar o Partido a um novo patamar.

Apolinário Rebelo é Jornalista, escritor, diretor de esporte estudantil do Ministério do Esporte e vice-presidente do PCdoB/DF.